Com falta de enfermeiros, Dinamarca não exigirá mais domínio da língua para atrair profissionais de fora da UE

Falta de enfermeiros leva o país criar um plano de emergência com duração de dois anos, para diminuir a escassez de profissionais de saúde. Eles poderão começar a trabalhar sem precisar para passar primeiro no teste de língua dinamarquesa.

Enfermeiros em greve manifestaram por melhores salários em frente ao Palácio Christiansborg, em Copenhague, em 19 de junho de 2021. AFP - CLAUS BECH

Fernanda Melo Larsen, correspondente da RFI em Copenhague

A Dinamarca simplificará os requisitos de idioma para enfermeiros de fora da UE para reduzir o tempo de processamento para autorização de qualificações estrangeiras em uma tentativa de melhorar o atendimento hospitalar no país.

Atualmente, os requisitos de idioma dinamarquês são usados no recrutamento de enfermeiros de fora da UE, onde é necessário que o candidato tenha conhecimento de nível avançado, equivalente ao B2 do Quadro Comum Europeu de Referência para Línguas. Os critérios de idioma para enfermeiros de países não pertencentes à UE serão, assim, alinhados com os requisitos usados para enfermeiros de países do bloco europeu.

Segundo a ministra da Saúde, Sophie Løhde, os profissionais de países fora da Comunidade Europeia podem receber uma nomeação de no mínimo seis meses em tempo integral. Nesse período, por exemplo, um hospital pode avaliar as competências e habilidades comunicativas do funcionário.

"Assim, podemos tratar mais pacientes e, ao mesmo tempo, aumentar a capacidade e a atividade dos hospitais públicos. Serão investidos 2 bilhões de coroas dinamarquesa (R$ 1,5 bilhão) para reduzir o tempo de espera aos níveis pré-pandêmicos até o final de 2024", disse a ministra da Saúde, Sophie Løhde.

Plano entrará em prática em junho

De acordo com o setor responsável pelos hospitais públicos das cinco regiões do país, o Danske Regioner, as recomendações e datas de quando essa "força-tarefa estrangeira" entrará em ação devem ser divulgadas até a última semana do mês de junho.

Além disso, um valor equivalente a quase R$ 9 milhões foi reservado para a Agência Dinamarquesa de Recrutamento e Integração Internacional (SIRI). A agência que processa os pedidos de permissão de trabalho deve com isso conseguir reduzir o tempo de processamento nas solicitações pendentes de profissionais de saúde vindos de países pertencentes ao bloco europeu. 

"Muitos de nossos hospitais estão em uma situação difícil e precisamos colocá-los de volta nos trilhos para que os pacientes possam receber tratamento mais cedo e aliviar a pressão sobre as equipes de saúde", disse a ministra da Saúde em um comunicado à imprensa. Em 2022 foram contratados 700 profissionais vindos de fora da UE.

Fuga de profissionais para Noruega

Uma análise do Conselho Dinamarquês de Enfermagem mostrou que no fim de 2021 havia um déficit de 5000 mil profissionais em todo país. E que até 2030, esse número poderia chegar a 8.200 enfermeiros.

Segundo o Conselho, a escassez de profissionais no país, a longa jornada de trabalho e salários mais baixos do que os da Noruega estão levando enfermeiros formados na Dinamarca a se mudarem para o país vizinho.

O salário inicial de um profissional de enfermagem na Dinamarca é de 25 mil coroas dinamarquesas por mês, o que equivale a aproximadamente R$ 19 mil mensais. Em 2022, duas vezes mais enfermeiros dinamarqueses foram autorizadas a trabalhar na Noruega em comparação com o mesmo período de 2021.

"Em minha opinião, isso é uma expressão de que os enfermeiros dinamarqueses querem melhores salários e condições de trabalho. Há anos, temos apontado que os salários dos enfermeiros na Dinamarca são muito baixos", explicou a vice-presidente do Conselho Dinamarquês de Enfermagem, Dorte Danbjørg.