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Linha Direta

A cada dia uma categoria entra em greve no Reino Unido e país vive em marcha lenta

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Em meio à maior onda de greves dos últimos 50 anos, o Reino Unido assiste perplexo à paralisação de dezenas de milhares de motoristas de ambulância, paramédicos e atendentes de linhas de emergência. Eles cruzam os braços nesta quarta-feira (21), um dia depois que enfermeiros pararam por todo o país. As autoridades pedem que as pessoas não vão a hospitais ou clínicas de família sem reconfirmar consultas ou até cirurgias. A administração dessas instituições teme pela segurança dos pacientes. 

Uma ambulância espera do lado de fora do St Thomas' Hospital em Londres, segunda-feira, 20 de dezembro de 2021.
Uma ambulância espera do lado de fora do St Thomas' Hospital em Londres, segunda-feira, 20 de dezembro de 2021. AP - Alastair Grant
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Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres

Os casos urgentes terão de ser priorizados. A preferência será para aquelas situações que oferecem maior risco de vida. Na lista, estão ataques cardíacos, por exemplo. Mas não necessariamente AVCs ou trabalhos de parto de estágio avançado. Vamos lembrar que o sistema de saúde nacional gratuito no Reino Unido, o NHS na sigla em inglês, já vinha trabalhando com poucos recursos e pouca gente.

Com o Brexit, milhares de funcionários de saúde deixaram o país e, desde a pandemia da Covid, tudo ficou ainda pior. Há uma imensa lista de pacientes que não foram atendidos ou procedimentos que ainda não puderam ser realizados. Muita gente tem esperado horas para fazer um exame nas emergências dos hospitais. Preocupado com os efeitos dessa greve, o governo convocou a ajuda das Forças Armadas. A ideia é evitar o caos.

Greve todos os dias

Daqui até o final do ano, não haverá um único dia sem uma categoria em greve no país. Os cálculos de especialistas indicam que o Reino Unido deverá registrar só neste mês de dezembro mais de 1 milhão de dias de trabalho parado. É um recorde para este século.

Algumas empresas sinalizam com acordos, mas todos têm sido considerados muito aquém das demandas. Os trabalhadores das diversas categorias querem reposição salarial por conta da inflação, que tem se mantido no nível mais elevado em 40 anos nos últimos meses. Querem também melhores condições de trabalho. Por enquanto, não há sinal de acordos.

O sindicato dos enfermeiros, por exemplo, pede um reajuste de 19% e diz que qualquer aumento abaixo dos níveis da inflação compromete a qualidade do serviço que oferecem, uma vez que dificulta a contratação de novos funcionários ou a retenção do quadro atual. Dizem que não querem reconhecimento, mas aumento. Eles foram aplaudidos diariamente durante semanas pela população, que se colocava nas ruas do país, durante a pandemia para agradecer o seu empenho.

As greves vão entrar pelo novo ano. Aliás, o sindicato dos ferroviários já avisou que, em vez dos quatro dias de paralisação previstos inicialmente para janeiro, farão outros dois.

Rishi Sinak não vai interceder

A posição do primeiro-ministro, Rishi Sunak, até agora, é a de que não pretende interceder. Nesta terça-feira (20), ele questionou a demanda dos enfermeiros e pediu que reconsiderassem se um greve era de fato necessária. A questão para o governo é que os reajustes, sobretudo da ordem que estão sendo pedidos pelas categorias, devem ser um fator de ainda mais pressão sobre os índices de inflação.

O problema é que a disparada do custo de vida reduziu o poder de compra de população e aumentou as desigualdades sociais. Há famílias inteiras que, em pleno inverno, estão tendo que escolher entre colocar comida na mesa e pagar a conta de energia, que, em menos de dois anos, subiu mais de 300%.

O país está em marcha lenta, quase parando. E isso só complica a tarefa deste governo conservador de fazer a economia voltar a crescer. O Reino Unido está em recessão. Daqui até o final do ano, haverá greve dos servidores que aplicam testes de direção para novos motoristas.

Cartões de Natal

Na semana anterior ao Natal, os carteiros estarão de braços cruzados. Nada pior para o comércio, que aposta neste que é o feriado mais esperado do ano pela população, que também adora enviar cartões de Natal: são mais de 1 bilhão por ano. Funcionários das companhias de ônibus, controle das estradas e da aduanas nos aeroportos, além de serviços de bagagem, sofrerão perturbações por conta de greves até o final do ano.

Ninguém consegue se programar para nada. As pessoas não sabem se haverá trens para sair para o trabalho. Até porque o efeito das paralisações nas ferrovias se estende pelos dias anteriores e posteriores aos das greves. Isso afeta também as entregas de mercadorias. Seja as encomendas das pessoas físicas ou aquelas feitas pelo atacado e varejo.

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