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Linha Direta

Tribunal especial no México investiga assassinatos de jornalistas no país

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O Tribunal Popular Permanente, criado em 2021 pela Safer World For The Truth, que reúne organizações que defendem a liberdade de imprensa, está realizando uma audiência na Cidade do México com o objetivo de investigar assassinatos de jornalistas. O trabalho é feito com base em depoimentos e análises jurídicas de crimes ocorridos no México. Somente em 2022, oito jornalistas foram assassinados no país.

O Tribunal Popular Permanente, criado em 2021 pela Safer World For The Truth, que reúne organizações que defendem a liberdade de imprensa, está realizando uma audiência na Cidade do México com o objetivo de investigar assassinatos de jornalistas.
O Tribunal Popular Permanente, criado em 2021 pela Safer World For The Truth, que reúne organizações que defendem a liberdade de imprensa, está realizando uma audiência na Cidade do México com o objetivo de investigar assassinatos de jornalistas. © Divulgação
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Larissa Werneck, correspondente da RFI no México

O primeiro dia da audiência do Tribunal Popular, realizado nesta terça-feira (26) no Centro Cultural Casa del Tiempo, da Universidada Autônoma Metropolitana da Cidade do México, contou com o depoimento de testemunhas e familiares de jornalistas assassinados no país, além de jornalistas investigativos, pesquisadores e representantes das organizações Free Press Unlimited, Comitê para a Proteção de Jornalistas e Repórteres sem Fronteiras.

Na abertura do encontro, foram apresentados dados sobre crimes cometidos contra os profissionais de comunicação mexicanos. Segundo um relatório da organização Artículo 19, que trabalha pela liberdade de expressão e pelo direito de acesso à informação, desde o ano 2000, 153 jornalistas foram mortos no México, em retaliação ao trabalho que realizam. Somente no governo de López Obrador, foram 33; e oito foram assassinados desde o início de 2022. Além disso, um levantamento da organização Repórteres sem Fronteiras aponta que a impunidade em relação a crimes contra jornalistas mexicanos é de 95 por cento.

Durante a abertura, Jan-Albert Hootsen, do Comitê para Proteção de Jornalistas, apresentou dados ainda mais preocupantes. “Há mais de uma década, o México ocupa o primeiro lugar em assassinatos e desaparecimentos de jornalistas entre os países do hemisfério ocidental. Além disso, em nível mundial, é o país com o maior número de jornalistas desaparecidos e, neste ano, fica atrás, apenas, da Ucrânia, que está em guerra, em número de jornalistas assassinados.”, afirmou.

Jan-Albert Hootsen, do Comitê para Proteção de Jornalistas, apresentou dados preocupantes
Jan-Albert Hootsen, do Comitê para Proteção de Jornalistas, apresentou dados preocupantes © Divulgação

A jornalista investigativa Anabel Hernández, que há trinta anos trabalha cobrindo temas de violações de direitos humanos, casos de corrupção e a atuação das organizações de narcotraficantes no México, participou da audiência com um depoimento forte. Segundo Anabel, desde 2008 ela e sua família recebem ameaças, já tendo sido, inclusive, vítima de tentativas de homicídio. “Já denunciei ao Ministério Público, mas nunca fui ouvida. Algumas investigações foram abertas, mas os criminosos que me ameaçam continuam livres”, afirmou.

Ainda segundo a jornalista, é preciso identificar as causas estruturais para o crescente número de crimes contra os profissionais da imprensa que envolvem o governo e o sistema judicial. “A maioria dos políticos que chega ao poder vem de um sistema partidário viciado, com uma cultura de benefícios pessoais e de troca de favores, que inclui a compra de cargos e candidatos,  com infiltração de integrantes de organizações criminais, até mesmo nas diferentes esferas do poder executivo.”, finaliza Anabel.

A jornalista investigativa Anabel Hernández, que há trinta anos trabalha cobrindo temas de violações de direitos humanos, casos de corrupção e a atuação das organizações de narcotraficantes no México, participou da audiência
A jornalista investigativa Anabel Hernández, que há trinta anos trabalha cobrindo temas de violações de direitos humanos, casos de corrupção e a atuação das organizações de narcotraficantes no México, participou da audiência © Divulgação

Caso Miguel Ángel López Velasco

Milo Vela era o pseudônimo que Miguel Ángel López Velasco usava para escrever no jornal Notiver, de Veracruz, onde cobria crimes de corrupção, política e narcotráfico. No dia 20 de junho de 2011, ele, a esposa Agustina e o filho Misael, que trabalhava no mesmo jornal como fotógrafo, foram brutalmente assassinados, dentro de casa. Quase onze anos depois, a investigação do crime continua aberta e ninguém foi preso.

Os assassinatos de Miguel Ángel, sua esposa e seu filho, ocorreram apenas um mês depois do sequestro e assassinato de Yolanda Ordaz de la Cruz, que era colega de trabalho de Miguel Ángel. A investigação desse caso, também não foi concluída. Segundo dados oficiais, desde o ano 2000, 31 jornalistas do estado de Veracruz foram assassinados e quatro estão desaparecidos.

O crime contra Miguel Ángel se tornou emblemático e será o foco do segundo dia da audiência do Tribunal Popular, nesta quarta-feira (27). “Escolhemos o caso de Milo Vela porque ele representa o fracasso das autoridades mexicanas. Consideramos que ele ilustra perfeitamente as deficiências da Justiça local de Veracruz e, também, da Justiça federal. Queremos também, com ele, homenagear todos os jornalistas que perderam a vida realizando seu trabalho no México e em todos os lugares do mundo”, afirmou Emmanuel Colombié, diretor regional da organização Repórteres sem Fronteiras na América Latina.

Primeira audiência do Tribunal Popular foi realizada em Haia

Criado em novembro de 2021, o Tribunal Popular realizou a sua primeira audiência na cidade de Haia, nos Países Baixos. Na ocasião, o assassinato de jornalistas foi considerado um problema sistêmico. Além disso, foram discutidos os impactos da impunidade no trabalho jornalístico e no direito à informação.

Até hoje, quatro audiências já foram realizadas. Além do México, crimes contra jornalistas do Siri Lanka e da Síria também foram investigados. A audiência de encerramento do Tribunal será realizada no dia 20 de junho, também em Haia. Na ocasião, serão divulgadas as conclusões finais e as recomendações para que os governos trabalhem de maneira efetiva na prevenção e investigação desses crimes.

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