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Rendez-vous cultural

Exposição em Paris retraça últimos meses de Van Gogh em 'vilarejo dos impressionistas'

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Com uma coleção excepcional de pinturas, desenhos e cartas, o Museu d'Orsay em Paris convida o público a reviver os últimos 70 dias de Vincent Van Gogh em Auvers-sur-Oise, o vilarejo francês amado pelos impressionistas – um lugar onde Van Gogh, sofrendo de problemas mentais, explorou uma expressividade criativa sem paralelo na história da arte e onde morreu, após atirar contra si mesmo durante um episódio depressivo em 1890. 

Um visitante tira uma foto do quadro "A Noite Estrelada", do pintor pós-impressionista holandês Vincent van Gogh, em exposição no Museu Orsay, em Paris, em 30 de agosto de 2023.
Um visitante tira uma foto do quadro "A Noite Estrelada", do pintor pós-impressionista holandês Vincent van Gogh, em exposição no Museu Orsay, em Paris, em 30 de agosto de 2023. AFP - MIGUEL MEDINA
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Paisagens campestres, casas de vilarejo [as chamadas chaumières, construções típicas do norte da França], naturezas-mortas e alguns retratos. O Museu d'Orsay traz 74 pinturas e 33 desenhos, além de cartas e objetos pessoais, como um caderno de esboços, que teletransportam o público aos últimos 70 dias de Vincent Van Gogh, durante sua última estadia em Auvers-sur-Oise, um dos locais franceses mais populares entre os impressionistas, no norte do país.

Foi lá que Van Gogh morreu em 29 de julho de 1890, dois dias depois de atirar no próprio peito com um revólver. Até o fim, o artista holandês pintou, pesquisou, experimentou e explorou novos formatos e novas cores, com a expressividade criativa que acompanhava seu sofrimento mental. É a primeira vez que uma exposição se concentra nos últimos dois meses da vida do pintor, revelando toda a diversidade e riqueza deste curto período.

Depois do Museu Van Gogh em Amsterdã, a mostra está agora em Paris: "Van Gogh à Auvers-sur-Oise, les derniers mois" ("Van Gogh em Auvers-sur-Oise, os últimos meses") abriu as portas no dia 3 de outubro e pode ser vista no Museu d'Orsay até o dia 4 de fevereiro de 2024.

Emmanuel Coquery, curador-geral de Patrimônio do museu e um dos curadores da exposição fala sobre o quadro que recebe os visitantes no início da mostra, um dos mais conhecidos de Van Gogh, um autorretrato pintado em 1889, no período em que morava em Saint-Remy de Provence. O pintor, com sua barba e cabelos ruivos, olha para a esquerda com olhos penetrantes que imediatamente nos colocam frente a frente com o destino do pintor. Qual seria o estado de espírito do artista ao se pintar dessa forma? 

"Ele convalescia de uma doença. Trata-se de um autorretrato. É um quadro que faz parte de uma série de quatro autorretratos, na verdade seus quatro últimos, uma vez que ele não se pintou em Auvers-sur-Oise, e são trabalhos que acontecem durante uma grave crise do artista que durou seis semanas e que o deixou completamente inconsciente", explica Coquery. "Ele ficou inativo devido a suas crises psicóticas nesse período. É preciso dizer que não se trata de um pintor louco, mas um homem que tinha crises de loucura. Ele pinta para se recompor, para se ver melhor, para se examinar, sendo tão introvertido, e ele acaba ficando tão feliz com esse quadro que ele se dizia pronto a mostrá-lo publicamente e ao médico que é a razão de sua mudança para a região", conta.

Um visitante observa pinturas durante a pré-estreia para a imprensa da exposição "Van Gogh em Auvers-sur-Oise, últimos meses" no Museu Orsay, em Paris, em 29 de setembro de 2023.
Um visitante observa pinturas durante a pré-estreia para a imprensa da exposição "Van Gogh em Auvers-sur-Oise, últimos meses" no Museu Orsay, em Paris, em 29 de setembro de 2023. AFP - DIMITAR DILKOFF

Van Gogh chegou a Auvers-sur-Oise alguns meses depois, em 20 de maio de 1890, e pintou 74 quadros e fez 33 desenhos até o dia da sua morte. Emmanuel Coquery explica o frenesi criativo de Van Gogh no período.

"Ele precisa se curar. Ele precisa sentir que a cura é possível, e ele sente instintivamente que a pintura é sua boia de salvação. O médico que cuida da sua depressão lhe reafirma a importância de estar ativo no trabalho, e Van Gogh chega ao vilarejo culpando sua estadia no sul da França por sua melancolia, que ele espera dissipar no norte", sublinha o curador da exposição.

"Van Gogh é tomado por uma espécie de euforia ao chegar ao local que o reconecta com suas raízes e se reaproxima de seu irmão Théo, que o apoia e que literalmente o alimenta, pois lhe fornece uma pensão todos os meses e permite que o artista possa pintar", salienta.

Coquery conta que Van Gogh dizia que Auvers-sur-Oise era "terrivelmente bela". Seria o vilarejo um condensado pitoresco de paisagens? "Sim, porque reunia, como ele mesmo dizia, as casas modernas e antigas, com telhado de sapê, e também o lado urbano e interiorano, com jardins de cultivo, e emolduradas pelo rio e a ferrovia bem ao lado. Isso criava um efeito concentrado de tudo que Van Gogh amava", nota Coquery.

A exposição possui um fio condutor: os temas das pinturas. Van Gogh trabalhou sistematicamente os mesmos, estabelecendo ligações entre pinturas e desenhos. Um dos retratos é uma homenagem a seu médico, Dr. Gachet, por quem  o pintor desenvolveu uma estreita amizade e confiança.

"Ele é melancólico e isso marca o artista desde o início, como uma espécie de novo alterego, em relação ao principal alterego de suas pinturas, seu irmão Théo. Existe até uma semelhança física entre eles, porque Gachet é ruivo, e rapidamente eles se apaixonam amigavelmente, era uma relação mais como uma amizade do que uma coisa médico-paciente", diz o curador da mostra no Museu D'Orsay "E Gachet era um médico apaixonado pela arte, pintor amador, um artista da gravura, ou seja, ele tinha todos os instrumentos necessários para compreender o que se passava na cabeça de um pintor que não está bem; ele era o cara ideal para colocar Van Gogh no caminho certo, e o artista também sente isso e se apoia nele, rapidamente fazendo também uma gravura sua", esclarece.

Visitantes observam um autorretrato de Vincent Van Gogh durante a pré-estreia para a imprensa da exposição "Van Gogh em Auvers-sur-Oise, últimos meses" no Museu Orsay, em Paris, em 29 de setembro de 2023.
Visitantes observam um autorretrato de Vincent Van Gogh durante a pré-estreia para a imprensa da exposição "Van Gogh em Auvers-sur-Oise, últimos meses" no Museu Orsay, em Paris, em 29 de setembro de 2023. AFP - DIMITAR DILKOFF

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