Acessar o conteúdo principal
Linha Direta

Vitória das forças reacionárias nas urnas mostra que PT está na corda bamba, diz analista

Publicado em:

O PL conquistou a maior bancada no Congresso e aliados do presidente superam a previsão de votos nos estados. Lula venceu com vantagem de 6 milhões de votos no 1º turno neste domingo (2), mas o crescimento de Bolsonaro na reta final torna o cenário imprevisível.

Diante do avanço da direita, analistas projetam um segundo turno imprevisível. Um dos motivos é que Lula sai com seis milhões de votos de vantagem, mas já havia conseguido tirar apoio de adversários por uma ampla campanha pelo voto útil. Já Bolsonaro cresceu na reta final, terá apoio de vários parlamentares e governadores eleitos.
Diante do avanço da direita, analistas projetam um segundo turno imprevisível. Um dos motivos é que Lula sai com seis milhões de votos de vantagem, mas já havia conseguido tirar apoio de adversários por uma ampla campanha pelo voto útil. Já Bolsonaro cresceu na reta final, terá apoio de vários parlamentares e governadores eleitos. AP - Eraldo Peres
Publicidade

Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

Não foi apenas a confirmação de um segundo turno após uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva mais apertada do que a projetada em pesquisas. O resultado nesse domingo mostra que a presença da extrema direita, que evoca o conservadorismo, a religião e o armamento, veio para ficar. Qualquer que seja o vencedor dia 30, o bolsonarismo já saiu vitorioso.

A começar pelo Congresso, onde o PL, partido de Jair Bolsonaro, comandado pelo ex-deputado Valdemar da Costa Neto, fez maior a bancada na Câmara, elegendo 99 deputados e 14 senadores. Além disso, aliados do presidente venceram nos estados ou passaram para a segunda etapa com votação maior do que a esperada, a exemplo do próprio presidente.

O resultado das urnas nesse domingo mostra que a presença da extrema direita, que evoca o conservadorismo, a religião e o armamento, veio para ficar e que qualquer que seja o vencedor dia 30, o bolsonarismo já saiu vitorioso.
O resultado das urnas nesse domingo mostra que a presença da extrema direita, que evoca o conservadorismo, a religião e o armamento, veio para ficar e que qualquer que seja o vencedor dia 30, o bolsonarismo já saiu vitorioso. AFP - SERGIO LIMA

Jair Bolsonaro alavancou votos na reta final, especialmente no sudeste, e fechou a primeira etapa com 43% dos votos válidos, cinco pontos percentuais atrás de Lula, que ficou com 48%. Na opinião do historiador Francisco Teixeira, da UFRJ, as forças de centro se esvaíram da política brasileira e o PT hoje está numa corda bamba.

“O PT e seus aliados à esquerda conseguiram uma sobrevida, mas uma sobrevida muito difícil. Em compensação, a direita se aglutinou fortemente e empoderou seus representantes. Não se trata de uma direita democrática, como em vários países da Europa e como seria o normal. No caso do Brasil, as forças mais reacionárias e que flertam com o fascismo são as forças que estão liderando o bloco de direita que sai vencedor destas eleições”.

Para outro analista ouvido pela RFI, Melillo Diniz, do Portal Inteligência Política, o movimento conservador ampliou ramificações. “É muito evidente que a onda conservadora comandada por Bolsonaro contaminou as disputas estaduais, trazendo um Congresso ainda mais próximo do cenário de Bolsonaro. Se antes o Senado, por exemplo, era um anteparo das decisões do governo aprovadas na Câmara, hoje a composição do Senado está bem mais próxima do núcleo de poder central”, avalia Diniz.

A polarização deu gás a candidaturas ligadas a Bolsonaro e Lula. O PT levou os governos do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte no primeiro turno. E vai disputar o segundo turno em estados como a Bahia, onde o candidato Jerônimo Rodrigues ficou na frente do adversário ACM Neto (União Brasil), tido como favorito.

Por sua vez aliados de Bolsonaro ganharam em estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal. No Rio Grande do Sul o ex-ministro Onys Lorenzoni (União Brasil) passou a dianteira e vai disputar o segundo turno com Rafael Leite  (PSDB), que acabou em segundo. Em São Paulo, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) aparecia em primeiro lugar nas intenções de voto, mas acabou atrás do ex-ministro de Bolsonaro, Tarcísio Freitas (Republicanos). Ainda em São Paulo e também contrariando as pesquisas, o astronauta e ex-ministro Marcos Pontes (PL) acabou levando a melhor sobre Márcio França (PSB) e ficou com a vaga para o Senado. No Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), aliado de Bolsonaro, venceu Marcelo Freixo (PSOL) já no primeiro turno.

Imprevisível

Diante do avanço da direita, analistas projetam um segundo turno imprevisível. Um dos motivos é que Lula sai com seis milhões de votos de vantagem, mas já havia conseguido tirar apoio de adversários por uma ampla campanha pelo voto útil. Já Bolsonaro cresceu na reta final, terá apoio de vários parlamentares e governadores eleitos, e pode agora herdar parte dos votos dos outros presidenciáveis.

“O segundo turno das eleições brasileiras vai ser complexo, difícil e pode ter cenas bastante duras e mesmo violentas. São dois polos, sem nenhuma mediação de centro democrática, onde grande parte dos votos de Ciro Gomes, mas também de alguns nanicos, com 600 mil, 800 mil, migrarão para Jair Bolsonaro”. Ele completa afirmando que “neste momento o Brasil se depara com a possibilidade real de continuidade de um dos mais duros, difíceis e cruéis governos que a República já teve.”

O analista Melillo Diniz também prevê um páreo duro e diz que, numa campanha ancorada no discurso de polarização, os eleitos ainda precisam mostrar quais projetos têm para tirar o país da crise. “Ganhe quem ganhar as eleições no Brasil, teremos ainda mais rota de colisão, confusão e a probabilidade de estacionarmos num conjunto de forças que não se encontra nem para solucionar os graves problemas do Brasil, muito menos para pactuar o mínimo necessário para enfrentar anos que virão com mais dificuldades na economia, nas contas públicas, na fome”.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.