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“Muitos têm pesadelos” e “acordam à noite gritando”, diz pediatra que cuidou de crianças ex-reféns do Hamas

As crianças israelenses raptadas pelo Hamas e levadas para Gaza viveram uma situação traumática. No total, 36 dos 38 menores detidos foram libertados graças a um acordo de trégua entre Israel e o Hamas. Muitas delas foram recebidas e tratadas no hospital Schneider, em Petah Tikva, perto de Tel Aviv.

A foto, publicada pelo Exército israelense, mostra Emily Hand, uma menina com nacionalidades israelense e irlandesa de 9 anos, nos braços do pai, após ser libertada pelo Hamas em 26 de novembro de 2023.
A foto, publicada pelo Exército israelense, mostra Emily Hand, uma menina com nacionalidades israelense e irlandesa de 9 anos, nos braços do pai, após ser libertada pelo Hamas em 26 de novembro de 2023. © AFP / Armée israélienne
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Sami Boukhelifa, correspondente da RFI em Tel Aviv.

Lotem Goldberg é a pediatra no hospital Schneider que cuidou das crianças que foram reféns do Hamas quando libertadas. “Ninguém na faculdade de medicina te prepara para este tipo de situação”, conta ela. A jovem médica acolheu em seu serviço 19 crianças. O principal sintoma físico constatado foi a perda de peso. “Mas era mais a cabeça e a mente que têm que ser tratados”, explica.

“Muitos têm pesadelos. Alguns não contam, mas os que contam falam do 7 de outubro. Muitas vezes, eles viram familiares ser assassinados. Eles assistiram a violências, assassinatos. O sequestro foi também extremamente traumático. E depois, o tempo em cativeiro, a fome, o medo também foram”, diz.

A pediatra explica que as crianças eram obrigadas a ficar em silêncio durante o tempo que estiveram nas mãos do Hamas. Alguns não querem contar, mas acordam no meio da noite aos gritos. “Eles apenas precisam ser abraçados e tranquilizados”, precisa Lotem Goldberg.

Testemunhos de parentes

Para algumas crianças, o fim do sequestro marcou também o fim do calvário, mas não foram todas. “A coisa mais difícil que vemos nestas crianças, são as que foram libertadas, mas que deixaram alguém para trás. Elas voltaram, suas mães também, deixando um membro da família”, diz. “Estas crianças, temos mais dificuldade a trazê-los de volta para nós, de volta para o nosso mundo porque eles voltam o tempo todo para o passado. E esta foi a coisa mais difícil de lidar”, explica.

Depois da internação no hospital, todas as crianças voltaram para suas casas, mas ainda são acompanhadas por psicólogos e assistentes sociais.

A maioria dos testemunhos dos menores libertados vêm de parentes. Eles relatam refeições irregulares, água poluída, detenção em túneis, isolamento e camas improvisadas, em condições sanitárias difíceis.

A avó de um dos ex-reféns, Eitan Yahamoli, um menino franco-israelense de 12 anos, disse ao site de notícias Walla, logo após sua libertação, que o neto foi mantido em confinamento solitário por 16 dias. Ele também foi obrigado a assistir ao filme com as atrocidades cometidas pelo Hamas em 7 de outubro, de acordo com sua tia, Deborah Cohen, em entrevista ao canal francês BFMTV. Segundo ela, toda vez que uma criança chorava, eles a ameaçavam com uma arma para mantê-la quieta. 

Atualmente, mais de 130 reféns continuam nas mãos do Hamas, de acordo com o governo israelense, e 105 foram libertados durante uma trégua de sete dias que terminou em 1° de dezembro.

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