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Linha Direta

A espera de ministério inédito, novas deputadas indígenas protestam na COP27

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Na expectativa de definições sobre o futuro ministério dos Povos Originários, prometido pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, as duas novas deputadas indígenas eleitas na última eleição, Sônia Guajajara e Célia Xakriabá, participaram de um protesto em frente ao estande oficial da delegação brasileira na COP27, no Egito, junto a outras lideranças indígenas femininas.

Mulheres indígenas circulam em destaque na COP27, no Egito.
Mulheres indígenas circulam em destaque na COP27, no Egito. © Lucia Muzell/ RFI
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Lúcia Müzell, enviada especial a Sharm el-Sheikh

Nos últimos anos, as mulheres assumiram o protagonismo da luta contra as invasões das suas terras, os crimes ambientais e o avanço desregulado do agronegócio. Na Conferência do Clima da ONU, elas encontram o palco ideal.

No hub do Brasil, onde a movimentação estava fraca nesta terça-feira (15), no apagar das luzes do governo Bolsonaro, integrantes da delegação oficial observaram a movimentação com um certo constrangimento. “Vamos dançar, balançar o caximbó, quero ver o Bolsonaro amarrado no cipó", cantavam, depois de declamar apoio a Lula e circular pelo pavilhão, atraindo atenções da imprensa e dos participantes.

Nesta quarta-feira (16), o petista participará da conferência e poderá anunciar o nome que deverá assumir o ministério prometido durante a campanha, num compromisso reiterado após a vitória no segundo turno. Lula também deseja que a Funai (Fundação Nacional do Índio) seja presidida por um indígena.  

“Eu acho que seria ótimo se ele reafirmasse aqui a criação do ministério, porque aqui ele é uma voz que fala para o mundo. Mas mais importante do que anunciar aqui é criar o espaço de diálogo para que o movimento indígena possa estar participando diretamente junto a essa equipe de transição para o novo governo”, disse Sônia, em entrevista à RFI. “Nós temos um bom caminho a andar até que esse ministério seja criado, para definirmos melhor o status dele: se é articulador de políticas, se é executor, se vai ter orçamento. E então a gente poder definir o perfil de quem pode assumir. Para nós, ele é uma forma de reparação por toda a negação dos direitos e a invisibilidade que existe, no Brasil, com os povos indígenas.”

Sônia Guajajara é uma das lideranças indígenas mais respeitadas
Sônia Guajajara é uma das lideranças indígenas mais respeitadas © Lucia Muzell/ RFI

Reparação histórica

Lula tem declarado que o seu governo pretende marcar a integração dos indígenas na tomada de decisões sobre eles mesmos. O presidente eleito chegou no Egito na última madrugada e, nesta terça, Sônia participou de conversas com a equipe de transição a respeito do tema.

“O melhor nome será anunciado na melhor hora. Entendemos a importância de fazer isso pautados na autonomia, nas consultas aos movimentos indígenas”, salientou Célia. “E estaremos juntas, comprometidas com a bancada do cocar, para entender o fortalecimento desse ministério, porque se nós somos a solução número 1 para conter as mudanças climáticas, como afirma a própria ONU, nós queremos e precisamos fazer presença nos outros ministérios: no Meio Ambiente, na Cultura, na Educação.”

Na última eleição, Célia Xakriabá foi eleita pelo Psol de Minas Gerais.
Na última eleição, Célia Xakriabá foi eleita pelo Psol de Minas Gerais. © Lucia Muzell/ RFI

Apesar de ressaltar que “a luta continua”, em meio a um Congresso cada vez mais avesso às pautas ambientais, Sônia e Célia demonstram otimismo com o novo governo.

“A chegada do suposto progresso tem sido o progresso da morte para os povos indígenas, e Lula chega com o compromisso importante de barrar o desmatamento ilegal e o garimpo”, disse Célia. “Nós temos falado que contra a mineração, somente ‘mulheração’. Nós chegamos para ‘mulherizar’ e ‘indigenizar’ a política – porque onde existe indígena, existe floresta”, comentou a deputada, eleita pelo Psol de Minas Gerais.

Negociações na COP

As futuras parlamentares reconhecem que, sem Bolsonaro, o Brasil volta a reconquistar o peso que sempre teve nas conferências sobre as mudanças climáticas da ONU, mas os desafios permanecerão grandes nas negociações internacionais. Nesta COP27, é a definição de um mecanismo estruturado para viabilizar recursos financeiros para compensar as perdas e danos sofridos pelos países mais vulneráveis que assume o foco do evento. Mais uma vez, o eterno embate entre economias desenvolvidas e em desenvolvimento ocupa o centro das negociações.

“A eleição de Lula é muito importante, mas não vai resolver os históricos problemas, principalmente em relação à COP, porque é um espaço global, com muitos chefes de Estado com opiniões diferentes”, disse Sônia. “Nós vamos ter muito caminho pela frente, até porque temos a desconstrução de muitas políticas que já estavam garantidas e agora teremos que refazer tudo. Mas estamos, sim, otimistas, porque pelo menos agora a gente sabe que é possível um diálogo”, complementou.

A agenda de dois dias de Lula na conferência reserva um espaço para prestigiar os povos originários, na tarde de quinta-feira. A estreia do ex-presidente no evento acontece na manhã desta quarta, com a participação dele em um evento com seis dos nove governadores da Amazônia – Antônio Waldez Góes da Silva, do Amapá, Gladson de Lima Cameli, do Acre, Mauro Mendes, do Mato Grosso, Helder Barbalho, do Pará, Wanderlei Barbosa, do Tocantins, e Marcos Rocha, de Rondônia.

A tarde, o presidente eleito fará um pronunciamento na plenária do evento, diante dos 197 países participantes da COP27.

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