Primeira semana da Eurocopa teve "Coca gate”, Eriksen ressuscitado e torcedores turistas
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As emoções da Eurocopa 2021 vão muito além da bola na rede. Nesta primeira semana da competição, a maior polêmica ocorreu fora dos gramados. Os jogadores têm o direito de se manifestar contra os interesses dos patrocinadores do evento?
Quem levantou a questão, propositalmente ou não, foi o craque português Cristiano Ronaldo – que, diga-se de passagem, é a maior estrela planetária das redes sociais. Instantes antes de uma entrevista, o jogador tomou o cuidado de afastar duas garrafinhas de Coca-Cola da sua frente e ressaltar que bebe água. Bastaram poucos segundos para a discussão ser lançada, ganhando até o apelido de “Coca gate”.
Na sequência, outros jogadores seguiram o exemplo de Cristiano Ronaldo: Paul Pogba com uma cerveja Heineken e o italiano Manuel Locatelli com outra Coca-Cola. As duas marcas de bebidas estão na lista de patrocinadoras da Eurocopa 2021.
Cristiano Ronaldo's body is a temple 😅 pic.twitter.com/zTnIgMwda5
— ESPN FC (@ESPNFC) June 15, 2021
"O impacto destes gestos levanta a questão dos patrocinadores em relação aos verdadeiros atores do jogo. A Coca Cola e a Heineken colocaram entre € 40 e 50 milhões para patrocinar a competição, mas através destes gestos, mesmo que os organizadores providenciem certos direitos e visibilidade, eles são questionados pelos próprios jogadores”, pontua o economista Vincent Claudel, especialista em futebol da consultoria Ineum. "É uma questão que talvez esteja colocada sobre o futuro do patrocínio."
A RFI ouviu outro especialista em marketing esportivo, Gérard Coudert, presidente do Centro de Direito e Economia do Esporte (CDES) da Universidade de Limoges, na França. Ele segue o mesmo raciocínio: "A superexposição midiática faz com que os menores gestos sejam julgados e repercutam nas marcas patrocinadoras. É algo que nunca passou pela cabeça da Uefa”, observa.
"Ela assinou esses contratos, que envolvem ela mesma e seus patrocinadores. Mas não acredito que neste documento esteja estipulado que os jogadores não possam fazer absolutamente nada que comprometa a imagem dos patrocinadores. Acho que, se até agora, esse aspecto nunca foi abordado, amanhã ele passará a ser. É algo totalmente novo”, ressalta Coudert.
Também teve quem preferiu aproveitar a situação para atrair ainda mais patrocínio, como o atacante húngaro Andriy Yarmolenko. Ele brincou numa coletiva, trazendo todas as garrafinhas em volta para perto de si, e disse: “Eu vi o Ronaldo fazendo isso e tive vontade de fazer. Coca Cola, Heineken, me liguem!” Até agora, nenhuma das marcas se posicionou sobre toda a polêmica.
"I’m taking Coca-Cola, I'm taking Heineken. Get in touch with me!” 😅@CocaCola, @Heineken, Andriy Yarmolenko wants to speak to you! 🤝#EURO2020 | #UKR pic.twitter.com/ma8hliC6Lg
— Goal (@goal) June 17, 2021
Torcedores-turistas
A Eurocopa também está sendo a primeira grande ocasião para os turistas europeus aproveitarem a flexibilização das medidas sanitárias, agora que a Covid-19 recuou no bloco. Os jogos acontecem em 11 países diferentes, para marcar os 60 anos da criação do campeonato.
A situação ainda está longe da ideal, com uso de máscaras, estabelecimentos fechados e sem as tradicionais e animadas fan zones. Mas depois de meses trancados em casa, os torcedores aproveitam essa oportunidade para trocar um pouco de ares.
E já tem torcedor acompanhando a sua seleção, onde ela estiver. No caso dos franceses, o fim de semana se passa na capital húngara, Budapeste. Os irmãos Jeremy e Antoine estavam animados para conhecer melhor o leste europeu, graças à Euro 2021.
"Vi que tem uma praia a 30 minutos daqui. Talvez a gente vá dar uma olhada. Tem também o Bastião dos Pecadores, um monumento lá no alto”, explicou Jeremy. "Pegamos um grande apartamento. Estamos vivendo que nem os húngaros, com uma vista magnífica do Parlamento e da cidade”, contou Antoine, à reportagem da RFI.
Para viajar dentro da Europa, é preciso apresentar um certificado de vacinação contra a Covid-19 ou um teste negativo para a doença, feito há menos de 48 horas.
Futuro de Eriksen no futebol é incerto
As imagens do meia dinamarquês Christian Eriksen, que perdeu a consciência aos 43 minutos da partida entre a Dinamarca e a Finlândia, no sábado passado, chocaram os telespectadores. Retirado do campo após longos minutos de convalescência, por uma parada cardíaca, o jogador permanece hospitalizado e as suas perspectivas para o futuro, por enquanto, não são animadoras.
Ao longo da semana, a equipe médica que atendeu o craque explicou que ele “morreu e foi ressuscitado" ali mesmo, no gramado. Eriksen terá de fazer um implante de um desfibrilador cardíaco no peito.
Na quinta-feira, a Dinamarca voltou ao campo, contra a Bélgica, no estádio de Parken, em Copenhague – a poucos metros de onde Eriksen está internado, como comentou o treinador Kasper Hjulmand logo antes da partida. "Tenho certeza que ele vai acompanhar o jogo. Da janela, talvez ele possa ver o estádio, portanto, ele pode provavelmente ouvir tudo, onde ele está. É uma situação bem maluca”, disse o treinador.
No começo do jogo, tudo parou por um minuto para homenagear o jogador. Ninguém pode garantir que o camisa 10 da seleção poderá voltar a jogar. Ele tem contrato com a Inter de Milão e, na imprensa italiana, cardiologistas especializados no esporte asseguram que a possibilidade de um jogador profissional atuar com um desfibrilador cardíaco está fora de cogitação.
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