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Linha Direta

Mensagem de Natal de Nicolas Maduro gera revolta entre venezuelanos

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O presidente da Venezuela Nicolás Maduro enviou, através dos canais estatais e das redes sociais, uma mensagem de fim de ano aos venezuelanos. No entanto, o país, afogado em uma hiperinflação, tem pouco para comemorar. Os venezuelanos estão reinventando os pratos natalinos com o que conseguem comprar. Até mesmo o pernil subsidiado pelo governo, que compõe um dos pratos da mesa natalina, em vez de alegria suscitou críticas e protestos.

Nicolás Maduro divulgou uma mensagem de Natal que gerou revolta nos venezuelanos, empobrecidos pela hiperinflação.
Nicolás Maduro divulgou uma mensagem de Natal que gerou revolta nos venezuelanos, empobrecidos pela hiperinflação. Yuri CORTEZ AFP
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Elianah Jorge, correspondente em Caracas 

O governo não poupou esforços, nem dinheiro, para gravar e veicular pelos meios estatais e redes sociais a mensagem de Natal deste ano. Na publicidade, em torno de uma mesa decorada, atores e personalidades ligadas ao chavismo sorriem. Eles entoam canções típicas através de um passeio pela cultura de diversas regiões da Venezuela.

No final do filme publicitário, aparece o casal presidencial, Cília Flores e Nicolás Maduro, ele vestido com um “liqui-liqui”, traje masculino típico do país. A primeira-dama afirma que este foi um “ano de provas superadas”, enquanto o presidente garante que “este povo transforma dificuldade em canto e o canto da esperança tem um só destino: a paz e a reconciliação”.

Pelas redes sociais, choveram críticas à cara produção enquanto a população aperta os cintos após o terceiro ano consecutivo de hiperinflação e de empobrecimento.

Reinventando a ceia

Sem poder fazer a tradicional ceia, uns reinventam as típicas comidas com o que conseguem comprar. O prato natalino venezuelano é composto pela hallaca (um bolo de milho recheado e envolvido em cascas de bananeira), pelo “pan de jamón” (ou pão de presunto), salada de galinha e pernil. A bebida é o “ponche crema”, feito com rum claro, gema de ovo e leite condensado. De sobremesa, doce de mamão verde.

O problema é o preço dos ingredientes. Tudo inflacionado e praticamente inacessível o cidadão comum. O natal deste ano será de contas feitas em dólares, contrastando com os baixos salários e com a enfraquecida moeda venezuelana.

Para fazer a hallaca, são necessários mais de $ 20. Já o pan de jamón, pão recheado com fatias de presunto especial, passas e azeitonas, custa entre $ 8 e $16. Para preparar a salada de galinha é preciso desembolsar cerca de $ 3,50 pelo quilo do frango, mais $ 1,5 pelas batatas e cenouras, sem contar os $ 3 do pote maionese que leva a receita. Já o pernil custa entre $6 e $ 12 o quilo. Para quem ganha 800 bolívares de salário mínimo, cerca de $0,80, isso é impossível.

A manicure María Martínez vai recriar a ceia. Ela vai fazer “tudo vegetariano, já que não dá para comprar carne”. Assim como ela, outros venezuelanos vão reinventar as comidas.

Algumas famílias se reúnem e cada um contribui com o que pode para assim ter a ceia. No entanto, uma celebração modesta virou o sonho de muitos por aqui. Nostálgicos, eles lembram de quando a economia do país permita grandes festas.

Apenas os ricos têm como celebrar o Natal como os venezuelanos estavam acostumados: bebendo uísque, com a mesa farta, roupa nova e muita festa.

Pernil de osso

Desde a época de Hugo Chávez, os inscritos nos programas sociais recebem, em dezembro, peças de pernil. Antes, a perna suína oferecida pesava cerca de seis quilos. Porém o pernil entregue este ano decepcionou e até gerou protestos.

Muitos venezuelanos se queixaram de que o pernil pesava cerca de 600 gramas e que, em alguns casos, tinha mais osso e gordura que carne suína. Além disso, houve denúncias de que o pernil era impróprio para o consumo. Uma decepção aos que pagaram cerca de um milhão de bolívares, pouco mais de um salário mínimo, para conseguir comer carne no fim do ano.

Com a crise, os venezuelanos das classes mais populares transformaram a dieta, antes carnívora, em uma alimentação basicamente vegetariana. Nos últimos meses a proteína que integra o prato dessas pessoas vem do ovo, de grãos e de vegetais.

O governo também ofereceu Bs. 5.070.000 de bônus de natal. No entanto, este com valor, equivalente a cerca de U$4,70, não permite comprar quase nada.

Venezuelanos continuam saindo do país

Maduro flexibilizou a quarentena sob a justificativa de que os casos de Covid-19 haviam caído. Isso foi antes da eleição parlamentar. No entanto, o presidente ameaçou radicalizar a quarentena ainda em dezembro, afirmando que os contágios voltaram a subir.

Com a abertura do aeroporto internacional, quem tem condições está saindo do país por via aérea. No entanto, as rotas são bem restritas. Há voos apenas para Bolívia, Turquia e México.

Mas o fluxo de pessoas que escapam do país pelas fronteiras, terrestres e marítimas ainda é alto. Cerca de 400 venezuelanos fogem todos os dias pela fronteira com o Brasil. Pela Colômbia este número é bastante maior.

Os casos mais graves são de pessoas que fogem em balsas. Nem todas chegam ao país de destino. Nos últimos dias subiu para 33 o número de venezuelanos que morreram afogados ao tentar chegar à Trinidade e Tobago, países insulares que estão a apenas 138kms da costa venezuelana.

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