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Rússia despreza negociação com participação do Brasil e diz que única solução é capitulação de Kiev

Apenas a capitulação de Kiev terminaria com a ofensiva russa na Ucrânia, reiterou Moscou nesta segunda-feira (7). A declaração foi feita um dia após uma reunião na Arábia Saudita para tratar sobre o conflito e que não teve avanços. No domingo (6), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, voltou a criticar a postura do presidente Lula sobre a guerra.

Representantes da China, dos EUA e da Arábia Saudita participam de negociações para avançar em direção a um fim pacífico da guerra da Rússia na Ucrânia, em Jidá, Arábia Saudita, 6 de agosto de 2023. Saudi Press Agency/Folheto via REUTERS
Representantes da China, dos EUA e da Arábia Saudita participam de negociações para avançar em direção a um fim pacífico da guerra da Rússia na Ucrânia, em Jidá, Arábia Saudita, 6 de agosto de 2023. Saudi Press Agency/Folheto via REUTERS via REUTERS - SAUDI PRESS AGENCY
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Com informações de Emmanuelle Chaze, correspondente da RFI em Kiev, e agências

A reunião na cidade portuária de Jidá, no Mar Vermelho, contou com cerca de 40 delegações, incluindo a Ucrânia, mas não a Rússia. Essa foi mais uma tentativa de se chegar a uma discussão visando o fim do conflito. Porém, a cúpula não gerou avanços concretos e nenhuma declaração final foi divulgada. 

Nesta segunda-feira, o Kremlin afirmou que só uma opção lhe interessa: "Estamos convencidos de que um acordo verdadeiramente global, duradouro e justo é possível apenas se o regime de Kiev puser fim às hostilidades e aos atentados terroristas", enfatizou a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, em um comunicado. "As novas realidades territoriais (no leste e no sul da Ucrânia) devem ser reconhecidas, e a desmilitarização e a desnazificação da Ucrânia (...) devem ser garantidas", acrescentou.

Próxima de Moscou e de Washington, a Arábia Saudita tenta reforçar a sua influência no cenário internacional. Esta não foi a primeira tentativa de Riade de intermediar uma solução para o conflito. Em meados de maio, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, fez uma visita surpresa a Jidá durante uma cúpula da Liga Árabe e agradeceu ao príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, "por seu apoio à integridade e à soberania territorial da Ucrânia".

Kiev elogiou as discussões organizadas na Arábia Saudita em busca de uma resolução pacífica para a guerra na Ucrânia. “Tivemos consultas muito produtivas sobre os princípios-chave sobre os quais uma paz justa e duradoura deve ser construída", declarou em nota à imprensa o secretário-geral da presidência ucraniana, Andrii Yermak.

Já a Rússia descreveu esta reunião como uma tentativa fracassada de reunir os países do Sul ao lado de Kiev. Citado no domingo pela imprensa oficial russa, o ministro-adjunto da Defesa, Sergei Ryabkov, denunciou "uma tentativa do Ocidente para continuar seus esforços condenados" para mobilizar os países do Sul a favor da posição de Kiev.

Representantes de mais de 40 nações, incluindo Estados Unidos, China, Índia e países europeus, estiveram neste fim de semana na cidade de Jidá para as negociações. Para a Ucrânia, o encontro foi mais uma tentativa de alcançar um consenso internacional sobre princípios que Kiev considera essenciais para um acordo de paz, como a retirada das tropas russas do país e a restauração da integridade territorial ucraniana.

Entretanto, dezoito meses após o lançamento da ofensiva russa, a hipótese de discussões diretas entre Kiev e Moscou parece improvável.

Zelensky critica Lula

O Brasil fez parte das reuniões de Jidá deste fim de semana através da participação por videoconferência do enviado especial para assuntos internacionais, Celso Amorim.

Em uma entrevista para a agência de notícias EFE, publicada neste domingo (6), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky atacou “a compreensão de mundo” do líder brasileiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

“Acho que o presidente Lula é uma pessoa experiente, mas não entendo muito bem uma coisa: será que ele acredita que sua sociedade não entende completamente o que está acontecendo e que ele conta com isso?”, questionou Zelensky. “As declarações de Lula [nas quais insinuou que Ucrânia e Rússia dividem a culpa pelo conflito] não trazem paz de forma nenhuma. É estranho falar sobre a segurança da Rússia. Apenas a Rússia, Putin e Lula falam sobre a segurança da Rússia, sobre as garantias que devem ser dadas para a segurança da Rússia. Eu simplesmente acredito que ele tem a sua própria opinião. Mas os pensamentos não precisariam coincidir com os de Putin”, completou o ucraniano.

No campo de batalha

Nesta segunda-feira, a Rússia garantiu ter avançado em direção a Kupyansk, no nordeste da Ucrânia, zona libertada em setembro passado pelas forças ucranianas e que enfrenta, há várias semanas, uma ofensiva russa. "Nos últimos três dias, os soldados russos avançaram nesta direção a uma profundidade de mais de 3 quilômetros em um trecho de 11 quilômetros de frente", disse o Ministério da Defesa da Rússia, em seu boletim diário.

Enquanto isso, os serviços de segurança da Ucrânia (SBU) anunciaram, também nesta segunda-feira, a prisão de uma mulher acusada de ajudar a Rússia a planejar um ataque contra o presidente Volodymyr Zelensky durante uma visita a Mykolaiv, no sul da Ucrânia. Em comunicado, a SBU disse ter prendido uma "informante do serviço secreto russo que estava reunindo informações sobre a visita planejada do presidente à região de Mykolaiv", perto da linha de frente, em vista a um "ataque aéreo maciço". Segundo a mesma fonte, esta mulher, que trabalhava na loja de uma base militar, "tentou apurar a hora e a lista de locais do itinerário provisório do chefe de Estado na região".

Em seu comunicado de imprensa, a SBU especifica que tomou "medidas de segurança adicionais" para a visita de Volodymyr Zelensky, mas não prendeu imediatamente a mulher, "a fim de obter novas informações”. Ela é acusada de divulgação não autorizada de informação sobre movimentação de armas e tropas e pode pegar até 12 anos de prisão, disseram os serviços de segurança.

Investigadores russos e membros dos serviços de emergência se reúnem perto de um carro destruído após um suposto ataque à Ponte da Crimeia, que liga o continente russo à península da Crimeia através do Estreito de Kerch. Em 17 de julho de 2023.
Investigadores russos e membros dos serviços de emergência se reúnem perto de um carro destruído após um suposto ataque à Ponte da Crimeia, que liga o continente russo à península da Crimeia através do Estreito de Kerch. Em 17 de julho de 2023. via REUTERS - RUSSIAN INVESTIGATIVE COMMITTEE

Como está a contraofensiva ucraniana?

A Rússia continua seus ataques aéreos na Ucrânia: um centro de transfusão de sangue foi bombardeado neste fim de semana na região de Kharkiv. Um centro de fabricação de aeronaves, no oeste do país, também foi atingido. 

Três pessoas foram mortas nesta segunda-feira em bombardeios russos em Kherson e na região de Kharkiv, na Ucrânia. Kiev pede mais equipamentos a seus aliados para dar continuidade a contraofensiva que começou há dois meses.

Esta operação de contraofensiva continua em vários setores: no sul do país, na região de Berdiansk e Melitopol; na região de Zaporíjia; e a leste na região de Donetsk, principalmente ao redor de Bakhmout. Ainda a leste, o setor de Kupyansk, liberado em setembro passado, na região de Kharkiv, está novamente no centro dos combates com uma nova ofensiva russa.

Do lado de Kiev, Kyrylo Budanov, chefe da inteligência militar ucraniana, afirmou que as tropas ucranianas avançavam mais rapidamente em Bakhmout do que no sul da Ucrânia, onde os russos construíram fortes postos de defesa. Por sua vez, Moscou afirma ter repelido os ataques a Bakhmout.

A Ucrânia também intensificou os seus ataques às rotas de abastecimento russas: as duas pontes estratégicas que ligam a Crimeia ocupada à parte ocupada da região de Kherson, utilizadas para reabastecer o Exército russo, foram danificadas por ataques de mísseis neste fim de semana, forçando a Rússia a usar as rotas orientais que estão ao alcance da artilharia ucraniana.

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