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Linha Direta

Turquia negocia avanço militar contra curdos na Síria com Rússia e Estados Unidos

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Governo de Ancara conversou com representantes da Rússia e dos Estados Unidos sobre operação que iniciou contra os curdos e demonstra liderança na fronteira. O presidente turco autorizou, no último dia 19, ataques aéreos contra as chamadas Unidades de Proteção Popular, o grupo curdo do lado sírio. A operação começou dias depois de um atentado na Istiklal, principal avenida turística de Istambul, matar seis pessoas.

O Ministro da Defesa turco Hulusi Akar visita o Centro de Operações das Forças Terrestres em Ancara, Turquia, 21 de novembro de 2022.
O Ministro da Defesa turco Hulusi Akar visita o Centro de Operações das Forças Terrestres em Ancara, Turquia, 21 de novembro de 2022. REUTERS - DEFENCE MINISTRY
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Fernanda Castelhani, correspondente da RFI em Istambul

Nesta quinta-feira (24), o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, falou por telefone com o equivalente russo, Sergey Shoigu, e reforçou a necessidade de impedir a formação do que ele chamou de "corredor terrorista" na fronteira. Akar também conversou com o embaixador dos Estados Unidos em Ancara, Jeff Flake. Dos dois, o ministro russo ouviu pedidos de moderação na ofensiva.  

Nas três operações militares que a Turquia liderou no norte da Síria nos últimos seis anos, houve desavenças com russos e americanos. Diante dos novos bombardeios e iminência de ataques por terra, o contato de Ancara com Washington e Moscou tem sido de muito aviso prévio.

Não é de hoje que o presidente Tayyip Erdogan planeja uma grande operação militar e prepara o terreno para adentrar áreas já também ocupadas por tropas russas e americanas na Síria.

Atentado em Istambul motivou operações

As autoridades turcas atribuem a explosão ocorrida em Istambul ao grupo armado curdo PKK, que nega autoria do ataque. Os curdos do lado sírio afirmam que esse atentado foi um pretexto para que o presidente turco fizesse o que ele pretendia havia tempo.

Em maio, Erdogan já tinha anunciado a intenção de relançar a ofensiva, tendo como principal argumento os curdos, que hoje hoje controlam mais de 30% da Síria.

A Rússia mantém tropas na Síria para apoiar o regime de Damasco contra a insurreição iniciada em 2011. Apesar do suporte a Bachar al-Assad, a posição de Moscou é estratégica para dar respaldo a outro aliado na região, o Irã, além de barrar os avanços do rival Estados Unidos no Oriente Médio.

Washington perdeu bastante influência na Síria ao decidir, em 2019, retirar tropas do norte do país. Depois disso, a Turquia ganhou de Moscou mais reforço.

A relação da Casa Branca com a Turquia também estremeceu quando os americanos armaram os curdos do lado sírio, considerados terroristas pelo governo de Ancara, para derrotar os terroristas do grupo Estado Islâmico. Agora, as autoridades americanas alertam sobre o impacto dos ataques turcos como uma ameaça à segurança dos americanos que ainda estão na Síria justamente para impedir o avanço dos islamistas radicais.

Na visão dos curdos, hoje falta posicionamento tanto dos Estados Unidos quanto da Rússia em relação à atuação da Turquia. Por um lado, Ancara é aliada dos americanos na OTAN e, por outro, tem tido papel fundamental na mediação da guerra entre Rússia e Ucrânia.

O jornal turco Hurriyet, favorável ao governo, afirma até que, após o atentado na avenida Istiklal, tanto Estados Unidos quanto Rússia abriram espaço aéreo na Síria para a Turquia – o que leva a crer que, por ora, não haverá resistência internacional à empreitada turca. 

Eleição turca: Ofensiva externa contra ameaça interna

O atentado de Istambul evocou as lembranças dos ataques que também rondaram as tensas eleições de 2015 e pode levar a outra campanha eleitoral focada na segurança, por parte de Erdogan. No poder desde 2003, quando entrou como primeiro-ministro, ele agora volta a reforçar temas que costumam acompanhar os discursos públicos dele: segurança interna e ameaça externa, em sua busca de popularidade para mais um mandato.

Num momento em que o país vive sua pior crise econômica dos últimos 20 anos, a retórica antiterror ressoa em alguns segmentos da sociedade. São 4 milhões de sírios vivendo em território turco e o ressentimento contra imigrantes também ganha notoriedade na briga por empregos.

Apesar de a inflação oficial já estar em 85% – sendo apontada por analistas, na verdade, como o dobro disso –, Banco Central turco diminuiu ainda mais a taxa de juros, passando de 10,5% para 9%. Tayyip Erdogan usa o argumento religioso para explicar sua política de redução: o pagamento de juros é contrário ao Islã. Bancos islâmicos, por exemplo, não utilizam essa política monetária.

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