Acessar o conteúdo principal
Linha Direta

Com apoio 'integral' dos EUA, Colômbia retoma negociações de paz com grupo guerrilheiro

Publicado em:

As negociações de paz entre a guerrilha Exército de Libertação Nacional (ELN) e o governo da Colômbia serão retomadas em novembro, após quatro anos de impasse. A reunião de ajuste entre as partes aconteceu na terça-feira (4), em Caracas. Em cinco décadas, esta é a terceira tentativa de negociação com o ELN. O que pode ser decisivo, desta vez, é o empenho do presidente colombiano de esquerda, Gustavo Petro, que visa a "paz total", e o apoio de Washington ao "enfoque integral" proposto por Petro.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o presidente de Colômbia, Gustavo Petro, em Bogotá, na Colômbia. 3 de outubro de 2022.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o presidente de Colômbia, Gustavo Petro, em Bogotá, na Colômbia. 3 de outubro de 2022. REUTERS - LUISA GONZALEZ
Publicidade

Elianah Jorge, correspondente da RFI na Venezuela

Venezuela, Cuba e Noruega serão mediadores dos diálogos. Pacificar a última guerrilha em ação na Colômbia foi uma das promessas feitas pelo presidente colombiano de esquerda, Gustavo Petro, em seu discurso de posse, em 7 de agosto deste ano. O local que sediará as negociações ainda não foi definido, mas será provavelmente rotativo entre Venezuela, Cuba e Noruega.

O restabelecimento dos diálogos entre o governo colombiano e o ELN foi um dos temas abordados pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken, que esteve em visita a Bogotá no início da semana, e o chanceler colombiano, Alvaro Leyva, que foi recebido em Caracas pelo líder venezuelano, Nicolás Maduro.

Nesta etapa de reaquecimento dos diálogos se reuniram em La Casona, a antiga residência presidencial, localizada em Caracas, integrantes do ELN, um comissário do governo da Colômbia e representantes da Venezuela, Cuba, Noruega e da Igreja Católica, junto com uma missão de verificação da ONU. As partes divulgaram um comunicado, no qual definiram reinstalar a mesa de negociações com as respectivas delegações; retomar o conjunto de acordos e progressos alcançados desde a assinatura da agenda de pacificação, datada de 30 de março de 2016; e anunciar o restabelecimento do diálogo. 

Em setembro, Petro enviou uma carta a Maduro pedindo que a Venezuela fosse um dos países mediadores dos diálogos de paz com o ELN. Pacificar a Colômbia colocando fim aos grupos paramilitares é uma das prioridades do novo governo de esquerda da Colômbia.

Carro-bomba

Os diálogos foram congelados por determinação do ex-presidente Iván Duque (2018-2022), após a explosão de um carro-bomba na Escola de Cadetes General Santander, em Bogotá, em janeiro de 2019. O ataque matou 18 aspirantes ao Exército e deixou 68 feridos. Desde a suspensão das negociações, os líderes do ELN ficaram em Cuba. A delegação da guerrilha chegou à Venezuela no último domingo, proveniente de Havana.

Recentemente, Petro assinou um decreto que permite aos “negociadores do ELN reconectar com sua organização, suspender as ordens de captura e de extradição para tentar construir diálogos de paz e que deixem de ser guerrilha insurgente na Colômbia”, de acordo com comunicado divulgado em agosto deste ano pelo ministro da Defesa colombiano, Iván Velasquez Gómez. Graças ao decreto, os integrantes da guerrilha podem viajar aos países onde acontecerão os diálogos.

“Não é por negligência do ELN, mas pelos tempos impostos pelos governos”, afirmou à imprensa o líder do ELN, Antonio García, em referência à pausa nas negociações. Os elementos que permitem esse avanço, enfatizou García, são o reaquecimento das relações com a Venezuela, articulada com a posse de Petro e consolidada com o restabelecimento das relações diplomáticas entre Bogotá e Caracas, e mais recentemente a abertura das fronteiras terrestres, aéreas e fluviais. 

“Paz total”

Petro quer desmobilizar o ELN, o último grupo paramilitar ativo na Colômbia, para instaurar o ele chama de “paz total”. Caso consiga, esta será uma grande vitória de sua gestão. Pela primeira vez na história da Colômbia não existiriam grupos armados ilegais. Em 50 anos, esta é a terceira tentativa de negociação com o ELN. 

A guerrilha surgiu na década de 1960 quando um grupo de estudantes colombianos em Cuba se inspiraram na revolução de Fidel Castro. Eles criaram, então, o Exército de Libertação Nacional, grupo classificado como terrorista por Colômbia, Estados Unidos, Peru, Canadá e União Europeia. 

Apoio dos EUA

Enquanto integrantes do ELN, junto com os mediadores, a Igreja Católica e a missão de verificação da ONU ajustavam os detalhes para a retomada dos diálogos, Petro e a vice-presidente colombiana, Francia Márquez, receberam em Bogotá o secretário de Estado americano, Antony Blinken. Esta é a segunda visita de um alto funcionário dos Estados Unidos à Colômbia desde a posse de Petro.   

Blinken afirmou que seu país apoia com firmeza o enfoque integral proposto por Petro. Em declaração ao jornal colombiano El Espectador, o enviado norte-americano destacou: “Assinamos o acompanhamento ao capítulo étnico do Acordo de Paz, que é vital para uma paz duradoura, porque só será se a paz for inclusiva e se for garantido que a experiência, a história e os direitos dos povos afrocolombianos e da população indígena façam parte do processo". 

Petro usou as redes sociais para comunicar o avanço. “Em Caracas se reativam oficialmente os diálogos de paz entre o nosso governo e o ELN, junto aos países garantidores Venezuela, Cuba e Noruega”. No fim da tarde de terça-feira, Nicolás Maduro recebeu o chanceler colombiano, Álvaro Leyva. Pelas redes sociais, o presidente venezuelano agradeceu ao ministro de Relações Exteriores “por sua valiosa disposição ao encontro e entendimento”.

Paz e fim das desigualdades

De acordo com o líder guerrilheiro Antonio García, a paz não passa apenas pela deposição das armas, mas também pelo fim das desigualdades. 

A Colômbia é considerada um dos países mais desiguais do mundo. O final do governo de Iván Duque ficou marcado por violentos protestos. Em diversas partes do país, pessoas clamavam por melhores condições de vida. 

Além da pacificação, o governo de Petro quer reduzir as desigualdades. Para isso, ele vem implementando uma série de medidas, entre elas a reforma tributária – que vem desagradando a população.

De acordo com números extraoficiais, o ELN tem mais de 5 mil integrantes só na Colômbia. A guerrilha também tem ramificações na Venezuela e inclusive coopera com o governo Maduro nas proximidades da fronteira com a Colômbia e no estado de Bolívar, localizado no sul do território venezuelano, quase na fronteira com o Brasil. 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.