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Profeta da 'incerteza', Edgar Morin tem centenário celebrado por educadores no Brasil

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No próximo dia 8 de julho, um dos maiores pensadores contemporâneos, o sociólogo e filósofo francês Edgar Morin vai completar 100 anos. Um centenário celebrado no Brasil por intelectuais e educadores. A RFI conversou com Nuricel Vilallonga Aguilera, diretora do Instituto Alpha Lumen (IAL), ONG brasileira que está organizando uma série de eventos em homenagem a Morin.

Prévia da capa da revista do Instituto Alpha Lumen em homenagem ao centenário de Edgar Morin.
Prévia da capa da revista do Instituto Alpha Lumen em homenagem ao centenário de Edgar Morin. © Divulgação
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Exposições, webinário e uma revista com oito páginas dedicadas ao pensador francês, são algumas das atividades dessa ONG sem fins lucrativos, com sede em São José dos Campos, que mantém há alguns anos uma relação estreita com Edgar Morin e já contou com a participação virtual dele no seu encontro internacional de educadores e estudantes, promovido em dezembro passado.

“Educar os educadores”

O interesse do IAL por Morin é o reflexo de um grande entusiasmo no Brasil pela obra e pela vida desse pensador. Quase todas as suas obras já foram publicadas no país e seu livro “Introdução ao pensamento complexo” é um verdadeiro “mantra” no setor da pedagogia e da educação, que adere aos seus preceitos de interdisciplinaridade e humanismo no ensino. Como gosta de repetir Morin: “É preciso educar os educadores”.

Física, formada pela Universidade de São Paulo (USP), astrônoma e mestranda em Tecnologias da Inteligência Digital, Nuricel trabalha com educação e pesquisa há 48 anos e é uma das fundadoras da ONG Instituto Alpha Lumen, cuja metodologia de ensino é baseada na Teoria da Complexidade de Morin.

Ela explica por que a obra do sociólogo e filósofo francês é tão apreciada no Brasil e na América Latina. “O pensamento de Edgar Morin é extramente orgânico. Ele abandona a linearidade e ele inclui todas as dimensões humanas dentro da lógica e da estrutura de pensamento dele. A emoção, é levada em conta como parte importante da construção humana e no Brasil e na América Latina essa dimensão emocional, essa dimensão híperpessoal, tem muita relação com a forma de ser dessa população”.  

Legenda: Nuricel Vilallonga Aguilera, diretora da ONG Alpha Lumen na exposição em homenagem a Morin na Galeria a Céu Aberto.
Legenda: Nuricel Vilallonga Aguilera, diretora da ONG Alpha Lumen na exposição em homenagem a Morin na Galeria a Céu Aberto. © DR

Morin defende um modelo de ensino interconectado e critica a hiperespecialização. Segundo ele, somente com essa mudança de paradigma no ensino, as pessoas serão capazes de enfrentar os problemas globais da humanidade, cada vez mais complexos e interconectados.

O objetivo do Instituto Alpha Lumen é disseminar o conhecimento e a metodologia do filósofo para o maior número de educadores de escolas e “fomentar essa transformação tão necessária à educação”, afirma Nuricel.

“Lições de um século de vida”

Nascido em 1921 em Paris, Edgar Morin testemunhou as grandes transformações do século 20. Engajado na resistência contra os nazistas durante a segunda guerra mundial, ex-comunista, ele foi um dos primeiros intelectuais dissidentes do stalinismo.

A “autocrítica”, título aliás de um dos seus livros, o acompanhou em toda a sua movimentada trajetória no século passado. Defensor da “reforma do pensamento”, Morin, hoje centenário, diz em seu último livro "Lições de um século de vida” rejeitar as lógicas sectárias, mas afirma “ter se convertido à autonomia política total”.

Segundo ele, “Viver é navegar em um mundo de incertezas através de ilhotas e arquipélagos de certezas onde nos abastecemos”. Seguindo esses preceitos, Nuricel do IAL acredita ser muito importante preparar os jovens para as incertezas e imprevistos.

Com independência e audácia, Edgar Morin segue as novas tendências do século 21.  Aos 100 anos, tuiteiro compulsivo, ele acompanha e opina sobre política, filosofia ou ecologia. “Profeta dos tempos futuros", o pensador centenário afirma que o coronavírus é um bom exemplo de que o imprevisto e a incerteza continuam sendo elementos incontornáveis da condição humana.  

“Edgar Morin é mais contemporâneo do que nunca, afirma Nuricel, concluindo: “O coronavírus serve para tirar um pouco da arrogância humana de que nós temos o controle sobre tudo. E nós não temos. Morin, brilhantemente, professa que é necessário preparar jovens e estudantes para a realidade que é incerta, imprevisível. E é assim que você os prepara para a vida”.

Às vésperas de seu aniversário, Morin diz que não tem medo da morte e com humor deixa um conselho para os seus seguidores: “Evite de festejar os 100 anos. Passe direto para 101 anos”.

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