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Betty Milan publica livro sobre Lacan 40 anos após a morte do psicanalista francês

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A psicanalista e escritora Betty Milan, em seu último livro “Pourquoi Lacan” (Editora Érès), volta à Paris dos movimentados anos 1970, quando realizou uma análise com o grande psicanalista francês Jaques Lacan. Um encontro que mudou a vida da autora de maneira definitiva.

Betty Milan  -  Psicanalista e escritora
Betty Milan - Psicanalista e escritora © RFI
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Durante os quatro anos em que frequentou o número 5 da rue de Lille, endereço do célebre psicanalista, Milan colecionou histórias que mostram, a partir de sua própria experiência como analisanda, a enorme capacidade de escuta do psicanalista e sua empatia.

“Ele realmente queria que a análise acontecesse”, diz. “Graças ao desejo do analista de que a análise se fizesse, graças à empatia, ela se fazia de maneira muito eficaz, surpreendente, às vezes assustadora. O Lacan se valia de recursos teatrais”, conta.

O “doutor”, como Milan chamava o célebre psicanalista que revolucionou o método psicanalítico dando a ele o olhar do campo da linguística, morreu em 9 de setembro de 1981. Milan diz que decidiu voltar ao tema 40 anos após a morte de Lacan porque, na época, não tinha a distância suficiente para escrever o testemunho. “A transferência em relação ao Lacan era muito grande.”

História

Na obra, lançada no Brasil em junho com o título Lacan ainda, os aspectos mais polêmicos do método do psicanalista são defendidos em primeira pessoa.

“Nesse livro, eu conto a história da análise e, portanto, a minha história também, mas tendo em vista a maneira como Lacan trabalhava. Porque essa maneira era muito polêmica e nunca deixou de ser”, explica. “Porque havia uma regra da Associação Internacional de psicanálise, a sessão analítica devia durar 45 minutos. E o Lacan, em um determinado momento da prática dele, não aceitou mais essa regra e passou a fazer sessões com duração variável, às vezes muito curtas”, esse corte, segundo a autora levou o psicanalista a ser criticado. “Houve quem pensasse que ele fazia isso por razões mercantis”. “Ele se deu conta que o importante não era o tempo do relógio, mas o tempo do momento oportuno. Então, quando o analisando havia dito o que era importante, ele cortava a sessão. E o analisando prosseguia sua análise depois da sessão". 

Ela explica que para Lacan o papel do analisando era fundamental. “Cabia a ele interpretar o corte. Ele também fazia análise.”

Além dos conceitos ligados ao tempo que diferenciavam a prática de Lacan, a autora também descreve no livro de maneira simples, através de suas sessões, conceitos desenvolvidos por Lacan. “Ele introduziu na teoria a noção de resistência do analista, porque antes dele só se falava da resistência do paciente”, que impedia o processo de acontecer. “Ele também introduziu a noção do desejo do analista. São noções relativamente simples, mas extremamente úteis”.

São Paulo e Paris

O livro também conta a história de uma paulistana em Paris. No trabalho da autora, que nasceu em São Paulo, as duas cidades tomam forma de personagens, que definem suas visões da vida e de seus ancestrais.

De sua chegada em Paris ela guarda a imagem de uma cidade preocupada com a preservação da memória. “São Paulo é uma cidade sem memória”, diz. “Paris tem esse aspecto maravilhoso da preservação do passado. Foi o que mais me surpreendeu quando eu cheguei aqui, essa relação com a memória. Porque preservar a memória é, de certa forma, se eternizar através do outro,” diz. “Eu me sinto mais humana em Paris do que eu me sinto em São Paulo.”

O livro Pourquoi Lacan será lançado na terça-feira (14) na livraria Le divan, em Paris.

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