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Rendez-vous cultural

Exposição em Paris mostra nascimento do brasileiro Frans Krajcberg como artista

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O artista brasileiro Frans Krajcberg, que completaria 100 anos de nascimento em 2021, é tema de uma exposição no espaço que leva seu nome na capital francesa. "Paris 50-75, Frans Krajcberg, um brasileiro em Montparnasse" é a primeira exposição na França dedicada ao artista desde sua morte, em 2017.

Obra do artista plástico brasileiro Frans Krajcberg, exposta no Espaço Karjcberg, em Montparnasse, em Paris: pau de óleo (Bois d'Huile), circ. 1969.
Obra do artista plástico brasileiro Frans Krajcberg, exposta no Espaço Karjcberg, em Montparnasse, em Paris: pau de óleo (Bois d'Huile), circ. 1969. © Divulgação Exposição Frans Krajcberg
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Por Paloma Varón

A exposição marca o período de vida de Krajcberg entre os anos 1950, quando ele é reconhecido como artista, até o ano de 1975, em que o governo francês realiza uma grande retrospectiva de sua obra naquele que hoje é conhecido como Centre Pompidou de arte contemporânea.

Sylvie Depondt, presidente da Associação de Amigos de Frans Krajcberg e uma das curadoras desta exposição explica: "A gente queria fazer um grande evento em Paris, que é um lugar que ele amou muito e para onde sempre voltou até a sua morte, e marcar a sua presença na cidade. A Covid não nos ajudou com as negociações com os nossos parceiros no Brasil, principalmente para trazer as suas obras de lá, como fizemos em 2005, numa exposição para a qual vieram 90 obras de Krajcberg de navio do Brasil, como parte do Ano do Brasil na França".

"Nós decidimos, então, organizar o evento em três partes. A primeiro é esta, que inauguramos aqui, no Espaço Krajcberg, que mostra o nascimento de Frans Krajcberg como artista, entre o Brasil e Paris, e como estes dois lugares foram essenciais para o seu reconhecimento no meio artístico, entre os críticos, os colecionadores etc.", diz Sylvie. 

A segunda parte desta exposição será inaugurada em 2022 e se consagrará a seu papel de militante ecologista, a partir de 1975. E a terceira, em 2023, ano que marca também os 20 anos do Espaço Krajcberg, no bairro de Montparnasse, em Paris, será sobre o artista militante ambientalista e tudo o que ele transmitiu.

Frans Krajcberg em seu estúdio parisiense, anos 60
Frans Krajcberg em seu estúdio parisiense, anos 60 © Pierre Boulat; ass Pierre et Alexandra Boulat

“Este primeiro ângulo é sobre o artista após a Segunda Guerra. O artista que passa por Paris e é enviado ao Brasil pelo seu amigo, o pintor Marc Chagall, que organiza a sua viagem. Ele parte ao Brasil porque Chagall disse que seria um lugar onde ele iria se encontrar, recarregar as forças. É o choque brasileiro, a literatura brasileira, o entusiasmo por tudo o que ele descobre, pelos artistas brasileiros, que estavam em plena ebulição. E ele volta a Paris como cidadão brasileiro para confrontar artisticamente o que ele viveu e aprendeu lá. Ele foi reconhecido na Bienal de São Paulo e do Rio e se impõe no meio artístico parisiense”, diz Sylvie.

Um polonês que vai para Paris e termina no Brasil

Para entender melhor, é preciso conhecer a história do artista. Capucine Boutte, encarregada de parcerias do Espaço Krajcberg e co-curadora desta exposição, conta um pouco da incrível vida deste polonês que se naturalizou brasileiro.

Krajcberg nasceu na Polônia em 1921. Ele perdeu tudo na Segunda Guerra: toda a sua família é assassinada nos campos nazistas. Depois da Guerra, ele vai a Stuttgart e estuda Belas Artes, com Baumeister, antigo professor da Bauhaus. Seu professor escreve uma carta o recomendando a Fernand Léger. Ele chega a Paris e é acolhido pelo casal Nadia e Fernand Léger e conhece Marc Chagall, que organiza para ele sua viagem ao Brasil”.

“Ele gostava do Montparnasse depois da Guerra, porque era aqui que tudo acontecia, mas ele ficou pouco tempo. Ele precisava deixar a Europa. Ele não conhecia nada sobre o Brasil, foi Chagall quem sugeriu. Karjcberg diz, num documentário dirigido por Éric Darmon, que ele precisava sobretudo sair da Europa, estar aqui era insuportável para ele. Ele precisava fugir para longe, e o Brasil oferecia uma oportunidade de recomeçar a vida do zero”, completa Capucine Boutte.

Composição em vermelho - Frans Krajcberg, 1965  e Sem título (da série sombras recortadas) - Frans Krajcberg
Composição em vermelho - Frans Krajcberg, 1965 e Sem título (da série sombras recortadas) - Frans Krajcberg © MNHN -JC Domenech

O outro curador desta exposição é Eric Darmon, que era amigo de Krajcberg e dirigiu e produziu alguns documentários sobre o artista. Darmon comenta a atualidade da sua arte e do seu engajamento, temas que serão explorados na segunda e na terceira parte da exposição. 

"Nos filmes de Walter Salles, rodados nos anos 80, o cineasta filma Krajcberg fotografando a floresta enquanto ela queima. É um trabalho extraordinário. Eu fiz também um filme nos diferentes lugares onde ele morou no Brasil, onde a gente também viu a Amazônia pegando fogo, e Krajcberg nos explica a importância de seu engajamento e a loucura destruidora do homem atual, seja no Brasil ou fora", conta Darmon. 

Um artista do sensível 

Os filmes de Walter Salles serão projetados nesta exposição, mas ela trata sobretudo do nascimento de Krajcebrg como artista e de como ele começa a se mostrar e a se impor. É muito importante para um artista mostrar que ele existe. Entre as idas e vindas que Krajcberg fazia entre a França e o Brasil, ele se aprimorava.

Para Sylvie, Krajcberg se reinventava nestas viagens. Seu trabalho mudava: “Ele encontrava outras técnicas, ele pesquisava. É incontestavelmente um grande artista que tem uma qualidade extraordinária, porque ele toca a nossa sensibilidade imediata. Ele tem esta maneira de ser muito instintivo: sua obra nos toca e fala muito profundamente. Seu traço instintivo e ao mesmo tempo, muito cartesiano, faz dele um artista atípico que fala a todo mundo”.

Frans Krajcberg, Boules de palétuviers, compensados, pigmentos naturais, 280x230x100cm, 1991,
Frans Krajcberg, Boules de palétuviers, compensados, pigmentos naturais, 280x230x100cm, 1991, © Claudia Rudge

São 33 obras, que pertencem a coleções públicas e privadas. Muitas delas não foram expostas desde sua aquisição. Além disso, haverá exposições de fotos do artista trabalhando, filmes, palestras e conferências.

“Graças a sua relação com a natureza, Krajcberg se tornou independente de todos os movimentos artísticos, foi o que o tornou único. Esta luta amorosa pela natureza é o que fez dele um artista à parte. Aos poucos ele foi se tornando consciente dos problemas ambientais e a se engajar nesta luta. Esta exposição mostra esse processo. Ao fim de sua exposição no Centre Pompidou, em 1975, ele declara que acabou a arte pela arte e dali em diante todo seu trabalho seria engajado pelo planeta. Esta exposição foi um 'insight'”.

A mostra fica em cartaz em Paris até 26 de março de 2022 com entrada gratuita.

Lianes, compensados e pigmentos naturais, 210×130×30cm anos 1960
Lianes, compensados e pigmentos naturais, 210×130×30cm anos 1960 © Arquivo pessoal do artista

 

Frans Krajcberg
Frans Krajcberg © copyright by Juan Esteves

 

Frans Krajcberg
Frans Krajcberg © Juan Esteves

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