Governo nacionalista da Índia usa feminicídio de adolescente em plena rua para acusar muçulmanos
Em Nova Delhi, na Índia, uma adolescente de 16 anos foi assassinada em plena rua por um jovem de 20. A cena, filmada por uma câmera de vigilância, e a indiferença dos transeuntes geraram indignação em um país onde a violência contra as mulheres é cada vez maior. Já o governo nacionalista hindu no poder usa o crime para acusar a comunidade muçulmana.
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Com informações do correspondente da RFI na Índia, Sébastien Farcis
O crime, de uma brutalidade impactante, aconteceu no bairro de Sahini, no norte da cidade, no domingo (28). Imagens de câmeras de segurança circulando online mostram Sahil Khan empurrando contra a parede de um beco a jovem Sakshi e esfaqueando-a violentamente dezenas de vezes, antes de esmagar sua cabeça com um bloco de concreto. Tudo enquanto pelo menos cinco pessoas passam, sem intervir.
Sahil Khan, que trabalha como mecânico, foi preso na segunda-feira (29), no estado vizinho de Uttar Pradesh. O jornal Times of India relata que Sakshi foi morta porque "se recusou a sair com ele".
"Eu vi minha filha caída com o rosto no chão. Os órgãos dela haviam saído e a cabeça dela foi esmagada. Ela estava deitada lá, sem vida. Nem podíamos mais levá-la ao hospital", disse o pai de Sakshi ao canal de tevê CNN. "Me irrita saber que ninguém ajudou minha filha. Se eles a tivessem ajudado, ela ainda estaria viva hoje. Eu também ouvi que os transeuntes estavam ocupados filmando o incidente. Mesmo se eles tivessem gritado, teria ajudado minha filha", acrescenta, completamente perplexo.
Segundo o Times of India, a família está pedindo a pena de morte para o acusado.
Love Jihad
Após o assassinato de uma menina de 12 anos por seu irmão, este novo drama provocou indignação na Índia. Segundo dados do National Crime Records Bureau da Índia, os feminicídios aumentaram 20% em 2020 em comparação com 2013.
Apesar destes dados, o partido nacionalista hindu lembra acima de tudo que Sahil Khan é muçulmano, enquanto sua vítima é hindu.
"Até agora, nem a família do jovem, nem os mulás, nem qualquer líder de sua religião expressaram sua tristeza por este crime, nem condenaram este ato", disse Manjinder Sirsa, membro do partido no poder Bharatiya Janata (BJP).
Outro legislador do BJP afirma que o crime faz parte do Love Jihad, uma teoria da conspiração que circula na Índia e afirma que os muçulmanos procuram se casar com mulheres hindus para convertê-las. O BJP ofereceu assistência financeira à família hindu da vítima.
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