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Linha Direta

Guerra na Ucrânia ajuda Orbán a se reeleger para 4° mandato consecutivo à frente da Hungria

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O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, venceu as eleições legislativas no domingo (3) com 53% votos dos eleitores, que aprovam a sua posição na guerra da Ucrânia e na defesa de valores cristãos mais tradicionais. Com a vitória, o líder ultranacionalista do Fidesz, o único dirigente europeu que apoia abertamente o presidente russo, Vladimir Putin, garante sua sobrevivência política e o quarto mandato consecutivo no poder. 

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, durante discurso da vitória, em Budapeste, 3 de abril de 2020.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, durante discurso da vitória, em Budapeste, 3 de abril de 2020. REUTERS - BERNADETT SZABO
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Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

As eleições na Hungria foram sem dúvida ofuscadas pela guerra na Ucrânia, mas o conflito possivelmente ofereceu a Viktor Orbán a garantia de vitória nas urnas. A campanha eleitoral foi profundamente marcada pela invasão russa no país vizinho e o premiê húngaro preferiu investir em uma autoimagem de “guardião da estabilidade”.

No mês passado, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu a Orbán para que a Hungria deixasse de comprar petróleo e gás russos e que permitisse o transporte de armas da Otan pelo território húngaro em direção à Ucrânia. Ambos os pedidos foram negados. O líder do Fidesz justificou sua decisão como uma medida para zelar pela segurança do seu país e mantê-lo fora da guerra. A postura de Orbán foi muito bem recebida por seus eleitores e parece ter contribuído para sua vitória nas urnas.

No entanto, a estreita relação de amizade entre Orbán e Putin e o apoio ao Kremlin neste momento parecem ser o argumento mais plausível para a recusa de Budapeste. Recentemente, a Polônia, República Tcheca e Eslováquia, que junto com a Hungria formam o grupo de Visegrado, criticaram a postura do premiê húngaro por estar mais próximo da Rússia do que de Bruxelas. 

Um dos líderes mais longevos da União Europeia, Orbán despontou como um ferrenho defensor das políticas anti-imigração do bloco e um leal parceiro de Putin ao recusar novas sanções contra Moscou. Bruxelas tem feito duras críticas a Viktor Orbán pelos múltiplos ataques ao Estado de direito na Hungria promovidos por seu governo. Resta saber até quando o líder populista e sua democracia iliberal vão conseguir se manter no poder.

Vitória contra a esquerda e Bruxelas

Orbán discursou para seus eleitores na sede do partido Fidesz, em Budapeste. “Nós obtivemos uma vitória tão grande que pode ser vista da Lua, e certamente será vista de Bruxelas." 

O premiê húngaro, no poder desde 2010, que é considerado o dirigente mais problemático do bloco europeu, afirmou que “tivemos que lutar contra grandes forças: a esquerda daqui, a esquerda internacional, os burocratas de Bruxelas, o dinheiro do império de George Soros [o multimilionário húngaro que é o alvo preferido de Orbán], a mídia internacional e até Zelensky – o presidente da Ucrânia.” Ele ainda ressaltou que esta é uma vitória patriótica, pois o Fidesz tem “uma paixão chamada Hungria.” 

As pesquisas de opinião já haviam indicado que apesar da disputa acirrada, Viktor Orbán liderava as intenções de votos com 5 pontos percentuais a mais do que o candidato adversário, Péter Márki-Zay, líder do Movimento Hungria para Todos (MMM), uma coalizão de seis partidos da oposição, que obteve 35% dos votos. No atual contexto, a vitória expressiva do Fidesz – a quinta do populista Orbán - pode se transformar em um grande problema para a Otan e para a União Europeia. Ambas organizações podem estar se perguntando até quanto podem confiar no premiê de extrema direita por causa de sua proximidade com Putin.

Segundo os resultados do pleito, o Fidesz garantiu 135 das 199 cadeiras no Parlamento, mantendo a maioria de dois terços, enquanto o partido de oposição ganhou 56 assentos. Outro partido da extrema direita, o Mi Hazánk (Minha terra natal) venceu, pela primeira vez, obtendo 7 deputados. Orbán ganhou o voto de muitos eleitores idosos e pobres que defendem os valores cristãos tradicionais, além do voto de famílias que se beneficiam de incentivos fiscais e limite de preços do combustível e de alguns produtos alimentícios. 

Denúncias de irregularidades 

Analistas que acompanham o cenário político da Hungria de perto afirmam que há mais de uma década as eleições no país não são mais justas. Márky-Zay, o candidato derrotado, afirmou que “nós sabíamos antecipadamente que seria uma luta desequilibrada. Sim, eles trapacearam também, e já que não existe democracia na Hungria, eles ainda ainda modificaram todo o sistema eleitoral, os distritos.”

A coalizão Voto Limpo, que reúne quatro ONGs húngaras, disse ter recebido inúmeras denúncias de irregularidades. Entre elas, os eleitores que receberam 10.000 florins húngaros (cerca de R$ 140) pelo voto, e em outro local, a oferta de carne como incentivo. Houve também relatos de transporte ilegal de eleitores. A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) enviou mais de 200 observadores, mas ainda não se pronunciou sobre o resultado do pleito.

Segundo observadores internacionais, as eleições de 2018, também vencidas por Orbán, foram marcadas por fraudes e irregularidades como a intimidação e corrupção de eleitores, especialmente no interior do país em povoados pequenos, a falsificação de votos por correspondência ou o desaparecimento deles.  

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