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Contagem Regressiva Paris 2024

Jogos Olímpicos Paris 2024 são abalados por escândalos de contratação de operários ilegais

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Os canteiros de obras dos Jogos Olímpicos Paris 2024 deveriam ser exemplares. Porém, os Jogos são abalados por escândalos no sentido contrário. As denúncias de más condições de contratação de trabalhadores estrangeiros se acumulam desde o ano passado. Há vários meses, muitas denúncias de trabalhadores irregulares chegaram às autoridades de inspeção do trabalho.

Trabalhadores sem documentos bloqueiam o canteiro de obras da Arena para os Jogos Olímpicos Paris 2024 na Porte de la Chapelle. Em Paris, 17 de outubro de 2023.
Trabalhadores sem documentos bloqueiam o canteiro de obras da Arena para os Jogos Olímpicos Paris 2024 na Porte de la Chapelle. Em Paris, 17 de outubro de 2023. REUTERS - GONZALO FUENTES
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Na maioria das vezes, são casos de operários sem documentos admitidos por empresas subcontratadas pelas construtoras responsáveis pelas obras de arenas e da Vila Olímpica. É o caso de Sidi Tounnkara, originário do Mali. “Cada vez, eles nos dizem que se não trabalharmos, há muitos imigrantes sem documentos e, portanto, eles podem nos demitir a qualquer momento. E se não estivermos felizes, podemos ir embora".

Ele não é o único nessas condições. Alassane Traoré, outro maliano, trabalhava para o mesmo empregador, em outro local. Ele descreve condições de trabalho indignas e diz que as tarefas mais difíceis recaem sistematicamente sobre os operários sem documentos. "Você pode passar o dia, ou até a semana, trabalhando com britadeiras ou com a marreta que pesa 10 kg. Frequentemente, também trabalhamos em canteiros de obras com amianto. Muitas vezes estamos expostos a riscos. Temos capacete e luvas, mas temos que lutar para conseguir roupas de trabalho, inclusive botas. O patrão se aproveita da sua situação".

Somam-se a isso as horas extras não remuneradas, não pagamento de vale-refeição e vale-transporte, sem falar que esses trabalhadores não contribuem para a aposentadoria ou seguro-desemprego. 

As denúncias acabaram chegando à CGT, a Confederação Geral do Trabalho, principal sindicato da França. 

Ao mesmo tempo, o Ministério Público de Bobigny, na região de Paris, abriu uma investigação preliminar por "trabalho clandestino" e "emprego de estrangeiro sem documentos em quadrilha organizada" contra quatro das principais empreiteiras das futuras instalações olímpicas, além de oito subempreiteiros que empregaram diretamente estes trabalhadores africanos. 

Albert Guidou, responsável pelos trabalhadores estrangeiros em Seine-Saint-Denis, cidade ao norte de Paris onde está sendo erguida a vila dos atletas, relata que muitos operários estão decepcionados. “Assim que soube que iriam acontecer os Jogos Olímpicos, pensei que isso nos traria mais trabalho. Mas o uso sistemático da subcontratação na França, às vezes não corresponde a critérios técnicos, abre espaço a uma mão-de-obra flexível, barata e que exerce trabalhos pesados, levando à existência de muitos trabalhadores sem documentos em canteiros de obras. A responsabilidade é das grandes construtoras, porque são elas que recorrem à subcontratação, que não fiscalizam as suas obras nem os seus subempreiteiros".

Em setembro, os fiscais do trabalho encontraram trabalhadores irregulares no centro aquático de Marville, na região de Paris, que servirá como base de treinamento olímpico.

No canteiro de obras do estádio Arena, em Porte de la Chapelle, no norte da capital, que será utilizado para os Jogos Olímpicos, a situação se repete. Em meados de outubro, trabalhadores sem documentos fizeram greve para denunciar o problema, parando os trabalhos dos Jogos de Paris 2024.

Entre eles, Abdoulaye e Simbala, dois malianos empregados por um dos subcontratantes da empresa gestora do projeto. Um colega faz a tradução da entrevista. “Hoje ele está cansado de trabalhar com três nomes diferentes. Ele reivindica poder trabalhar com o seu próprio nome e ter os seus documentos", diz.

Simbala também é obrigado a usar uma identidade falsa. "Eles o fizeram entrar secretamente no canteiro de obras. Ele começou o dia, aí entenderam que ele tinha entrado escondido e o tiraram de lá. Ele começou o dia, mas não terminou e não foi pago", relata.

O advogado do sindicato CNT Solidariedade Operária, Étienne Deschamps, denuncia a hipocrisia dos canteiros olímpicos. “Em todas as obras olímpicas há dezenas de trabalhadores sem documentos e as empresas sabem disso. Os mandantes abdicam das suas responsabilidades, deixando os seus subcontratantes gerirem esta confusão criada pela política de migração do governo. »

As construtoras citadas na investigação respondem que não são informadas sobre as condições desses subcontratos por empresas terceirizadas. Uma investigação de inspeção do trabalho está em curso. 

Os trabalhadores dessa reportagem obtiveram a sua regularização rapidamente, mas a luta continua para receber seus benefícios, como horas-extras.

A organização dos Jogos Paris 2024 acompanha a situação e diz que espera realizar Jogos exemplares, mas a presença dessa mão de obra ilegal se tornou motivo de tensão política e social.

Após criticarem as violações de direitos humanos para a organização da Copa do Catar, os franceses acabaram descobrindo que as obras de preparação para os Jogos Olímpicos de 2024, acontecem, em certos casos, com a exploração de trabalhadores estrangeiros ilegais na França.

O comitê organizador se engajou a “fazer respeitar as normas internacionais do trabalho” e impor condições “decentes" para aqueles que ajudarem a capital francesa a realizar o evento. 

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