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Esporte em foco

Sensação da Copa 2022 e sonho com 2030: conheça o projeto de futebol do Marrocos

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A quarta colocação na Copa do Mundo de 2022, melhor desempenho de uma equipe africana e árabe na história de um Mundial, não foi por acaso. A seleção do Marrocos foi a sensação da última Copa por causa de um trabalho iniciado há mais de duas décadas. E o excelente resultado no Catar não deve ser um fato isolado, já que a equipe tem muitos jogadores jovens, um projeto consistente e está de olho no futuro.

O marroquino Abdelhamid Sabiri (camisa 11) comemora seu gol contra o Brasil com Yahya Attiatallah (camisa 25), em 25 de março de 2023.
O marroquino Abdelhamid Sabiri (camisa 11) comemora seu gol contra o Brasil com Yahya Attiatallah (camisa 25), em 25 de março de 2023. REUTERS - JUAN MEDINA
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Tiago Leme, correspondente da RFI em Tânger

No primeiro jogo após a Copa, os marroquinos mostraram força novamente e venceram o Brasil por 2 a 1 no fim de março, em um amistoso na cidade marroquina de Tânger, com grande festa da torcida local.

O principal trunfo deste sucesso do futebol do Marrocos é a Academia Mohammed VI, um moderno centro de treinamento da Federação Real Marroquina de Futebol (FRMF), que fica nos arredores da capital Rabat. O local começou a ser desenvolvido em 2008, teve um investimento de mais de € 13 milhões (cerca de R$ 70 milhões), ocupa uma área de 18 km², com oito campos, escola, espaço médico e tem profissionais de experiência internacional.

O trabalho é feito com milhares de crianças e adolescentes de diversas cidades, inclusive com centros menores em outras localidades do país, para selecionar talentos até que eles possam chegar a clubes na categoria profissional.

E a academia já rendeu resultados importantes, com jovens formados lá que foram titulares na Copa do Catar, como o meia Ounahi, de 22 anos, hoje no Olympique de Marselha, o atacante En-Nesyri, de 25 anos, do Sevilla, e o zagueiro Aguerd, de 27 anos, do West Ham, além do goleiro reserva Tagnaouti.

“Esse é um trabalho que começou há muito tempo, e hoje temos os frutos do que fez o Rei Mohammed VI. Ele que instaurou uma política esportiva com as pessoas da federação, criou o Complexo Mohammed VI, que é muito importante, um complexo que está entre os mais prestigiados do continente. Então, ele contribuiu com a formação de muitos jovens, e a gente já viu o retorno na Copa do Mundo. E temos outros jovens talentos que vão aparecer em breve”, explicou o jornalista marroquino Hicham Rafih, da agência France Presse.

Jogadores da seleção marroquina durante um treinamento na véspera do jogo contra o Brasil. Em  21 de março de 2023.
Jogadores da seleção marroquina durante um treinamento na véspera do jogo contra o Brasil. Em 21 de março de 2023. © AFP

 

Fazendo história

Marrocos já tinha feito história antes, ao ser o primeiro país africano a avançar à segunda fase da Copa do Mundo, quando chegou às oitavas de final em 1986, no México. Os Leões do Atlas, porém, tiveram um período ruim depois disso, ficaram sem ir ao Mundial durante 20 anos, de 1998 até 2018, e também não conseguiam passar da fase de grupos da Copa Africana de Nações. Foi então que o Rei Mohammed VI começou a investir no esporte, criou a academia de talentos e valorizou os atletas formados no próprio país.

“Tudo isso é um trabalho. Hoje nós somos uma equipe que joga junto há alguns anos. Se a gente pegar o Saiss, o Bounou, o Boufal e muitos outros, quase metade da equipe joga junta há alguns anos. Isso cria uma sinergia. Antes, o grande problema da equipe marroquina era que os jogadores não se conheciam. Você pegava alguém na Holanda, outro na França, outro na liga nacional, e efetivamente eles não se entendiam”, afirmou Rafih.

Outro grande responsável pelo sucesso do Marrocos é o técnico Walid Regragui, que chegou à seleção três meses antes da Copa, substituindo Vahid Halilhodzic. Com 47 anos de idade, a juventude do novo treinador e a boa relação com os atletas melhoraram o ambiente. Com a qualidade de jogadores como Hakimi, do Paris Saint-Germain, e Ziyech, do Chelsea, a equipe venceu a Bélgica e empatou com a Croácia na primeira fase do Mundial, depois superou gigantes como Espanha e Portugal no mata-mata, e só perdeu na semifinal para a França. A campanha histórica encheu Regragui de orgulho.

“Eu acho que mostramos uma bonita imagem, que na África nós trabalhamos e aprendemos. É preciso aprender a ganhar, porque o objetivo dos países africanos e do Marrocos é de um dia, 'inshallah', ganhar a Copa do Mundo. Agora isso talvez vá colocar uma luz na África, porque todos vão querer fazer o mesmo percurso. Isso é bom, porque nós somos o continente do futebol, os africanos amam o futebol. Hoje eu acho que o Marrocos mostrou que a gente é capaz, que não estamos longe”, disse o técnico da seleção marroquina.

Candidatura para sediar a Copa de 2030

E se 2022 já está na história, o sonho marroquino agora está na Copa do Mundo de 2030. Além do desempenho dentro de campo, o objetivo agora é ser sede do torneio, e o país africano está em uma candidatura conjunta com Espanha e Portugal.

No momento, o principal concorrente é o dossiê da América do Sul, com Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai juntos. Atualmente, os principais estádios do Marrocos são os de Tânger, renovado recentemente, com capacidade para 65 mil torcedores, Casablanca, Rabat, Agadir e Marrakech, que precisariam apenas de algumas adaptações. Também há um projeto de um novo estádio em Dakhla. A escolha da sede será feita pela Fifa em 2024, e a população local está animada.

“Eu penso que é benéfico para o Marrocos organizar uma Copa do Mundo, por causa da infraestrutura, para melhorar a política esportiva. Parte devido ao futebol, mas também porque, quando há uma Copa do Mundo, não é apenas o futebol que ganha, é toda a economia que deriva disso: tem o social, o desenvolvimento, o transporte, a hospedagem. É tudo uma máquina. Eu espero que esse trio possa ganhar”, finalizou o jornalista Hicham Rafih.

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