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Impasse sobre fósseis trava acordo da Conferência do Clima de Dubai

Os ministros representantes dos 195 países que participam da Conferência do Clima de Dubai passaram o dia negociando uma nova versão do acordo final da COP28, que estava prevista para se encerrar nesta terça-feira (12). A expectativa de observadores, países mais vulneráveis e grandes economias como o Brasil e a União Europeia é de que o texto seja mais ambicioso no objetivo de programar o fim dos combustíveis fósseis, os maiores responsáveis pelo aquecimento do planeta.

Sultan al Jaber, presidente da COP 28, ao apresentar o rascunho do acordo na segunda-feira (11/12/2023).
Sultan al Jaber, presidente da COP 28, ao apresentar o rascunho do acordo na segunda-feira (11/12/2023). © COP28 / Christopher Pike
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Lúcia Müzell, enviada especial da RFI Brasil a Dubai 

A última versão do acordo, apresentado na segunda-feira (11) pelo presidente da COP28, o emiradense Sultan Al Jaber, causou uma onda de críticas daqueles que esperavam uma sinalização mais clara pelo fim do carvão, o petróleo e o gás – cuja produção e consumo despejam mais de dois terços das emissões mundiais de gases de efeito estufa. Do outro lado, porém, grandes produtores, como Arábia Saudita, ou dependentes de fósseis, como a Índia, trabalham no sentido contrário, para garantir que nenhuma menção seja feita neste sentido.

As negociações entre os diplomatas retomaram imediatamente depois da revelação do rascunho do acordo e avançaram na última madrugada. Uma nova versão era esperada para o fim da manhã desta terça – prazo que foi adiado várias vezes ao longo do dia.

Chance de fracasso como em Copenhague

“Estamos a um passo de uma nova Copenhague”, disse à RFI um integrante da delegação brasileira, referindo-se à Conferência do Clima de 2009 que, depois de gerar uma expectativa mundial, ficou marcada como o maior fracasso da história das COPs.

Determinada a ver a versão final do acordo mais robusta, a delegação alemã disse que, se fosse necessário, ficaria em Dubai até sexta-feira para concluir um texto menos vago sobre o objetivo da saída dos fósseis. No texto proposto, a linguagem utilizada não menciona o fim dessas energias, como desejava a grande maioria dos participantes: apenas indica a “redução progressiva” das fósseis até 2050.

As decisões da ONU são tomadas por consenso, o que significa que se algum país ou bloco de países permanecer irredutível sobre algum aspecto do acordo, todos precisam continuar dialogando até que um entendimento seja alcançado. Do contrário, a presidência da COP pode insistir em colocar o texto para votação – sob o risco de não haver acordo.

"Todos gostaríamos de terminar a tempo, mas todos queremos obter o resultado mais ambicioso possível. Este é o nosso único objetivo", garantiu o diretor-geral da COP28, Majid Al Suwaidi, braço-direito de Al Jaber – que é CEO da companhia petrolífera dos Emirados Árabes Unidos, a Adnoc.

Marina criticou rascunho

Na noite desta segunda-feira, a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, demonstrou insatisfação com o rascunho. “Na análise que fizemos, temos um texto que fala claramente que as ambições devem estar alinhadas com o 1,5°C, mas nós não encontramos a clareza e a equivalência em relação à questão de energia. É preciso que as duas coisas estejam adequadamente alinhadas”, ressaltou.

Marina Silva participa da plenária que discute acordo final da COP28. (11/12/2023)
Marina Silva participa da plenária que discute acordo final da COP28. (11/12/2023) © Estevam/Audiovisual/PR

“Em relação aos combustíveis fósseis, a linguagem não está apropriada e temos muitas insuficiências. Uma das insuficiências é não estar ali estabelecida a questão dos esforços para a eliminação”, disse, em uma coletiva de imprensa.

Apesar das promessas dos países, as emissões mundiais de gases de efeito seguem em alta. Os especialistas alertam que, até 2030, os compromissos de reduções propostos em Dubai representariam apenas um terço do sacrifício necessário para ser possível limitar o aquecimento da temperatura global a 1,5°C.

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