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Rendez-vous cultural

Festival de fotojornalismo aproxima público europeu de temas latino-americanos

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As crises políticas, a violência e os conflitos sociais e ambientais em países da América Latina marcam a programação de exposições e projeção de reportagens na 35ª edição do Festival Internacional de Fotojornalismo Visa pour l’Image, realizado atualmente em Perpignan, no sul da França. Fotógrafos do continente, bem como europeus e norte-americanos, documentam temas relevantes da atualidade no Brasil, Equador, México, na Venezuela, Bolívia, Colômbia e Peru, entre outros países da região.

O fotógrafo colombiano Federico Ríos Escobar venceu o prêmio Visa de Ouro Humanitário do festival de fotojornalismo de Perpignan com a exposição "O caminho da última chance".
O fotógrafo colombiano Federico Ríos Escobar venceu o prêmio Visa de Ouro Humanitário do festival de fotojornalismo de Perpignan com a exposição "O caminho da última chance". © RFI/Adriana Moysés
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O público francês e internacional continua fiel a esse evento de entrada gratuita, o maior do mundo de fotojornalismo. Uma das razões desse sucesso é a grande variedade de reportagens selecionadas.

A programação noturna do festival, com projeções de reportagens fotográficas e retrospectivas de fatos marcantes dos últimos 12 meses, foi inaugurada com a série de imagens do fotógrafo brasileiro Francisco Proner sobre as eleições presidenciais de outubro de 2022 no Brasil. Durante vários meses, ele acompanhou os comícios de Lula e Jair Bolsonaro para o jornal Le Monde e outros veículos.

As 2 mil pessoas que lotavam o Campo Santo, um antigo cemitério medieval no centro histórico de Perpignan, transformado em um imenso auditório a céu aberto, viram desfilar em um telão de grandes dimensões as imagens de um país polarizado. De um lado, eleitores vestidos de vermelho, uma militância petista não violenta e esperançosa de ver Lula de volta à presidência. No campo adversário, eleitores de verde-amarelo alimentados pela propaganda bolsonarista, em várias situações de armas em punho. 

Proner ficou satisfeito com a boa receptividade do público francês à sua cobertura. Modesto, disse à RFI que os aplausos no final da projeção "foram mais pela derrota de Bolsonaro do que por minhas fotografias". 

O brasileiro, que acompanha atentamente a programação do festival há sete anos, considera que os organizadores são abertos às narrativas latino-americanas e dão espaço para a expressão das problemáticas da região.

"Eu sempre gosto de ver fotógrafos latino-americanos sendo representados aqui e europeus que documentam os países da região transmitindo uma visão positiva sobre a soberania dos povos da América Latina", destacou.

Violências contra comunidades e mulheres

Na programação de 2023, Proner ressalta o trabalho do italiano Nicola Okin Frioli, que, assim como ele próprio, também documentou o impacto da exploração de petróleo por multinacionais em comunidades indígenas da Amazônia equatoriana.

O paranaense também elogia as imagens da venezuelana Ana María Arévalo Gosen, que registra o encarceramento de mulheres em seu país e a gravidez precoce de adolescentes na Venezuela. Com o aborto ainda proibido no país, a solução do problema entre meninas pobres poderia vir do acesso à pílula. Mas, devido à crise econômica, uma cartela de anticoncepcional na Venezuela é vendida a preços exorbitantes, de US$ 25 a US$ 30 a caixa de comprimidos, como mostra a reportagem. 

Colombiano é premiado

O fotógrafo colombiano Federico Ríos Escobar conquistou por unanimidade do júri o prêmio Visa de Ouro Humanitário concedido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), parceiro do festival.

Luis Miguel Arias, 28 anos, e sua filha Melissa, 4 anos, originários da Venezuela, fazem uma pausa enquanto escalam uma colina na região de Darién, entre a Colômbia e o Panamá. O pai estava extenuado de cansaço.
Luis Miguel Arias, 28 anos, e sua filha Melissa, 4 anos, originários da Venezuela, fazem uma pausa enquanto escalam uma colina na região de Darién, entre a Colômbia e o Panamá. O pai estava extenuado de cansaço. © Federico Rios Escobar Lauréat du Visa d’or humanitaire du Comité International de la Croix-Rouge (CICR) 2023

Federico expõe em Perpignan 30 imagens impactantes sobre uma rota de migração pouco conhecida na Europa, que atravessa a floresta tropical de Darién, uma faixa de 100 quilômetros de mata fechada entre a Colômbia e o Panamá. Não há rodovias entre os dois países, e a selva de Darién separa fisicamente a América do Sul da América Central.

Vários migrantes já se afogaram nos rios da região. Nesta imagem, depois de vários dias de caminhada pela selva entre as duas Américas, eles chegam à foz do Darién e formam uma corrente humana para resistir à correnteza do rio Tacarti.
Vários migrantes já se afogaram nos rios da região. Nesta imagem, depois de vários dias de caminhada pela selva entre as duas Américas, eles chegam à foz do Darién e formam uma corrente humana para resistir à correnteza do rio Tacarti. © Federico Rios Escobar Lauréat du Visa d’or humanitaire du Comité International de la Croix-Rouge (CICR) 2023

Este caminho, aberto em 2010 por venezuelanos, que buscavam alcançar o México para depois entrar nos Estados Unidos, hoje é utilizado por migrantes de 97 nacionalidades – haitianos, afegãos, sírios, chineses, entre outros estrangeiros.

Diariamente, famílias com bebês de colo, crianças e idosos arriscam a vida numa travessia perigosa, para a qual não estão preparados devido às condições climáticas da floresta tropical. No início, 10 mil migrantes utilizavam, por ano, a rota de Darién; em 2022 foram 250 mil pessoas e, em 2023, já são 360 mil migrantes até o mês de agosto.

Sebastian Colmenares, 8 anos, chora ao ouvir o chefe comunitário de El Abuelo dizer ao grupo que a travessia da selva terminou. Atrás dele, o irmão Juan, 10 anos, e a mãe, Elgymar Galinde também ficam muito emocionados de saber que deixaram a floresta para trás.
Sebastian Colmenares, 8 anos, chora ao ouvir o chefe comunitário de El Abuelo dizer ao grupo que a travessia da selva terminou. Atrás dele, o irmão Juan, 10 anos, e a mãe, Elgymar Galinde também ficam muito emocionados de saber que deixaram a floresta para trás. © Federico Rios Escobar Lauréat du Visa d’or humanitaire du Comité International de la Croix-Rouge (CICR) 2023

"Tenho feito este trabalho desde 2021 com Julie Turkewitz, minha colega do New York Times, escritora e grande amiga. Já atravessamos a selva várias vezes", relatou Federico à RFI. Ele disse ter sentido "uma satisfação enorme" ao saber do reconhecimento desse trabalho.

"Vamos levar esta história para mais pessoas, para elas saberem o que está acontecendo em Darién, quantas pessoas estão arriscando suas vidas pelo sonho de chegar aos Estados Unidos e conseguir um mínimo básico para sua vida cotidiana", afirmou. "Acho que é um prêmio que recebo com generosidade, com humildade, com o coração muito aberto, mas também com um espírito de compromisso, para continuar contando essas histórias de injustiça social em todo o mundo", concluiu.

Até o momento, reportagens fotográficas sobre a guerra na Ucrânia venceram os prêmios dedicados a jornalistas que trabalham na imprensa diária e em portais de internet. O festival Visa pour l’Image continua até 17 de setembro.

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