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Esporte em foco

Rally Dakar 2024 começa na Arábia Saudita com recorde de pilotos brasileiros e roubo de piratas

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Nesta sexta-feira (5), o Rally Dakar abre o calendário do esporte a motor em 2024. Na sua 46ª edição, a principal competição off-road do mundo vai ser realizada na Arábia Saudita e conta com nada menos que 17 brasileiros entre os competidores. A delegação verde-amarela será a maior desde que a prova trocou a América do Sul pela Arábia Saudita, entre carros, UTVs e quadriciclos. Os pilotos brasileiros fazem parte de um grupo de 778 participantes inscritos, de um total de 72 nacionalidades.

Rodrigo Varela, do Team Brazil 2024, que teve seu veículo desviado por um ataque de piratas huthis no Mar Vermelho, pilota seu carro durante etapa do Sul-Americano de Rally.
Rodrigo Varela, do Team Brazil 2024, que teve seu veículo desviado por um ataque de piratas huthis no Mar Vermelho, pilota seu carro durante etapa do Sul-Americano de Rally. © Sanderson Pereira
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E a equipe brasileira, cheia de promessas, ganhou até apelido esse ano no Paris Dakar - "Team Brazil"-, e se instalou na última terça-feira (2) no primeiro dos 13 acampamentos previstos para a prova, em Al-Ula. A totalidade da prova constitui 7.891 km de percurso. O experiente piloto e navegador Lourival Roldan, em sua 12a participação no Rally Dakar, conversou com a RFI direto de Al-Ula, local de um oásis ocupado há mais de 5.000 anos, no coração do deserto saudita. Ex-campeão da prova, ele agora faz as vezes de navegador para o paraguaio Oscar Peralta, que realiza sua primeira disputa no circuito e contou alguma das informações táticas que recebeu junto com o grupo.

"Eles nos explicaram como vai funcionar do ponto de vista da organização; vamos ter sete acampamentos, assim que estiver próximo das 16h, vamos ter que parar em um desses locais. Tudo é uma questão de estratégias: se você está com um problema no carro, se ele está lento, e ainda faltam alguns minutos pra esse horário, você vai ver onde está parado o caminhão de apoio. Isso tudo é estratégia de equipe, onde se pensa, se planeja e se decide para fazer a melhor prova", argumenta o piloto brasileiro.

Roldan já completou nove vezes o circuito do Rally Dakar, uma verdadeira proeza, só abandonando a prova duas vezes: em 2010 e 2013, quando o veículo que conduzia quebrou e não pôde ser substituído a tempo. "Essa participação agora para mim é especial. Eu já estou com 65 anos e ganhar a confiança de um piloto com essa idade é importante para que ele possa acreditar no que você está fazendo. Como ele [o piloto paraguaio Oscar Peralta] está chegando no Dakar, ele precisa de uma pessoa com experiência e que corra bem", afirma o veterano.

Piratas levaram equipamento

Mas os fãs e torcedores do Rally Raid, o novo nome da modalidade Rally Cross Country da qual faz parte o Dakar, nem imaginam o que passaram alguns atletas brasileiros como o piloto Rodrigo Varela, que comemorava o Natal com a família quando chegou a notícia de que o navio cargueiro que levava seu carro, um UTV Can-Am, além de todas as peças sobressalentes e equipamentos, havia fugido de piratas huthis que abordavam as embarcações no Mar Vermelho

As informações são da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), que relata ainda que, impedido de fazer a rota prevista anteriormente, o navio atacado mudou o rumo para contornar todo o continente africano, o que alterou sua chegada em mais de 20 dias – inviabilizando a disputa da prova pelo piloto brasileiro. Mas a família Varela – um tradicional clã do esporte a motor brasileiro – iniciou os contatos para que o projeto da estreia de Rodrigo no Dakar não se encerrasse ali e o piloto acabou conseguindo um carro substituto.

“Mas ainda não temos todas as peças que vamos precisar durante o Dakar, que é uma corrida longa e exige muita manutenção. Para isso, estamos contando com a ajuda das outras equipes. O Dakar é um misto de corrida e aventura. E isso faz da solidariedade uma de suas marcas mais notáveis. As pessoas se ajudam quando podem”, comentou Varela em comunicado oficial da CBA. O incidente não foi um fato isolado. Uma semana antes, o governo dos Estados Unidos anunciou uma coalisão internacional para a difícil tarefa de proteger navios cargueiros que vinham sendo atacados por piratas no Mar Vermelho

Uma esperança brasileira 

Visto como o destaque da nova geração entre os principais pilotos desta que é a maior corrida off-road do mundo, o brasileiro Lucas Moraes entra agora em uma nova fase: desde novembro do ano passado, ele passou a ser piloto do time principal da equipe campeã da prova, a Toyota Gazoo Racing, substituindo ninguém menos que Nasser Al-Attiyah, pentacampeão do Dakar. 

Para Lourival Roldan, Lucas tem chance de vitória, assim como outros integrantes da equipe brasileira. "O Lucas é um piloto excepcional e podemos sim ter um campeão brasileiro esse ano, e não só ele; estamos com 17 brasileiros, temos o Marcos Baumgarten, que está super treinando com o navegador dele, o Kléber [Cincea], que teve que abrir uma prova recentemente e perdeu o medo dessa abertura, e eles tiveram um resultado excepcional, o pessoal só conseguiu ultrapassá-los depois do km 510, ou seja, rodaram muito sem ninguém na frente... Eu acredito que estamos com ótimos pilotos e navegadores nesse Dakar. É claro que a prova é longa, dura e vai dar trabalho para todo mundo", admite o veterano.

Embora ainda seja desconhecido na França, Lucas Moraes foi a revelação do Rally Dakar de 2023, terminando em 3º lugar geral na Arábia Saudita. Na verdade, ele nunca havia competido em um rally tão longo. Moraes é um daqueles pilotos que personificam o futuro da modalidade, aos 33 anos. Não é de se admirar que a Toyota Gazoo Racing tenha lhe oferecido um contrato para preencher a lacuna deixada pela saída de Al-Attiyah. Filho de um organizador de ralis, o brasileiro já domina o equilíbrio das pistas entre ataque e cautela ao longo dos milhares de quilômetros do Rally Dakar.

Roldan aproveitou ainda para deixar algumas dicas para as novas gerações de pilotos brasileiros. "Como todo Dakar, a gente tem que preservar o carro, ganha quem chega... Você tem que decidir quando vai forçar o carro, não pode correr risco de danificar o equipamento, mas também não pode andar devagar. Se você fica lá trás, você pega mais poeira, muita erosão de caminhão, que a gente chama de 'facão'", aponta.

O experiente piloto e navegador Lourival Roldan, campeão do Rally Dakar em 2017.
O experiente piloto e navegador Lourival Roldan, campeão do Rally Dakar em 2017. © Divulgação

"Futuro do Rally"

Quando o assunto são os UTVs, essa é a classe que mais conta com brasileiros inscritos na competição.  UTV é a sigla para Utility Task Vehicle, ou veículo utilitário multitarefas, em inglês, aqueles carrinhos esquisitos, um intermediário entre um carro e um quadriciclo. Na T3, de protótipos e modelos de maior preparação, o navegador brasileiro Gustavo Gugelmin vai estar ao lado do piloto norte-americano Austin Jones.

Lourival Roldan acredita que a categoria UTV deve ser o futuro do Rally. "Estou animado. UTV é muito melhor para você passar em dunas, é muito mais fácil para não atolar e mesmo para desatolar, é um veículo no qual você consegue se divertir bastante, ele vai de 0 a 100 km/h muito rápido. Então eu acredito que o futuro do Rally está aí, a gente está vendo como essa categoria está crescendo, inclusive em várias marcas como Toyota entrando nesse nicho e a gente vê vários fabricantes com protótipos. UTV será portanto a categoria com mais veículos no Dakar logo, logo", diz. 

Já Marcelo Gastaldi se une a Cadu Sachs, marcando o retorno da dupla ao Dakar. Gunther Hinkelmann está em dupla com Fabrício Bianchini. Lourival Roldan, veterano da corrida que conta com título no Dakar, será dessa vez o navegador do paraguaio Oscar Peralta. Pra finalizar, na categoria T4, Cristiano Batista corre com o português Fausto Mota, enquanto Jorge Wagenfuhr corre ao lado de Huberto Ribeiro, enquanto Rodrigo Varela faz dupla com Enio Bozzano.

Outro destaque também a ser mencionado é da equipe X Rally, dos irmãos Baumgart, que competirá na principal categoria dos carros, a Elite. Marcos Baumgart vai contar com Kléber Cincea e Cristian Baumgart está junto de Beco Andreotti. Nos quadriciclos, o maranhense Marcelo Medeiros, que alcançou vitórias em etapas nos últimos anos, é quem vai representar o Brasil no Rally Dakar de 2024. 

A 46ª edição do Rally Dakar acontece até o dia 19 de janeiro na Arábia Saudita.

Conheça a formação brasileira no Rally Dakar 2024

 

CATEGORIA CARROS T1+

Lucas Moraes (Brasil)|Armand Monleon (Espanha) - GR Hilux DKR T1+

Marcos Baumgart (Brasil)|Kléber Cincea (Brasil) - Prodrive Hunter T1+

Cristian Baumgart (Brasil)|Beco Andreotti (Brasil) - Prodrive Hunter T1+

QUADRICICLO

Marcelo Medeiros (Brasil) - Yamaha YFM 700 Raptor

UTV – PROTÓTIPO (T3)

Austin Jones (EUA)|Gustavo Gugelmin (Brasil) - Can-Am Maverick XRS

Marcelo Gastaldi (Brasil)|Cadú Sachs (Brasil) - UTV MCE-5

Gunter Hinkelmann (Brasil)|Fabrício Bianchini (Brasil) - UTV MCE-5

Oscar Peralta (Paraguai)|Lourival Roldan (Brasil) - Can-Am Maverick T3

UTVs DE PRODUÇÃO

Rodrigo Varela (Brasil)|Enio Bozzano (Brasil) - Can-Am Maverick XRS

Jorge Wagenfuhr (Brasil)|Humberto Ribeiro (Brasil) - Polaris RZR PRO R

Cristiano Batista (Brasil)|Fausto Mota (Espanha) - Can-Am Maverick XRS

Negrito: competidores filiados à Confederação Brasileira de Automobilismo

Fonte: Assessoria de imprensa da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA)

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