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Situação humanitária de armênios se agrava com êxodo de Nagorno-Karabakh

Pelo menos 28 mil pessoas em fuga de Nagorno-Karabakh já chegaram à Armênia, disseram autoridades de Yerevan nesta terça-feira (26), quase uma semana após a ofensiva relâmpago e vitoriosa liderada pelo Exército do Azerbaijão. Além da ansiedade que reina entre os cerca de 120 mil armênios étnicos da região, a situação humanitária continua tensa neste enclave separatista do Cáucaso.

Armênios deixam Nagorno-Karabakh na caçamba de um caminhão em direção a Goris, na região de Syunik, na Armênia.
Armênios deixam Nagorno-Karabakh na caçamba de um caminhão em direção a Goris, na região de Syunik, na Armênia. AP - Gayane Yenokyan
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Na noite de segunda-feira (25), durante o êxodo, um depósito de combustível explodiu no enclave. Ao menos 20 pessoas morreram no incêndio deflagrado pela explosão, 280 ficaram feridas, sem que se saiba se o incidente tem relação com o conflito. Autoridades separatistas solicitaram ajuda externa urgente para enfrentar a tragédia.

“Dezenas de pessoas ainda estão em estado crítico”, afirmaram num comunicado, especificando que os feridos sofreram queimaduras de gravidade variável e foram hospitalizados em Nagorno-Karabakh. Dos 20 mortos, 13 não puderam ser identificados e serão submetidos a análises forenses, segundo a mesma fonte.

A fuga de milhares de refugiados de Nagorno-Karabakh para solo armênio continua, com enormes engarrafamentos na única estrada que liga a capital separatista Stepanakert à Armênia. Muitos dizem que precisaram de 24 horas para percorrer 80 quilômetros. A maioria das pessoas atravessa a divisa de carro ou de ônibus. Mas alguns que atravessam a fronteira a pé, sob o olhar vitorioso de soldados do Azerbaijão, dizem que foram "expulsos", apesar da promessa reiterada na segunda-feira pelo presidente azerbaijano, Ilham Aliev, de que os direitos dos armênios seriam "respeitados". Aliev expressou essas "garantias" ao receber a visita do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, um ator-chave na região.

A França, que reiterou hoje que considera o Azerbaijão "totalmente responsável pelo destino da população armênia", disse que o êxodo "em massa" de armênios de Nagorno-Karabakh está ocorrendo "sob o olhar cúmplice da Rússia", que havia implantado uma força de manutenção da paz na região separatista em 2020.

Ataque relâmpago

Na quarta-feira (20), em uma operação de menos de 24 horas, o enclave foi tomado pelo Azerbaijão, em um conflito que remonta à queda da União Soviética. Nagorno-Karabakh é internacionalmente reconhecido como parte do Azerbaijão, mas tem estado fora do controle de Baku desde o colapso soviético.

O território tem sido administrado por autoridades armênias dissidentes que consideram a região como a sua pátria ancestral. Os armênios de Nagorno-Karabakh foram forçados a concordar com um cessar-fogo em 20 de setembro.

Nos últimos 35 anos, armênios e azerbaijanos entraram em confronto militar em Nagorno-Karabakh em duas ocasiões. O período mais sangrento se estendeu de 1988 a 1994, quando 30.000 pessoas morreram. Em 2020, as hostilidades recomeçaram, deixando um balanço de 6.500 mortos. O número de vítimas na invasão relâmpago da semana passada é de 200 mortos, de acordo com o lado armênio.

Mediação europeia

A União Europeia deverá receber nesta terça-feira representantes das duas partes em litígio. Simon Mordue, principal assessor diplomático do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, presidirá a reunião em Bruxelas. O Azerbaijão e a Armênia, bem como a França e a Alemanha, serão representados pelos seus assessores de segurança nacional. O representante especial da UE para o sul do Cáucaso, o diplomata estônio Toivo Klaar, também participará das discussões.

O primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinian, e o presidente do Azerbaijão devem se encontrar em 5 de outubro em Granada, na Espanha. Esta reunião planejada há algum tempo não foi cancelada e já contava com a participarão do presidente francês, Emmanuel Macron, do chanceler alemão, Olaf Scholz, e do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.   

Fluxo de refugiados continua

Em frente ao teatro de Goris, na região armênia de Syunik, a chegada de microônibus brancos é constante. Outros partem com malas em direção a Yerevan e às principais cidades do país.

A chegada de cerca de 28 mil habitantes, o primeiro passo para os refugiados de Nagorno-Karabakh, começou na noite de domingo. Passado o posto Kornidzor, logo após a fronteira, são levados para lá aqueles que “não têm para onde ir”, como Valentina Asrian. “Quem poderia imaginar que os turcos (nome comumente dado aos azerbaijanos na região) entrariam nesta histórica aldeia armênia”, lamenta Valentina, cujo cunhado foi morto nos ataques da semana passada.

Na semana passada, o premiê armênio anunciou que o seu país de 2,9 milhões de habitantes se preparava para acolher 40 mil refugiados.

(Com informações das agências internacionais)

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