“A situação do Brasil é um exemplo da incerteza da democracia”, analisa Alain Rouquié
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Alain Rouquié é um dos mais reconhecidos especialistas da América Latina na França. Em um novo livro, “L’Appel des Amériques” (O apelo das Américas, em tradução literal) ele faz um relato dos mais de 50 anos de suas pesquisas sobre a região. “A situação atual do Brasil é um exemplo da incerteza da democracia”, diz o cientista político e diplomata.
Alain Rouquié, de 82 anos, começou a se interessar pela América Latina em meados dos anos 1960. O atual presidente da Casa da América latina de Paris foi embaixador da França em El Salvador, México e Brasil e tem mais de 20 de livros sobre o subcontinente, entre eles o Brasil do século 21, publicado em 2006.
No “L’Appel des Amériques”, publicado pela editora Seuil, ele tenta responder a uma pergunta que sempre lhe fazem: Por que e como escolheu dedicar toda a atividade profissional, como cientista político e embaixador, à região que chama de extremo ocidente? Mas ele ressalta que não fez uma autobiografia.
“Não é um livro de memórias. Não gosto de contar a minha vida porque não é interessante. É um relato de aprendizagem”, diz. “Muito cedo, descobri que as sociedades que me atraíam não eram as sociedades fechadas, homogêneas. Ao contrário! Eram os mundos plurais, com coexistência cultural e étnica, como na América Latina", conta.
A região continua sendo objeto das reflexões de Alain Rouquié que faz, na segunda parte do livro, um balanço da situação atual. A democracia e seu oposto, a ditadura militar, e o desenvolvimento são questões centrais na região e no trabalho do cientista político latino-americanista. Desde sua primeira viagem à Argentina, nos anos 60 quando vários golpes de estado ocorreram, ele viu que “o papel dos militares era muito importante” e se dedicou a estudar “por que eles intervinham”.
Democracia faz parte da cultura política latino-americana
Na américa Latina, “havia democracia antes de ter povo”, aponta Rouquié, lembrando do processo de independência dos vários países da região. “A democracia faz parte da cultura política latino-americana. Até os ditadores falam de democracia, de melhorar, de aperfeiçoar a democracia”, salienta.
“Mas a democracia é uma coisa muito complicada, sobretudo para os que pensam que têm o direito de ser dirigentes. A democracia é uma incerteza. Uma eleição séria, sem resultado incerto, não é democrática. Isso significa uma grande fragilidade”, afirma.
Para Rouquié, outro fator que fragiliza a democracia no subcontinente é a desigualdade.
“A América Latina é uma das regiões mais desiguais do mundo, e o crescimento das desigualdades vai contra a estabilidade democrática. Isso eu aprendi na América Latina”, diz, ressaltando, no entanto, que "a democracia está retrocedendo no mundo inteiro”.
Brasil
Alain Rouquié conhece muito bem o Brasil, onde foi embaixador de 2000 a 2003. O país é tema de um de seus livros: “O Brasil no século 21”, publicado pela editora Fayard em 2006. Segundo ele, a situação brasileira hoje “é um exemplo da incerteza da democracia, da incerteza que é a base do sistema eleitoral”.
“O que aconteceu no Brasil foi uma cruzada contra o PT porque o PT podia ganhar outra vez” resume o presidente da Casa da América Latina, analisando que o sistema eleitoral brasileiro, que não admite partidos majoritários e favorece a corrupção, também fragiliza a democracia no país.
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