Podcast conta os perrengues de ser brasileira no exterior: “carregamos o fardo da hipersexualização”

Um espaço de conversa de mulheres feministas e migrantes pelo mundo. É assim que se define o podcast Femigrantes BR, fundado e apresentado pela especialista em relações internacionais Lilian Moreira. O programa reúne experiências de brasileiras que migraram para diferentes locais do mundo e enfrentam no cotidiano as dores e delícias de ser estrangeira.

Podcast Femigrantes Br, feito por Lilian Moreira, Glauco Salmazio, Gabriela de Carvalho e Patrícia Kunyasi © Divulgação

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Carioca de Madureira e moradora de Paris desde 2014, Lilian conta que o podcast surgiu da troca de experiências com outras estrangeiras e da percepção de como ser mulher e ser migrante às expunham a vivências muito específicas, que precisavam ser discutidas.

“São questões que correspondiam à situação de muitas mulheres, de classes sociais mais abastadas e menos abastadas que as minhas, de outras raças, de outros grupos sociais. Era interessante trazer essas experiências e traçar paralelos entre o que passa na cabeça e no cotidiano de todas nós”, diz a criadora do Femigrantes BR.

Entre os temas, os choques culturais, a maternidade, a vivência de quem vai atrás de suas raízes, mas também a de mulheres negras em países racistas e as dificuldades do mercado de trabalho para a estrangeira.

Hipersexualização da brasileira

No entanto, Lilian destaca a hipersexualização como particularidade da experiência da mulher brasileira pelo mundo.

“Nós, brasileiras, temos um fardo que carregamos mundo afora que é a hipersexualização que sofremos, por todo um histórico de colonização, de uma visão mesmo sobre as mulheres. Nós fomos comercializadas como produto mundo afora por todo o mundo e também como produto turístico”, destaca ela, que troca experiências no podcast como brasileiras na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Alemanha e no Japão, entre tantos outros países.

Para ela, esse é um fator central na experiência das mulheres que saem do Brasil, podendo ter agravantes para mulheres com certas características físicas, mas com uma dimensão diferente da experiência de mulheres de outras nacionalidades.

Já a experiência de outras mulheres estrangeiras na França, especificamente, é assunto de outro podcast que ela apresenta em francês ao lado da italiana Bousso.

Para quem pretende tomar o caminho do aeroporto ou dá os primeiros passos na migração, Lilian Moreira destaca a importância de estar aberta e de se esforçar para criar novas redes: “seja participando de associações, de grupos de debate”, tudo vale para ter uma rede de apoio para os perrengues da vida de migrante.