Inglaterra perde aposta com Eurocopa e torneio reforça preocupação com 4ª onda de Covid
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Era para a Eurocopa ser um momento de redenção pandêmica e política. A esperança da vitória, que não veio, levou os ingleses a desafiar o avanço do número de contaminações pela Covid que está no nível mais elevado desde janeiro devido à variante Delta. A uma semana de o governo britânico anunciar o fim das últimas restrições sanitárias, aglomerações marcaram o dia da final contra a Itália, nesse domingo (11) em Londres, e reforçaram as preocupações em relação a uma quarta onda de infecções.
Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres
A final da Eurocopa de futebol, vencida pela a Itália na disputa de pênaltis por 3 a 2, aumentou o clima de desconfiança sobre o quadro sanitário do país. A partida mobilizou dezenas de milhares de torcedores por toda a Inglaterra.
O público de 60 mil pessoas que lotou as arquibancadas do estádio de Wembley, boa parte deles sem máscaras ou distanciamento social, não é a única preocupação. O maior problema pode ter sido nos pubs, ponto de encontro de fãs de futebol por excelência no país. Estima-se que o consumo de pints de cerveja (a medida britânica que corresponde a 568 mililitros) nestes estabelecimentos tenha chegado a 13 milhões de unidades.
Festas na rua e em casa começaram bem antes do jogo propriamente dito. A “Fun Zone” montada na praça Trafalgar, no coração da capital, mesmo debaixo de chuva, recebeu cerca de 1.500 pessoas.
A questão é que o número de infecções diárias no país segue em alta, mantendo-se há uma semana acima de 30 mil novos casos. É verdade que este aumento não tem se refletido na mesma intensidade em hospitalizações e mortes, certamente em consequência do sucesso da campanha de vacinação e das restrições sanitárias vigentes.
Até agora, 66% da população já foi totalmente imunizada, e pouco mais de 87% já recebeu a primeira dose. Mesmo assim, a estimativa oficial é a de que os casos devem continuar subindo.
Fim das últimas restrições
Em uma semana, acabam os limites de seis pessoas reunidas em ambientes fechados. Os pubs vão poder voltar a ter filas na parte de dentro e receber clientes no balcão do bar. Cinemas, teatros e grandes eventos funcionar com capacidade máxima. Boates serão reabertas. Também acaba a obrigatoriedade do uso de máscaras e do distanciamento social. Estes dois itens têm criado polêmica entre especialistas.
Projeções do próprio governo sugerem que, após a reabertura total, o número de casos diários salte para 100 mil. Ainda que as hospitalizações não subam na mesma proporção, como têm mostrado as estatísticas, elas podem significar duas mil pessoas a mais por dia a pressionar o sistema público de saúde. Isso representaria duas vezes mais do que os números registrados no auge do inverno, quando sobem os casos de internações por doenças respiratórias.
Com o fim das restrições em vista, a Eurocopa era um diversionismo bem-vindo para um governo que tenta reabrir a economia num momento de recrudescimento das contaminações pela Covid, enquanto enfrenta problemas estruturais domésticos. A decoração em frente ao número 10 de Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro Boris Johnson, evidenciava o entusiasmo que uma eventual vitória significaria para o líder do governo, com popularidade em baixa. As múltiplas fileiras com bandeiras de papel da Inglaterra foram comparadas àquelas que se vêem em pubs populares.
Fla-Flu pós-Brexit
A final da Eurocopa foi além das divisões do futebol. Virou uma espécie de Fla-Flu pós-Brexit, em que os ingleses queriam se afirmar após deixar a União Europeia (UE), e os europeus queriam que a Inglaterra levasse uma lição.
Virou meme na internet um mapa da Europa em que todos os países torciam pela Itália, exceto, evidentemente o Reino Unido. Houve também certa esperança de que uma vitória pudesse significar uma espécie de reconciliação entre quem foi contra e a favor do Brexit.
Mas isso ocorreria somente na Inglaterra. O time em campo contra a Itália era a seleção inglesa. O Reino Unido é composto ainda pelo País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte. Os dois últimos falam cada vez mais em independência depois do Brexit.
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