Trump prepara reviravolta política após indiciamento histórico na Justiça

O ex-presidente americano Donald Trump se apresenta nesta terça-feira (4) ao tribunal criminal de Manhattan para ouvir as acusações sobre um suposto esquema de pagamento secreto à estrela de filmes pornôs Stormy Daniels. O caso teria ocorrido durante a campanha eleitoral de 2016. Esta é a primeira vez que um ex-chefe de Estado é indiciado criminalmente nos Estados Unidos. 

Fotomontagem com a atriz de filmes ponô Stormy Daniels e o ex-presidente americano Donald Trump. Imagem ilustrativa. REUTERS - REUTERS FILE PHOTO

Cleide Klock, correspondente da RFI nos Estados Unidos

O líder republicano chegou na tarde de segunda-feira (3) a Nova York e passou a noite na Trump Tower na 5ª Avenida, mesmo local onde anunciou sua candidatura presidencial, há oito anos. A previsão é que Trump se apresente às 14 horas no tribunal (pelo horário local) e que siga ao menos parte do ritual das acusações formais.

Primeiramente o ex-presidente deve ser fichado e ter as digitais e amostras de DNA coletadas. Geralmente o indiciado é algemado para se apresentar ao tribunal, mas os advogados do ex-presidente fizeram um acordo com a promotoria e isso não deve acontecer. O risco de fuga foi descartado porque Trump tem escolta permanente do Serviço Secreto. Outro privilégio concedido ao republicano é a espera em uma sala de interrogatório em vez de uma cela tradicional.

Ainda não se sabe ao certo se o ex-presidente será fotografado de frente e perfil para a ficha criminal. A figura de Trump é amplamente conhecida e há a preocupação das autoridades de um possível vazamento indevido das fotos.

Após essa primeira parte do protocolo, o magnata vai se apresentar para ouvir formalmente o teor das acusações. De acordo com a imprensa americana, seriam cerca de 30, relacionadas a suborno e fraudes que envolvem a suposta compra do silêncio da atriz pornô Stormy Daniel. Ela teria recebido US$ 130 mil pagos com verba de campanha.

É muito provável que Trump não seja preso, já que o crime pelo qual é acusado não é de natureza violenta. Talvez o juiz imponha uma fiança para soltá-lo e é possível, mas quase improvável também, que estabeleçam condições para futuras viagens, enquanto o processo não for julgado. Os advogados adiantaram que o ex-presidente vai se declarar inocente de todas as acusações.

Sem transmissão ao vivo

A imprensa americana havia solicitado que a apresentação de Trump ao tribunal fosse televisionada e transmitida ao vivo para todo o país, mas na noite de segunda-feira (3), o juiz interino da Suprema Corte de Nova York, Juan Merchan, que comandará a audiência, rejeitou o pedido. Os advogados de Trump também agiram para que essa transmissão não acontecesse. Segundo analistas americanos, o republicano não poderá "comandar o show" dentro do tribunal, como é acostumado a fazer, e estará em uma posição de obediência e não de domínio da situação.

Trump não vai poder falar o que quiser, no momento que quiser e nem com a tradicional atitude. O juiz pode exigir seu silêncio se Trump desrespeitar os protocolos. Uma atitude ousada por parte do republicano poderia levar, inclusive, a um pedido de prisão ou punição. No entanto, como pré-candidato às eleições de 2024, não seria interessante mostrar uma imagem de rebaixamento ou humilhação.

Marketing eleitoral

Desde que soube que seria indiciado, Trump usou o processo, inclusive, como marketing eleitoral, chamando os eleitores para irem às ruas se manifestarem a seu favor. Por enquanto, a movimentação dos apoiadores não foi muito representativa, mas toda a segurança em Manhattan foi reforçada.

Até o momento, Trump adota uma postura de vítima de perseguição política do promotor distrital Alvin Bragg, um democrata. Segundo o ex-presidente, o magnata quer impedi-lo de voltar à presidência. 

Mas Trump está confiante de que não será preso e já marcou para a noite desta terça-feira um pronunciamento na Flórida, logo após o seu suposto retorno à residência em Mar-A-Lago. O objetivo é tentar tirar proveito político dessa crise legal. De acordo com os números de arrecadação de fundos que sua campanha está divulgando, o líder republicano está recebendo um forte impulso político tamanha atenção que obteve com essa acusação. 

O primeiro na história

É muito forte a responsabilidade de ser o primeiro ex-presidente a ser acusado criminalmente desde que a república americana foi fundada, em 1776. Trump, apesar de usar as redes sociais para debochar da situação, também está preocupado, e contratou mais advogados.

Com o indiciamento, as autoridades também mostram que a lei é para todos. De acordo com uma pesquisa da rede de TV CNN, 62% dos americanos aprovam e 38% desaprovam o indiciamento. Apenas 10% do total veem Trump como inocente, em relação aos supostos pagamentos feitos a Stormy Daniels. Entre os republicanos, 93% acreditam que o indiciamento foi motivado por questões políticas.

A pesquisa também mostrou que a imagem de Trump não foi abalada com a acusação e isso não o faria perder votos dentro do próprio partido. Além disso, o fato de estar sendo acusado também não o impede que seja candidato ano que vem.

Alguns juristas americanos questionam se este caso de supostas infrações de práticas contábeis e possíveis violações de financiamento de campanha é suficientemente grave para merecer o passo histórico de indiciar um ex-presidente. Trump também está sendo investigado em outros casos, como por exemplo, a tentativa de anular o resultado da eleição de 2020 na Geórgia, a posse de documentos confidenciais da Casa Branca em sua residência e a conduta no ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Muita coisa ainda deve vir à tona antes das eleições de novembro de 2024.