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Esporte em foco

Operação Messi 2026: argentinos entram em campanha para que craque continue na seleção até Copa

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Por trás do desejo da torcida de prolongar a carreira de Lionel Messi na seleção, aparece a reconstrução do orgulho nacional através de uma seleção que emociona o país e que representa um raro espaço de unanimidade na sociedade argentina num contexto de agonia econômica e de polarização política.

Clamor popular por Messi
Clamor popular por Messi © Márcio Resende
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Os últimos 36 anos de uma seleção argentina sem títulos mundiais coincidiram com a decadência econômica com reflexos na desigualdade social. A conquista do tricampeonato no Catar não alterou a realidade, mas gerou no país uma contagiante onda de alegria, associada coletivamente ao artífice da vitória, Lionel Messi, a quem os argentinos pedem que continue até a Copa de 2026, apesar de nenhum outro jogador na história ter jogado seis Mundiais.

“Messi merece jogar outro Mundial devido ao que ele representa para o futebol, ao que ele representa para nós, argentinos. Merece jogar por ele e pelo que ele gera ao redor”, afirma à RFI o empresário Marcos Cotese, de 28 anos, que viajou 1.730 km da patagônica Comodoro Rivadavia a Buenos Aires, apenas para assistir ao jogo contra o Panamá, o primeiro desde que a seleção argentina foi campeã no Catar em 18 de dezembro passado.

Marcos Cotese quer Messi até o próximo Mundial
Marcos Cotese quer Messi até o próximo Mundial © Márcio Resende

“Messi deveria continuar porque a alegria que ele nos deu não pode acabar. É algo incrível pelo qual esperamos tantos anos. É algo que não dá para explicar”, reforça a dona de casa Maria Amelia Porcel, de 47 anos.

Ao seu lado, a filha Juana, de 12 anos, concorda: “Ele nos ajudou muito e a carreira dele está Nos nossos corações. Graças a ele, chegamos até aqui. Então, nós o valorizamos muito. Nós o amamos muito”.

Maria Amelia Porcel (centro) atribui a Messi a alegria do país
Maria Amelia Porcel (centro) atribui a Messi a alegria do país © Márcio Resende

O segundo e último amistoso da seleção argentina pelos próximos dois meses foi a confirmação da relação de amor da sociedade com Messi. Nos 7 a 0 contra a fraca seleção de Curaçao na noite de terça-feira (28), o capitão argentino fez três gols, sendo o primeiro deles o centésimo pela seleção argentina. No total, são agora 803 gols numa carreira que, segundo o próprio Messi, dificilmente inclua o próximo Mundial em 2026.

Fica, Messi

Contra uma despedida, a torcida já iniciou uma crescente "operação clamor", que pretende trocar demonstrações explícitas de amor até Messi mudar de ideia sobre deixar a seleção.

“Messi nos deu muitas alegrias nesses últimos anos. Adoraria que ele continuasse e falo por toda a Argentina. Adoramos ver Messi com a bola. É hipnotizante”, afirma Lucía López, de 23 anos.

Lucía López (direita) vê um país feliz, graças a Messi
Lucía López (direita) vê um país feliz, graças a Messi © Márcio Resende

“Todos nós estamos muito felizes. Ele nos fez muito feliz e queremos que essa felicidade continue”, explica o veterinário Augustín Glas, de 36 anos, vestido com a camisa do goleiro Emiliano Martínez, o “Dibu”.

Augustín Glas destaca o papelo do goleiro Dibu na conquista do título
Augustín Glas destaca o papelo do goleiro Dibu na conquista do título © Márcio Resende

“Metade da Copa no Catar foi graças ao ‘Dibu’ com as suas defesas de pênaltis e com defesas cruciais na final contra a França. Além disso, a irreverência e a loucura nos representam culturalmente. Nós, argentinos, nos vemos refletidos nessa personalidade”, destaca.

Messi não tem essa personalidade. Muito pelo contrário. O jogador que hoje emociona o mundo é a antítese do estereótipo argentino.

“Messi é um líder positivo para a Argentina porque está livre de muitos atributos negativos da argentinidade: ser arrogante, sentir-se superior, falar com duplo e até triplo sentido, ironizar. Messi é um argentino que desconcerta porque é humilde e simples. Não se mete em política nem opina sobre líderes mundiais. Apenas joga futebol”, descreve o jornalista Sebastián Fest, autor do livro “Messiânico” lançado neste ano nos países hispânicos.

Fest investiga e analisa a vida profissional de Lionel Messi desde 2011, tendo publicado versões anteriores Le mystère Messi (França, 2012), Misterio Messi (Espanha, 2013), “Nem rei, nem deus” (América Latina, 2014) e “Insubmersible Messi”(França, 2017).

‘Não tenho dúvidas de que Messi vai jogar o Mundial de 2026. Primeiro, porque ele não teve lesões graves na carreira. Está bem fisicamente. Hoje, ele está muito motivado. Atravessa o melhor momento da sua vida tanto esportiva quanto pessoal. É um homem feliz. Segundo, acredito que Messi tem um grande negócio a fazer. Tanto o Mundial nos Estados Unidos quanto a FIFA precisam de uma estrela como Messi”, observa Fest.

“Além disso, ele disse que vai jogar partidas das eliminatórias. Não teria sentido jogar partidas das eliminatórias e depois não ir ao Mundial”, reflete.

Estado de felicidade

Para o próximo Mundial, Lionel Messi terá 39 anos e, se decidir jogar, disputará a sua sexta Copa do Mundo, uma façanha inédita.

“Dentro de quatro anos, não será o mesmo Messi, mas mesmo um Messi com 50% de rendimento é melhor do que todos os outros jogadores”, compara o aposentado Miguel Ángel De Candia.

Miguel Ángel De Candia (direita) considera que 50% de Messi é mais do que qualquer outro jogador
Miguel Ángel De Candia (direita) considera que 50% de Messi é mais do que qualquer outro jogador © Márcio Resende

“A carreira de Messi já tem tantos recordes que esse seria mais um. Uma carreira incrível não só pela qualidade do jogador, mas também pela constância e pela regularidade, com poucas lesões e sempre jogando os 90 minutos”, destaca o engenheiro, Diego Fernández, de 43 anos.

A Argentina convive com uma inflação galopante que tocou os 102,5% nos últimos 12 meses, com tendência de aumento. O país está a ponto de entrar tecnicamente em recessão. A economia pode encolher entre 3% e 5% em 2023, segundo as projeções dos principais economistas do país. A tensão social refletida na polarização política tende a crescer nos próximos meses de corrida eleitoral.

No meio desse frenesi, a seleção argentina surge como um dos raros espaços no qual não há divergências, apenas orgulho e comunhão nacional. Perante a falta de esperança, os dois “Lioneis”, o jogador Messi e o técnico Scaloni demonstram à sociedade que a serenidade e o esforço coletivo têm a sua recompensa.

“Os argentinos estão felizes de estarem felizes. Uma necessidade de finalmente estar contente com alguma coisa. Uma necessidade que supera tudo. Isso foi possível graças a Messi. Sem Messi, essa equipe não teria funcionado assim. Para um argentino que vive isso, a simples ideia de que isso acabe tão cedo e de que não haja uma oportunidade de voltarem a ser tão felizes, tem de ser evitada. Por isso, pedem que Messi continue até 2026”, interpreta o escritor Sebastián Fest.

Despedida sem convicção

Na prévia da final contra a França no Catar, Lionel Messi antecipou que aquela seria a sua última Copa do Mundo. “Seguramente, este será o meu último jogo. Faltam muitos anos para o próximo Mundial e não acredito que seja possível”, anunciou o jogador de 35 anos, nascido em junho de 1987.

Logo depois da vitória que pôs fim ao jejum de títulos desde 1986, Messi disse que “ficaria mais um pouquinho” na seleção.

“Mais um pouquinho, vou ficar. É preciso desfrutar disso (do título). Quero continuar a viver mais alguns jogos sendo campeão do mundo”, justificou.

Em fevereiro passado, o craque deixou uma porta aberta para o Mundial de 2026, embora continue a considerar que “lhe parece difícil devido à idade”.

“Não sei se estarei. Sempre disse que devido à idade, acho difícil que consiga. Amo o que faço e, enquanto me sentir bem e continuar a me divertir... Mas acho muito até o próximo Mundial. Deixo a porta aberta, mas devido à idade e ao tempo, acho difícil”, disse Messi em entrevista ao jornal esportivo Olé.

Segundo analistas, Messi jogaria a próxima Copa América em 2024. O ponto de decisão sobre a Copa do Mundo dependeria do desempenho da seleção argentina no torneio do ano que vem.

O técnico Lionel Scaloni afirma que o lugar de Messi na seleção argentina é o único garantido, que o jogador tem condições físicas de disputar o próximo Mundial e que depende unicamente do jogador a decisão de continuar.

“Acredito que Messi possa chegar ao próximo Mundial. Dependerá do que ele quiser. Sempre terá as portas abertas. Esperamos que ele esteja conosco por muito tempo”, apontou Scaloni na semana passada, durante coletiva com a imprensa.

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