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Documentário de jornalista francesa sobre Machado de Assis conta história do escritor negro em um país racista

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Durante séculos Machado de Assis, descendente de africanos escravizados, foi retratado como uma pessoa branca. Um documentário da jornalista e cineasta francesa Marlène Haberard conta a história de um dos maiores escritores negros de todos os tempos, em um Brasil racista, e como sua obra continua a encantar as novas gerações.   

O jovem Machado aos 25 anos, 1864
O jovem Machado aos 25 anos, 1864 © Wikimedia Commons
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A história de Machado de Assis parece ter saído de um romance do escritor realista francês Honoré de Balzac. Nascido no Rio de Janeiro de um pai descendente de africanos escravizados e de uma mãe portuguesa, o escritor conseguiu ascender socialmente e foi um dos mais importantes cronistas da vida do Rio de Janeiro no século XIX.

A história do escritor, mas também a atualidade de sua obra, chamou a atenção da jornalista e cineasta francesa Marléne Haberard, que realizou o documentário Machado de Assis, génie métisse dans un pays raciste (Machado de Assis, gênio mestiço em um país racista) para o programa Invitation au voyage (Convite para viajar), do canal de televisão europeu Arte.

A jornalista e cineasta Marlène Haberard
A jornalista e cineasta Marlène Haberard © Captura de tela

Haberard trabalhou no Brasil como correspondente para a France 24 durante três anos. Ela conta que quando chegou ao país, não conhecia Machado de Assis. “Eu morava perto do Largo do Machado, no Rio de Janeiro, sem saber quem ele era. Quando eu pesquisei, percebi que todos os meus amigos brasileiros da minha idade o adoravam”, conta.

Novas gerações

O interesse dos jovens pelo escritor surpreendeu a jornalista. “Para mim, foi uma surpresa porque, na França, as pessoas gostam de Balzac, de Zola, mas parece que não tem esse amor, essa febre por um autor do final do século XIX na França, como os jovens têm em relação a Machado de Assis”, diz.

A temática do programa Ivitation au voyage é mostrar artistas e entender como um lugar, um bairro ou um ambiente os influenciou. “Como eu morei no Brasil, já conhecia alguns grandes nomes da literatura”, explica. “Com meus chefes na redação a gente pensou que nunca tínhamos falado de Machado de Assis e tínhamos que fazer, porque realmente ele é muito conhecido no Brasil, mas ainda não bastante aqui na Europa. Então, a gente queria realmente mostrar todo o gênio desse escritor”, conta Haberard, que lamenta que Machado de Assis não tenha sido suficentemente traduzido na França.

Para o documentário, Marlene entrevistou professores e pesquisadores especialistas da obra machadiana, como Marta da Senna e Marcelo Diego. “Eu demorei muito para realmente entender e captar o gênio deste autor e da época dele. E como estrangeira, branca eu acho ainda mais difícil.”

Racismo

O tema do racismo é central no documentário que mostra, em apenas 15 minutos, como a ascensão social do escritor é marcada por um “embranquecimento” de sua pele. Uma história e uma obra que talvez possam ajudar os europeus a entender o Brasil.  

“Para mim, o que o Machado fala em seus livros e em (Memórias póstumas de) Brás Cubas, reflete os problemas do Brasil de hoje em dia: um país muito racista, com muitas diferenças de salários, de modos de vida, que os extremos são ainda muito fortes. Para mim, Brás Cubas é uma maneira de perceber todas as sutilezas do povo brasileiro, essa vontade de subir na escala social, o que é muito difícil”, diz.

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