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Rendez-vous cultural

Impressionismo comemora 150 anos com exposições por toda a França

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O Impressionismo surgiu em 1874, a partir de um salão alternativo de um grupo de artistas que propunham uma nova estética, diferente do classicismo em voga durante tantos séculos. Desse movimento surgiram nomes que marcaram a história da arte, com nomes como Degas, Manet, Pissarro e Monet. No Brasil, o Impressionismo só chegou no início do século 20.

Entrada da exposição sobre Impressionismo, no museu d'Orsay, em Paris (9/4/24).
Entrada da exposição sobre Impressionismo, no museu d'Orsay, em Paris (9/4/24). © Patricia Moribe
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Patrícia Moribe, da RFI

Uma nova paleta de cores tendendo para seja para o pastel ou tons mais vibrantes, detalhes desfocados e o cavalete que sai dos estúdios para se plantar no meio da natureza são algumas das características do Impressionismo.

No dia 15 de abril de 1874, um grupo de artistas abriu um espaço de exibição alternativo ao chamado Salão de Paris, evento de prestígio, mas cujas regras de seleção eram cada vez mais questionadas. O termo levou algum tempo para pegar, mas o Impressionismo acabou se firmando como um importante corrente artística.

Para lembrar a data, museus por toda a França dedicam exposições especiais dedicadas ao movimento. Em Paris, o museu d’Orsay traz “Paris 1874. Inventando o Impressionismo”, com cronologia minuciosa e 130 obras.

As exposições relativas ao Impressionismo também acontecem em Nice, Nantes, Montpelliere muitas outras cidades francesas.

"O que há de novo no Impressionismo é a atenção dada à impressão, à sensação, à subjetividade do artista”, explicou a curadora Sylvie Patry, do museu d’Orsay à jornalista Carmen Lunsmann, da RFI . “O que importa agora é menos a preocupação de imitar a realidade, mas de captar um momento e de transmitir a sensação que o artista teve esse momento.”

Traduzir uma sensação, um momento

“Dessa vontade de traduzir uma impressão, uma sensação, um momento, surge um certo número de protocolos estéticos, e, em particular, a ideia de que a pintura deve dar a impressão de que foi feita no momento, no local.  Portanto, é uma execução muito rápida. O artista não se preocupa mais com detalhes, às vezes pinta ao ar livre. Os impressionistas, na verdade, saem do ateliê. Ele decide abraçar o mundo como ele é ao seu redor e transmitir a impressão que o mundo lhes dá”, acrescenta Patry.

Essas mudanças na linguagem visual também derivam da conjuntura da época. Revolução industrial, crescente urbanização, guerras e transições políticas marcam o período. “É o começo de uma era moderna, de muito movimento, em meio a mudanças. E a questão que se coloca aos artistas é precisamente como se posicionar em um mundo em plena mutação”, diz a curadora.

O termo “Impressionismo” surge a partir de um jornalista que quis ser irônico diante de obras que ele não compreendia. Ele escreve uma crítica com o título "A exposição dos impressionistas", a partir de uma pintura de Monet, chamada "Impressão Nascer do Sol".

"Impressão Nascer do Sol", tela de Monet, deu o nome ao movimento Impressionismo.
"Impressão Nascer do Sol", tela de Monet, deu o nome ao movimento Impressionismo. © Musée Marmottan Monet / Studio Christian Baraja SLB

“A pintura foi feita na parte comercial do porto do Havre. É um tema moderno, vemos guindastes, chaminés fumegando ao longe”, explica a curadora. “Quando pediram a Monet o título da pintura para inclui-la no catálogo da exposição de 1874, Monet disse que não era bem uma vista do Havre, pois mal se reconhece o porto. Era a impressão dele, o sentimento que teve diante da paisagem. A arte na época era feita a partir da composição, do desenho. Mas é uma paródia, sabemos que o quadro foi feito em várias sessões, então o importante é fazer com que pareça uma impressão”.

O termo Impressionismo só foi usado oficialmente na terceira exposição do grupo, em 1887.

Casal observa quadro em exposição sobre Impressionismo, no museu d'Orsay, em Paris (09/04/24).
Casal observa quadro em exposição sobre Impressionismo, no museu d'Orsay, em Paris (09/04/24). © Patrícia Moribe

Impressionismo no Brasil

O impressionismo ao Brasil começou mais tarde, primeiro através de notícias publicadas em jornais, com relatos de quem tinha visto as obras, como conta a pesquisadora Ana Maria Tavares Cavalcanti, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela cita o escritor português Ramalho Ortigão, que viu a exposição em Paris e escreveu a respeito para um jornal do Rio.

“Já vai ser no século 20 que surgem obras de brasileiros que podem ser classificadas como impressionistas”, conta a pesquisadora. Entre os principais representantes, ela cita Eliseu Visconti, nascido na Itália, mas que cresceu no Brasil e estudou na França.

“A primeira pessoa que se afirma como impressionista no Brasil é Georgina de Albuquerque, paulista, discípula de Visconti”, acrescenta Cavalcanti, explicando que para a maioria dos artistas o impressionismo foi uma fase de experimentação. Ela cita ainda os irmãos Artur e Joao Timóteo da Costa, pintores negros do Rio de Janeiro que usaram os códigos impressionistas em muitas telas.

Leveza e identificação

Ana Maria Tavares Cavalcanti acredita que a atração que existe até hoje pelo impressionismo está na leveza das pinturas e de temas agradáveis, fáceis de serem identificados. “A gente gosta de ver essas cenas e hoje em dia nosso olhar já está tranquilo, pois na época as manchas e pinceladas geravam risos”, conta.

A pesquisadora faz ainda um contraponto com a fotografia, que também nascia na época. “Quando a pintura impressionista começa a se difundir, surge uma reação ao medo de perder espaço para a fotografia”, daí as cores mais vibrantes, a marca de gestos nas pinceladas. Ela cita como exemplo o trabalho de Monet, que pintou a catedral de Rouen em vários horários e situações meteorológicas, sempre com pinceladas muito pessoais.

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