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Linha Direta

Novo comboio humanitário de 33 caminhões entra em Gaza, mas ajuda ainda é insuficiente, diz ONU

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Um comboio de 33 caminhões levando alimentos, medicamentos e água puderam entrar no domingo (29) na Faixa de Gaza através da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito. Esse é o maior carregamento de suprimentos enviado ao enclave palestino desde o início da nova fase do conflito entre Israel e o Hamas. Para a ONU, que teme "uma nova degradação da situação humanitária já desastrosa" no local, essa ajuda é insuficiente. 

Palestinos aguardam na fila para coletar água potável em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 28 de outubro de 2023.
Palestinos aguardam na fila para coletar água potável em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 28 de outubro de 2023. AP - Hatem Ali
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Vinícius Assis, do Cairo para a RFI Brasil

Antes da guerra, cerca de 500 caminhões abasteciam diariamente a Faixa de Gaza, alvo de um cerco restrito de Israel após o ataque de 7 de outubro do Hamas. Desde 21 de outubro comboios puderam entrar novamente no território palestino, através da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito. Mas o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas diz que ao menos 40 caminhões por dia são necessários para entregar comida a mais de um milhão de pessoas que passam fome no enclave. 

Até agora, a assistência alimentar de emergência e a ajuda monetária chegaram a mais de 635 mil pessoas em Gaza e na Cisjordânia. Em uma semana, 117 caminhões fizeram este trajeto, segundo um balanço divulgado nesta segunda-feira (30) - um número considerado insuficiente pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Enucah). 

Com a lentidão para a entrega desses itens, pessoas famintas e desesperadas saquearam depósitos da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (Unrwa) nas regiões central e sul de Gaza no sábado (28). Um desses armazéns fica em Deir al-Balah, onde a instituição armazena suprimentos dos comboios humanitários vindos do Egito. 

Outro local saqueado em uma localidade do centro de Gaza mantinha 80 toneladas de alimentos diversos, principalmente enlatados, farinha de trigo e óleo de girassol, segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA). "Este é um sinal de que as pessoas estão perdendo a esperança e ficando mais desesperadas a cada minuto. Elas estão com fome, isoladas, sofrem violência e estão angustiadas há três semanas”, disse Samer Abdeljaber, representante do PMA nos territórios palestinos. 

Desespero

O deslocamento interno em massa tem preocupado muito. “As pessoas estão assustadas, frustradas e desesperadas” acrescentou Thomas White, diretor da Unrwa em Gaza. "Produtos alimentícios se esgotam nos mercados, enquanto a ajuda humanitária que chega por meio de caminhões vindos do Egito é insuficiente", reiterou.

No sábado não houve entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza devido ao corte do sistema de telecomunicações e da internet. Diante disso, a agência da ONU responsável por receber e armazenar os itens que estão dentro dos caminhões do lado egípcio da fronteira não conseguiu se comunicar com outros setores importantes no processo de coordenação da passagem do comboio. 

Uma fonte disse à RFI que há sempre o receio de que esses caminhões possam ser bombardeados por Israel depois que atravessam. “As necessidades da população são imensas, mesmo que apenas para a sobrevivência básica, enquanto a ajuda que recebemos é escassa e inconsistente”, reforçou Thomas White.

O Egito faz um apelo por uma ação internacional “séria e coordenada” para implementar uma trégua humanitária imediata em Gaza. O ministro das Relações Exteriores do país, Sameh Shoukry, tratou do assunto neste domingo em uma reunião com o enviado especial dos Estados Unidos para Questões Humanitárias no Médio Oriente, David Satterfield, e também em um telefonema com o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk. Shoukry pediu ainda esforços internacionais para remover os obstáculos colocados por Israel que dificultam a entrega de ajuda aos palestinos através da fronteira de Gaza com o Egito.

Segundo o procurador-geral do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan, "impedir o acesso à ajuda humanitária pode constituir um crime". Em Rafah, no domingo, ele afirmou a jornalistas que "Israel precisa garantir sem demora que civis recebam alimentos e medicamentos".

Brasileiros na Faixa de Gaza

Cerca de 30 brasileiros ainda estão na Faixa de Gaza e aguardam para serem levados ao Cairo, onde um avião presidencial os espera para transportá-los de volta ao Brasil. No momento, a abertura da fronteira para a saída de estrangeiros que estão em Gaza não é segura. 

De acordo com o Palácio do Planalto, a representação brasileira em Ramala, na Cisjordânia, já voltou a se comunicar com os brasileiros no sul da Faixa de Gaza. O embaixador Alessandro Candeas informou que há problemas para obter água e gás, além de uma proliferação de mosquitos na região de Khan Yunis. Algumas das crianças estão gripadas e com irritação nos olhos. "Conseguimos um médico árabe de Jerusalém que vai fazer atendimento à distância para os brasileiros", disse o embaixador. 

Oito voos da Força Aérea Brasileira (FAB) já resgataram 1.410 brasileiros de Israel, além de três bolivianas e 53 animais de estimação.

Protestos pelo mundo

Protestos em defesa do povo palestino ganham cada vez mais adeptos em várias cidades do mundo. Além das ruas e de manifestações em redes sociais, lideranças também se manifestam contra a guerra entre Israel e o Hamas. O ataque do grupo deixou 1.400 mortos do lado israelense. Na Faixa de Gaza, o número de óbitos subiu para 8 mil no último fim de semana; a metade seriam crianças, segundo o Ministério da Saúde palestino.

Ao pressionar por mais ação e menos discurso, Othman Belbeisi, diretor regional da Organização Internacional para as Migrações para países do norte da África e Oriente Médio, chamou de catastrófica a situação humanitária na Faixa de Gaza e cobrou atitude. “Um cessar-fogo humanitário é imediatamente necessário para garantir a entrega de ajuda humanitária que salva vidas a milhões de pessoas em Gaza”, postou em seu perfil nas redes sociais.

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