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Linha Direta

Testes de DNA são necessários para identificar os mais de 100 mortos nos incêndios no Havaí

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Já chega a 106 o número de mortos nos incêndios de Maui, no Havaí. Com muita dificuldade começou a identificação dos mortos por testes de DNA. Ao mesmo tempo, correm investigações para saber a origem do fogo e se há culpados pelo desastre e pelo tamanho da tragédia deste que é o incêndio mais mortal dos últimos 100 anos nos Estados Unidos. A companhia de energia havaiana vê suas ações derreterem diante de acusações de negligência.

O balanço de vítimas do incêndio florestal que devastou 80% da cidade de Lahaina, na costa oeste de Maui, a segunda maior ilha do Havaí, subiu para 106 mortos e pode aumentar, segundo o governador do estado, Josh Green.
O balanço de vítimas do incêndio florestal que devastou 80% da cidade de Lahaina, na costa oeste de Maui, a segunda maior ilha do Havaí, subiu para 106 mortos e pode aumentar, segundo o governador do estado, Josh Green. via REUTERS - SENATOR BRIAN SCHATZ VIA INSTAGR
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Cleide Klock, correspondente da RFI nos EUA.

Os últimos dados mostram que 2.200 estruturas foram danificadas ou destruídas, 80% delas residências. O presidente Joe Biden disse nesta terça-feira (15) que o Havaí receberá “tudo” que precisa do governo federal e também prometeu fazer uma visita a Maui assim que houver condições.

A lista de desaparecidos conta com 1.300 nomes. É importante lembrar que nela aparecem pessoas que não fizeram contato até agora com amigos ou familiares, muitos podem estar vivos, porém sem comunicação e talvez, nem saibam que estão sendo procurados. Mas, o que se sabe é que a quantidade de mortos deve aumentar bastante, porém é possível que muitos não tenham nenhum resto mortal encontrado. O incêndio derreteu metais, imagine o que faz com o corpo humano. As autoridades alertam aos familiares que algumas vítimas foram reduzidas a pó devido ao calor de mil graus. Até o momento foram confirmados, por testes de DNA, apenas 13 vítimas. Em uma atualização triste nesta terça-feira, o governador Josh Green confirmou que várias crianças estão entre os mortos.

As buscas se expandiram de 3% a 32% da área, do final de semana até esta terça-feira. Antes era apenas um cão farejador que trabalhava no local, agora são 20. O chefe da polícia de Maui, John Pelletier, disse que espera que a busca cubra de 85% a 90% da área até este fim de semana. Mas é tudo tão difícil que alguns dos restos mortais foram descobertos depois que cães verificaram novamente áreas que já tinham sido vasculhadas. A Humane Society de Maui estima que cerca de 3.000 animais de estimação também estejam desaparecidos.

Causas e culpados

Nenhuma causa oficial para a origem do fogo foi confirmada. O governador do estado, Josh Green, afirmou que isso pode levar semanas. Mas, vários processos já foram abertos contra a companhia de energia elétrica local (Hawaiian Electric Industries, Inc), o que fez as ações da empresa despencarem em queda livre na bolsa. A companhia, fundada em 1891, época que o Havaí ainda era um reinado e não fazia parte dos Estados Unidos, viu em cinco dias seu valor de mercado cair 58,9% diante de acusações da companhia ter sido negligente e não ter tomado as medidas necessárias diante das condições de vento forte, baixa umidade e vegetação seca.

Pelo menos três grandes escritórios de advocacia (Watts Guerra, Singleton Schreiber e Frantz Law Group) estudam ações coletivas, buscam representar os residentes de Lahaina, e alegam que a Hawaiian Electric é responsável pelos incêndios por não ter desligado as linhas de energia, apesar dos avisos do Serviço Nacional de Meteorologia de que ventos fortes poderiam derrubar essas linhas e provocar incêndios que se espalham rapidamente.

O vice-presidente da Hawaiian Electric, Jim Kelly, disse à imprensa americana, no domingo (13), que a empresa não comenta esse tipo de acusação e que a companhia está cooperando com as investigações sobre a causa dos incêndios. Ele acrescentou que a empresa não possui um programa formal de desligamento e desligamentos preventivos devem ser combinados com os socorristas.

Outras investigações

Nas ilhas do Havaí há sirenes que são testadas mensalmente que podem ser acionadas para alerta de tsunami. A crítica dos moradores é que estas sirenes deveriam ter sido acionadas, ou que eles deveriam ter recebido alertas nos celulares, o que acontece com frequência nos Estados Unidos. Mas nada aconteceu. Alguns moradores disseram que a polícia passou pedindo para saírem de suas casas, mas muitos tiveram que agir por instinto e fugir. Outros tantos, já soubemos, não tiveram essa oportunidade. Os moradores contaram que se sentiram diante de uma grande armadilha, sem saber como e para onde fugir. Esta será ainda outra investigação que deve acontecer.

Bombeiros relataram que quando tentaram apagar o fogo, os hidrantes também estavam secos, sem água. Há também muitas críticas nas redes sociais que as pessoas ainda se sentem desamparadas, que há pouquíssimo serviço de atendimento oficial da ilha, poucas autoridades para dar respostas a tantas perguntas, para indicar onde pedirem ajuda, e onde está ajuda. Ao contrário do que acontece em qualquer parte dos Estados Unidos, por exemplo, quando há manifestações e a guarda nacional toma as ruas, no Havaí não está chegando essa quantidade de efetivo que o restante do país recebe.

Turistas x moradores

Há um grande contrassenso entre o papel dos turistas neste momento. Muitos moradores e também autoridades defendem a ideia que ninguém deve ir a Maui neste momento de luto e que todos os recursos e esforços deveriam ser em prol da comunidade que necessita apoio emocional e material. Outra ala, defende que o turismo vai manter empregos e trazer recursos para um local tão devastado. Mas, muitos moradores dizem que parece que duas realidades paralelas ocupam o mesmo espaço, enquanto uns estão bebendo e se divertindo ao pôr do sol, outros procuram entes queridos em um cenário de guerra. Achar um equilíbrio, não é tarefa fácil.

O prefeito do condado, Richard Bissen, disse que tem sido consistente em desencorajar visitantes na costa oeste de Maui, mas são bem-vindos em outras áreas, chamando o turismo de "principal impulsionador" para a ilha. Já o ator Jason Momoa, que é havaino, faz campanhas pelas redes sociais para ninguém ir a Maui, por enquanto, e que assim ajudaria a comunidade a se reerguer. Curiosos tentam entrar na área do desastre e, segundo a polícia, estão retardando a busca por fatalidades enquanto pisoteiam as cinzas que podem ter restos mortais.

Especulação imobiliária

Outra denúncia é que agentes imobiliários estariam tentando comprar propriedades destruídas por um preço baixo para revender para grandes corporações. O governador disse que está estudando a possibilidade de uma moratória nas vendas dessas terras e alertou que levará muito tempo até que qualquer imóvel possa ser construído na região.

Várias famílias que perderam tudo e até procuram desaparecidos teriam sido contatadas e tiveram ofertas de investidores e corretores de imóveis. As autoridades pedem para que as pessoas não atendam esse tipo de ligação e que esse tipo de operação é ilegal. O governador falou que vai "tentar impedir que pessoas de fora do estado comprem qualquer terra até que seja superada essa crise e tomada a decisão de como Lahaina deve ser no futuro".

O FBI também alertou os proprietários de imóveis para serem cautelosos com “ofertas de dinheiro fácil”. Steven Merrill, agente especial do FBI em Honolulu, em um comunicado destacou que: “Os criminosos capitalizam a distração e a vulnerabilidade.”

O governo já garantiu 500 quartos de hotel e 1.000 unidades adicionais do Airbnb para abrigar quem perdeu o lar na tragédia.

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