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"Adoção de trabalho autônomo em Cuba é decorrência da situação global”, diz especialista Hélio Doyle

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O governo cubano anunciou reformas econômicas no início do ano, autorizando o trabalho privado na maioria dos setores. Áreas estratégicas como ensino, saúde e exército continuam sob controle do governo socialista. “É uma decorrência natural da situação global”, explica o jornalista Hélio Doyle, ex-professor da Universidade de Brasilia (Unb), onde fundou o núcleo de estudos cubanos.

"Cuba não tem mais condições de absorver toda a mão de obra do país", diz o especialista Hélio Doyle.
"Cuba não tem mais condições de absorver toda a mão de obra do país", diz o especialista Hélio Doyle. © arquivo pessoal
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“Isso vem sendo feito desde a extinção da União Soviética, quando Cuba perdeu o contrapeso que tinha em relação ao bloqueio econômico dos Estados Unidos, como participante do mercado comum, digamos socialista, o antigo Comecon (Conselho para Assistência Econômica Mútua)”, explica Doyle.

“Cuba tinha diversas vantagens e benefícios, que até certo ponto minimizavam os efeitos financeiros e econômicos que o embargo americano causa no país até hoje. Foi preciso reorganizar a produção, o trabalho. Para alguns, o processo tem sido gradual, para outros, lento”, diz o especialista.

Doyle lembra também que o governo cubano, acuado com a intensificação das sanções do governo Trump, adotaram outra medida muito importante, que foi a unificação monetária, pois o país vivia com duas economias paralelas, com duas moedas – uma conversível e outra de uso interno.

Cuba não tem mais condição de absorver mão de obra

Em relação ao trabalho por conta própria, Doyle explica que o Estado cubano não tem mais condições de absorver toda a mão de obra disponível. “No tempo da União Soviética era possível manter o pleno emprego em Cuba só com o setor estatal. Mas os tempos mudaram e esse sistema é improdutivo”, diz.

A abertura para o trabalho autônomo começou aos poucos, com o setor hoteleiro, pousadas e restaurantes, os chamados paladares. Depois vieram os serviços como eletricista, encanador, e agora o leque de atividades que podem ter essa característica aumentou consideravelmente. “Isso não resolve automaticamente os problemas, mas é um avanço”, observa.

Doyle lembra que num sistema socialista, os bens de consumo pertencem ao Estado. “Isso é inerente ao socialismo, Cuba não está mudando isso, mesmo aceitando capital estrangeiro participando de estatais cubanas, e mantendo sob controle esse trabalho autônomo”.

Em Cuba, setores como educação e saúde são considerados essencialmente estatais e públicos. “Tudo é gratuito, da creche ao pós-doutorado, do curativo até o transplante de rim”, explica o especialista. 

A adoção do trabalho por conta própria é também uma medida para diminuir as diferenças econômicas que vinham surgindo por conta da moeda dupla, segundo o jornalista. Doyle dá o exemplo de um médico e um carregador de malas num hotel. Ambos ganham o salário em peso cubano, mas o carregador podia acabar recebendo muito mais por conta das gorjetas em moeda conversível, causando disparidade.

Interesses em jogo vão definir política de Biden 

A respeito do que pode mudar com a chegada de Joe Biden ao poder nos Estados Unidos, Doyle diz que sua política em relação a Cuba ainda não está clara. “Temos visto movimentação de congressistas democratas para que sanções e bloqueios sejam eliminados ou reduzidos, o que vai depender do Congresso”. Apesar da maioria democrata na Câmara dos Deputados e no Senado, há muitos interesses em jogo, explica Doyle, além de posturas ideológicas representadas pelos exilados cubanos de diversas gerações, inclinados à direita.  

“Acho que se houver pragmatismo e inteligência dos Estados Unidos sob Biden, haverá uma abertura em relação a Cuba”, avalia Hélio Doyle.

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