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Linha Direta

Comitê da ONU contra desaparecimento de pessoas visita o México para propor ações de busca

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Delegação formada por dez integrantes da ONU visitará doze estados e espera se reunir com autoridades federais e estaduais para propor ações efetivas de busca de pessoas desaparecidas. Segundo dados oficiais, há mais de 94 mil casos de desaparecimentos no país.

Protesto do grupo "Famílias Unidas por Nuestros Desaparecidos de Jalisco". Atualmente, o México contabiliza mais de 94 mil pessoas desaparecidas no país.
Protesto do grupo "Famílias Unidas por Nuestros Desaparecidos de Jalisco". Atualmente, o México contabiliza mais de 94 mil pessoas desaparecidas no país. © Arquivo pessoal
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Larissa Werneck, correspondente da RFI no México

José Luís Aranda Aguilar tinha 34 anos e era dono de uma loja de luminárias em Tonalá, no estado de Jalisco, no México. Às 11h30 da manhã do dia 17 de janeiro de 2011, ele saiu de casa para encontrar o irmão e nunca mais voltou. Desde então, sua mãe, Maria Guadalupe Aguilar, chamada de Lupita pelos amigos e familiares, trava uma busca incansável pelo filho.

“Nesses dez anos fiz de tudo para encontrar o José Luiz. Viajei pelo país, conversei com autoridades, incluindo presidentes da República, na esperança de encontrá-lo. Mas, essa esperança vem diminuindo porque o governo do México não tem ações concretas e não apoia as famílias das vítimas”, diz Lupita que hoje é integrante do coletivo Famílias Unidas por Nuestros Desaparecidos de Jalisco.

José Luís faz parte de uma estatística impactante: a de mais de 94 mil pessoas desaparecidas no México, segundo dados do Registro Nacional de Pessoas Desaparecidas ou não Localizadas, da Secretaria de Governo. No entanto, esses números podem ser ainda maiores. Segundo o próprio governo, há mais de 52 mil corpos em todo o país sem identificação.

Maria Guadalupe Aguilar (à esquerda) trava uma busca incansável pelo filho José Luís Aranda Aguilar, desaparecido desde 2011.
Maria Guadalupe Aguilar (à esquerda) trava uma busca incansável pelo filho José Luís Aranda Aguilar, desaparecido desde 2011. © Fotomontagem RFI/ Arquivo Pessoal

Um problema histórico

O desaparecimento de pessoas não é um problema recente no México. Desde os anos 1970, quando os primeiros movimentos sociais e de oposição ao governo eram fortemente reprimidos pela polícia e pelo exército, os casos de pessoas desaparecidas começaram a ser denunciados. Já em 1977, foi criado o primeiro comitê de defesa de presos, perseguidos, desaparecidos e exilados políticos do país, mas foi nos anos 2000 que os desaparecimentos passaram a chamar atenção da opinião pública e da comunidade internacional.

Durante o governo de Felipe Calderón, por exemplo, entre os anos 2006 e 2012, teve início a uma política dura de combate ao narcotráfico e às organizações criminosas que aumentou a violência no país e que causou a morte de mais de 70 mil pessoas e deixou 26 mil desaparecidas.

Para os representantes das famílias de desaparecidos, não existem ações concretas do governo para resolver o problema.
Para os representantes das famílias de desaparecidos, não existem ações concretas do governo para resolver o problema. © Arquivo pessoal

Visita da ONU era aguardada desde 2013

Para conhecer de perto a realidade do México, dez representantes do Comitê das Nações Unidas Contra o Desaparecimento Forçado estão no México. Desde 2013 a ONU solicita uma visita ao país, mas só agora foi convidada para se reunir com as autoridades. O objetivo do Comitê é produzir um relatório no início do próximo ano com as conclusões e recomendações de ações investigação e prevenção de desaparecimentos.

A delegação fica no país até o dia 26 de novembro e durante esse período visitará 12 estados mexicanos e deve se reunir com autoridades federais e estaduais, além de representantes da sociedade civil e familiares das vítimas.

Ao receber a delegação da ONU, Alejandro Encinas, subsecretário de Direitos Humanos do México, reconheceu que o país vive uma crise humanitária, mas afirmou que o governo atual vem tomando ações para combater o problema, como a reinstalação do Sistema Nacional de Busca de Desaparecidos.

No entanto, para os representantes das famílias de desaparecidos, não existem ações concretas do governo para encontrar as pessoas. “O presidente Lopez Obrador ainda não recebeu os membros dos nossos movimentos. O que nós esperamos agora é que a ONU faça a pressão midiática necessária para que o governo do México tome medidas urgentes para encontrar as pessoas desaparecidas e também que as investigações sejam feitas em coordenação com as autoridades estaduais e federais. Além disso, eles precisam cobrar que o Estado mexicano invista em pessoas qualificadas para realizar o trabalho forense necessário para a identificação dos corpos”, afirma Lupita Aguilar.

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