Acessar o conteúdo principal
Rendez-vous cultural

Pílulas da felicidade: projeto mostra poder maquiavélico da indústria farmacêutica

Publicado em:

Quem não gostaria de tomar uma pílula mágica para deixar os problemas de lado e ficar feliz de repente? O tema faz parte do projeto “Happy Pills”, ou Pílulas Felizes, do escritor Arnaud Robert e do fotógrafo Paolo Woods. Exibido no Festival Visa pour l'Image, em Perpignan, no sul da França, eles tecem uma crítica à indústria farmacêutica.

Paolo Woods apresenta seu trabalho "Happy Pills", em exibição no festival Visa Pour l'Image, em Perpignan (1/9/22).
Paolo Woods apresenta seu trabalho "Happy Pills", em exibição no festival Visa Pour l'Image, em Perpignan (1/9/22). © Patricia Moribe
Publicidade

Patrícia Moribe, enviada especial a Perpignan

Uma versão do projeto é um dos destaques do festival Visa Pour L’Image, dedicado à fotografia jornalística, que acontece todos os anos na cidade francesa.

A ideia nasceu enquanto o fotógrafo Paolo Woods observava vendedores ambulantes de remédios no Haiti, onde ele vivia. As mercadorias eram montadas em torres na cabeça, um cone multicolorido expondo pílulas como se fossem balas para atrair crianças. E nunca faltava uma tesoura, pois os remédios são vendidos em unidades, num dos países mais pobres do mundo e com pouco recursos na área da saúde.

“Tudo começou como um projeto sobre a indústria farmacêutica, mas logo se transformou em um projeto sobre a nossa relação, como consumidores, com essa indústria, e o que buscamos quando tomamos essas pílulas”, explica o ítalo-canadense Woods.

“Claro que buscamos a cura, mas quanto mais a gente investigava, mais a gente descobria o que nos interessava. Será que o objetivo era ir além dos nossos limites como seres humanos? As pílulas tem um papel muito grande na sociedade atual – muitas vezes vindo antes da religião, da filosofia. Elas prometem que vamos nos sentir melhor, que tudo vai melhorar, que vamos ultrapassar nossos limites. Essas são as pílulas que pesquisamos no nosso projeto “Happy Pills”.

O uso indiscriminado de poções mágicas desconhece cultura, fronteira ou classe social. Outros tipos de consumo, mas sempre na busca de uma felicidade mágica se espalha pelo mundo. “A indústria farmacêutica já chegou onde nenhuma outra conseguiu, estão no centro da nossa vida”, explica o fotógrafo. Durante cinco anos, a dupla percorreu o mundo atrás de como e por que as pessoas consumiam remédios diversos.

“Esta exposição já foi mostrada em versão muito maior em outros países", conta Woods sobre o projeto que tem três partes – uma mostra, um livro e um filme.

Espelho meu

"O que é interessante é que vários visitantes já disseram que essas imagens são como espelhos – algo que já tomaram ou que gostariam de experimentar. Ou conhecem alguém que toma essas pílulas", relata o artista. "Ou seja, nota-se um padrão de comportamento. E isso nos une, pois somos todos consumidores. Era isso que eu queria mostrar, de que não importa se seja na Índia ou nos Estados Unidos, no Níger ou em Israel.”

A pílula mágica, segundo os autores, faz parte do inconsciente coletivo e tem grande importância na cultura pop, mas a fascinação vem desde “Alice no País das Maravilhas” até “Matrix”. Ou seja, uma resposta quase mágica para fraquezas, melancolias e para as inaceitáveis limitações da condição humana.

A exposição em Perpignan foge do padrão sóbrio do resto do festival, se aproximando mais de uma instalação com apuro artístico. Um livro acompanha a mostra, além de um filme que vai ser exibido em breve pelo canal franco-alemão Arte. O Festival Visa pour l’Image acontece em Perpignan, no sul da França, até 11 de setembro.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.