Reino Unido: Altas temperaturas provocam racionamento de água com impacto na inflação

O tão aguardado verão trouxe para o Reino Unido belos dias de sol com temperaturas tropicais, piqueniques nos parques e praias cheias para a alegria de todos. Mas com os termômetros marcando recordes de calor — domingo (25) foi o dia mais quente do ano, com 32°C —, as companhias de fornecimento de água começam a restringir o consumo. O problema é que o verão está apenas começando.

O leito seco do rio Derwent é visto depois de um período prolongado de estiagem em Seathwaite, Grã-Bretanha, em 18 de junho de 2023. REUTERS - PHIL NOBLE

Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres

A partir desta semana, pelo menos dois milhões de lares estão proibidos de regar os jardins, lavar carros ou calçadas nas regiões de Sussex e Kent, no Reino Unido. A South East Water, empresa responsável pelo abastecimento nessas áreas, diz que a prática do home office aumentou o consumo residencial, e que os níveis dos reservatórios estão baixos.

Mas os consumidores afetados se queixam de serviço ruim. Primeira a implementar o racionamento este ano, a South East Water atribui o consumo maior nas residências às pessoas que agora trabalham de casa. Em carta aos clientes, afirma que nos últimos três anos o perfil de consumo de água potável mudou de maneira considerável. E que o aumento do chamado trabalho remoto em cidades-dormitório foi responsável pela alta de 20% em um curto período de tempo, o que impõe pressão adicional sobre a infraestrutura existente.

Baixo nível dos reservatórios de água

A empresa ainda admite que o nível dos reservatórios está aquém do que deveria e que teria chovido menos do que era necessário desde abril. A multa para quem desrespeitar o racionamento é de mil libras, ou pouco mais de R$ 6 mil.

Mas os consumidores também se queixam dos serviços prestados pelas empresas. Muitos clientes da South East Water, por exemplo, teriam ficado sem água por falhas de distribuição. No final do ano passado, quase 300 mil casas foram afetadas por problemas de vazamento na tubulação. Outras seis mil, no início deste mês.

Além disso, os consumidores alegam que prestadora não consegue tratar a água na velocidade necessária. O órgão regulador nacional cobrou respostas da South East Water. Não é de hoje os usuários de prestadoras de serviços que foram privatizadas no passado no Reino Unido se queixam dos altos preços e da falta de qualidade do atendimento que recebem. Muitos cobram do governo mais vigilância. É assim com as operadoras de trens, que, conseguem promover reajustes de tarifas acima das taxas de inflação.

Racionamento e inflação

Se as temperaturas se mantiverem acima da média, a falta de água pode complicar o cenário de inflação no país. Embora não haja restrições para o consumo de água para fazendas que produzem frutas e legumes, a falta de chuva e a necessidade de irrigação são fatores de pressão adicional sobre os preços. E o problema é que, ainda que o índice geral tenha dado sinais de pequena melhora no mês passado (ficou abaixo de 10% ao ano pela primeira vez em quase seis meses), os indicadores para os preços dos alimentos continuam em dois dígitos, o que assusta a população.

Este, aliás, é um dos maiores desafios do partido conservador do primeiro-ministro Rishi Sunak neste momento. Com a inflação em alta e juros em ascensão, fica difícil para a legenda dar qualquer sinal de força para a eleição geral que se aproxima. O pleito deve acontecer no ano que vem, mas, se fosse hoje, a oposição trabalhista venceria com larga maioria nas urnas. Pesquisa de opinião recente mostra que o atual governo tem um índice de aprovação muito baixo.

A questão da água, mal ou bem, vai entrar na conta de Sunak e seu partido. Por enquanto, pouco mais de dois milhões de lares estão sendo afetados em Sussex e Kent. Se a situação se agravar, o racionamento pode ser estendido a outras áreas.