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Linha Direta

Alemanha é pressionada a cortar importação de combustíveis russos após massacre em Bucha

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As imagens chocantes de cadáveres nas ruas de Bucha, na periferia de Kiev, aumentam a pressão para que a Alemanha concorde em fechar os últimos canais de financiamento de Moscou. Mas Berlim continua rejeitando um embargo total aos combustíveis fósseis russos, embora prometa cortar mais rapidamente sua dependência energética da Rússia após os relatos das atrocidades na Ucrânia. 

Um painel mostra os preços dos combustíveis por litro em um posto de gasolina em Ebersburg, no centro da Alemanha, em 7 de março de 2022.
Um painel mostra os preços dos combustíveis por litro em um posto de gasolina em Ebersburg, no centro da Alemanha, em 7 de março de 2022. REUTERS - THILO SCHMUELGEN
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Marcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim

O governo alemão não está enfrentando só pressão de vizinhos da União Europeia, mas já começa a ocorrer certo ruído dentro do próprio governo. Diante das imagens chocantes da matança de civis em Bucha, a ministra alemã da Defesa, Christine Lambrecht, afirmou que está na hora de a União Europeia discutir não apenas mais sanções contra Moscou, mas também um corte na compra de gás russo. 

A declaração vai contra a linha do governo alemão, que rejeita um embargo total e imediato aos combustíveis russos. Tanto o chanceler alemão, Olaf Scholz, como o ministro da Economia, Robert Habeck, descartam essa medida. Após o massacre em Bucha, Habeck afirmou que a Alemanha vai preparar um quinto pacote de sanções contra a Rússia juntamente com os aliados europeus.

Na segunda-feira (4), numa outra medida em resposta à guerra, Berlim anunciou que assumirá temporariamente o controle da subsidiária alemã da empresa russa de gás Gazprom. O Ministério da Economia ordenou que a agência federal que gerencia as redes de energia administre a filial alemã da empresa russa até setembro para garantir o abastecimento de energia ao país.

Christine Lambrecht afirmou que está na hora de a União Europeia discutir não só mais sanções contra Moscou, mas também um corte da compra de gás russo.
Christine Lambrecht afirmou que está na hora de a União Europeia discutir não só mais sanções contra Moscou, mas também um corte da compra de gás russo. REUTERS - BRENDAN MCDERMID

Dependência da Rússia

As autoridades alemãs destacam que as consequências de um embargo energético total nesse momento seriam devastadoras para a economia do país. A Alemanha tem uma grande dependência dos combustíveis russos, sobretudo o gás natural comprado de Moscou. Mais de metade do consumo alemão deste produto é proveniente da Rússia. 

Berlim planeja reduzir drasticamente a dependência energética da Rússia, mas o governo alemão destaca que isso não pode ocorrer da noite para o dia. O plano alemão é diminuir drasticamente essa situação até meados de 2024. Já as importações de carvão da Rússia devem ser paralisadas no segundo semestre desse ano e as compras de petróleo de Moscou pela Alemanha devem ser cortadas até o final do ano. 

A ideia é aumentar os investimentos em energias renováveis e buscar novas alternativas de fornecedores em outras partes do mundo. Para isso, estão sendo realizados esforços para introduzir "um quase embargo", diz Habeck. O ministro alemão cita como exemplo medidas de economia de energia e diversificação, incluindo a compra de gás liquefeito dos Estados Unidos. 

A pressão dos vizinhos da Alemanha, principalmente dos Estados bálticos e da Polônia, também vem crescendo. Na segunda-feira, o governo alemão foi acusado por Varsóvia de impedir sanções mais duras da União Europeia contra Moscou. O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, classificou Berlim como "o principal obstáculo" para a determinação de medidas mais duras contra a Rússia. 

O chefe de governo polonês também disse que "todos que leem as anotações das reuniões da UE sabem que a Alemanha é o maior freio quando se trata de sanções mais decisivas". Morawiecki chegou até a criticar a ex-chanceler Angela Merkel, afirmando que ela contribuiu para o fortalecimento da Rússia.

Zelensky critica Merkel e Sarkozy

Uma crítica similar foi feita pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que acusou Merkel de ser, junto com o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, corresponsável pelas atrocidades de Bucha, através do que ele chamou de "política de concessões" em relação à Rússia.

A ex-chanceler alemã veio a público na segunda-feira para se defender. Ela se disse, através de sua porta-voz, que apoia os esforços da Alemanha e da comunidade internacional para ajudar a Ucrânia a se defender contra a guerra lançada pela Rússia.

A reação de Merkel não chegou a ser um mea-culpa como o do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, que recentemente admitiu ter se enganado em relação à Rússia. Ex-ministro das Relações Exteriores, ele promoveu por anos uma política de reaproximação em relação a Moscou. No entanto, confessou ter errado ao promover o gasoduto Nord Stream 2, entre Alemanha e Rússia. Steinmeier disse que insistiu na construção de uma "ponte na qual a Rússia não acreditava mais e contra a qual outros parceiros nos alertaram". 

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