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Linha Direta

Diante de grave crise econômica, Erdogan pode antecipar eleições na Turquia

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Diante da pior crise econômica dos últimos vinte anos, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, vê sua popularidade cair. No último ano, os preços subiram mais de 50%, enquanto a moeda nacional registra uma desvalorização recorde. Por isso, a oposição aposta na antecipação das eleições gerais.

Moeda turca vem batendo recordes de desvalorização desde o ano passado, enquanto economistas preveem uma inflação superior a 86% em 2022.
Moeda turca vem batendo recordes de desvalorização desde o ano passado, enquanto economistas preveem uma inflação superior a 86% em 2022. AP - Burhan Ozbilici
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Fernanda Castelhani, correspondente da RFI em Istambul

A um ano e meio das eleições gerais, não parece racional convocar o povo às urnas se o presidente não tem apoio para ganhar. Mas a decisão de antecipar pode ocorrer justamente porque a situação na Turquia deve piorar ainda mais

Kemal Kılıçdaroğlu, líder do principal partido de oposição da Turquia, o CHP, afirmou no sábado (8), que aposta que o pleito deverá acontecer em setembro, ou seja, nove meses antes da data esperada. 

Para garantir sua permanência por mais um mandato, de acordo com analistas, Erdogan vai ficar de olho nas pesquisas de intenção de voto para quando seu nome subir um pouco no ranking. Na última pesquisa de opinião local Metropoll, ele aparece em quarto lugar. 

Histórico de interferências constitucionais

A eleição, oficialmente marcada para junho de 2023, irá definir o próximo presidente turco e também os novos legisladores – lembrando que Erdogan já mudou a Constituição e passou o sistema de governo, que era parlamentar, para presidencial. Além de ter determinado a recontagem de votos nas eleições municipais de 2019, quando o candidato do partido governista perdeu as eleições municipais de Istambul. 

Erdogan está no poder desde 2003, quando foi designado como primeiro-ministro da Turquia. Por ora, ele continua dizendo que respeitará o calendário eleitoral, mas adota um tom de ameaça quando menciona a possibilidade de opositores tomarem as ruas em manifestações. Lembrando a tentativa de golpe de Estado de quase seis anos atrás, quando 250 pessoas morreram, o presidente turco afirmou que o país vai ensinar uma lição assim como o fez em 15 de julho de 2016.  

Mais desvalorização da moeda 

Na última semana, foi anunciada inflação oficial de 36,1% ainda que economistas digam que pode chegar a 83%. Em 20 de dezembro, Erdogan publicou um novo plano econômico que determina que, por três meses, quem não fizer saques em liras turcas terá o dinheiro bloqueado pelo governo. O projeto também prevê que se a moeda continuar a cair, o governo compensará as perdas. 

O objetivo imediato era frear a compra de dólar e estabilizar o câmbio. No dia em que o plano foi anunciado, a lira turca valorizou, passando de 18,5 para 11 por dólar. 

Ainda é muito cedo para dizer se a moeda vai estabilizar entre 13 e 14 para cada dólar – em comparação aos 7,4 no início do ano passado – ou se vai continuar flutuando. Enquanto isso, o presidente turco segue seu discurso contra o Ocidente, afirmando que “enquanto não tomarmos nosso próprio dinheiro como referência, estamos condenados a afundar”. Ele crê no aumento da manufatura e na exportação sem influência de moeda estrangeira. 

Economia baseada no Islã

Para Erdogan, o aumento da taxa de juros a mina a economia. É bom reforçar que a taxa de juros na Turquia não é baixa: está em 14%, só que não atrai a segurança dos investidores. Já foi de 19% em setembro, antes de sofrer quatro cortes seguidos. 

O presidente turco tem um argumento religioso para explicar sua política de redução. A exigência de pagamento de juros é contrária ao Islã. Bancos islâmicos, por exemplo, não utilizam essa prática. Mas 2022 já começou com aumento no bolso da população. O gás de cozinha subiu em 25%, a eletricidade em até 125% e o imposto sobre bebida alcóolica, em 47%. 

Para quem critica seu plano econômico, Erdogan determinou ação legal por perturbar a ordem pública. Até agora, 26 denúncias foram registradas, incluindo ex-chefes do Banco Central – instituição que já teve quatro presidentes em menos de três anos. 

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