Escândalos de corrupção diminuem popularidade de Boris Johnson no Reino Unido
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Enquanto tenta costurar um acordo ambicioso para o clima que confira protagonismo global ao Reino Unido sob sua liderança, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, perde popularidade interna por causas muito menos nobres. A reação estabanada do seu governo a acusações de corrupção contra membros do partido conservador levaram o premiê para o olho do furacão de uma crise política que ainda deve ter muitos desdobramentos.
Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres
Os resultados da conferência do clima em Glasgow agora dividem as primeiras páginas dos jornais britânicos com o escândalo de corrupção envolvendo parlamentares do partido conservador do primeiro-ministro. A crise é séria e, de certa forma, auto-infligida. Tudo começou com a suspensão de 30 dias de Owen Paterson, membro do partido conservador, depois que a comissão de ética independente do parlamento confirmou que ele teria recebido 100 mil libras, cerca de R$ 740 mil, para defender os interesses de duas empresas junto ao governo.
O grande equívoco da equipe de Boris Johnson foi não só tentar evitar a suspensão como também mudar às pressas as regras para este tipo de investigação. O que se queria era criar uma outra instância a que se pudesse recorrer em casos como esses. Por insistência da liderança do partido, os parlamentares defenderam e aprovaram as mudanças na semana na semana, apesar do evidente desgaste que traria para a legenda.
Os desdobramentos foram ainda piores. Nem a renúncia de Paterson foi capaz de aplacar as críticas e a pressão. O governo teve de voltar atrás e retirar o apoio à iniciativa, deixando na mão os parlamentares que votaram pelas novas regras. Tudo isso ficou muito feio para o partido e para Johnson. Ele próprio, não é de hoje, ainda deve explicações sobre reformas feitas na residência oficial onde mora com dinheiro de patrocinadores. Ou seja, a leitura é de que poderia estar legislando em causa própria.
Outros parlamentares estariam na mesma situação
O episódio abriu uma verdadeira caixa de pandora. Há denúncias de que outros parlamentares estariam na mesma situação. Um quarto deles teria um segundo emprego, o que, em tese, não é ilegal, desde que declarem os valores recebidos, o trabalho que estão fazendo e que não haja conflito de interesse. Mas pelo menos 32 estariam prestando consultorias para empresas e, isso, no entendimento de especialistas, não poderia acontecer, como estaria claro no regimento.
O que se tem agora é uma grande discussão sobre a ética parlamentar. E esses casos envolvem sobretudo integrantes do partido conservador. Desses 32, só dois não pertencem à legenda. Está marcada para a próxima segunda-feira uma reunião emergência da comissão de ética para tratar de como tornar as regras e punições ainda mais transparentes.
O prestígio que Johnson esperava obter com a sua atuação na COP26 está sendo ofuscado internamente pela confusão política. A popularidade do premier caiu para os níveis mais baixos do seu governo, segundo pesquisas realizadas logo depois do escândalo envolvendo Paterson. Neste meio tempo, também diminuiu a vantagem que ele mantém em comparação com o líder da oposição trabalhista Keir Starmer, agora, em seu menor nível, de apenas dois pontos percentuais de diferença.
A sorte do premier é que não há eleições previstas para o futuro próximo. Mas o desgaste do partido e da liderança entre os seus pares é inegável e vai pesar contra ele. Em entrevista à televisão no fim de semana, Starmer disse que o primeiro-ministro está destruindo a reputação da democracia do país.“É um comportamento de um primeiro-ministro que não sabe como manter os padrões da vida pública”, afirmou o líder trabalhista.
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