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Na China, o todo-poderoso Xi Jinping e o retorno do culto à personalidade

Na China, o 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC) começa no domingo (16) em Pequim. O encontro nomeará novos membros do comitê permanente do partido e prorrogará o mandato de Xi Jinping à frente do país. É a primeira vez desde Mao Tsé Tung, que um presidente chinês que se beneficia de um verdadeiro e complexo culto à personalidade.

Um guia rodeado de visitantes comenta imagens do presidente Xi Jinping no Museu do Partido Comunista Chinês em Beijing, China, 13 de outubro de 2022.
Um guia rodeado de visitantes comenta imagens do presidente Xi Jinping no Museu do Partido Comunista Chinês em Beijing, China, 13 de outubro de 2022. REUTERS - FLORENCE LO
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Do correspondente da RFI em Pequim, Stéphane Lagarde, com Louise May, da redação em Pequim 

"Tio Xi, nós te amamos!", clama a multidão nas imagens transmitidas pela televisão estatal chinesa. Dezesseis episódios sobre a vida do presidente chinês foram programados até a véspera do Congresso. Xi Jinping, sua vida, seu trabalho, etc, onde se aprende, por exemplo, que o presidente chinês fala... a linguagem de sinais!

Medalhões Xi Jinping e Mao Tse Tung em uma loja de lembranças em Kunmung, sudoeste da China.
Medalhões Xi Jinping e Mao Tse Tung em uma loja de lembranças em Kunmung, sudoeste da China. © RFI/Stéphane Largarde

Xi Jinping como Mao 2.0

Propaganda com um martelo e uma foice, como nesta joalheria e loja de lembranças em Kunming, no sudoeste da China. O culto e o dinheiro do culto: a onipresente distância do chefe de Estado infunde a vida cotidiana dos chineses, através da mídia oficial, mas também nos livros. Dezenas de livros dedicados ao pensamento de Xi Jinping surgiram nos últimos meses, para a consternação do livreiro entrevistado pela RFI.

"Este livro permanecerá nas prateleiras até o final de outubro, por causa do 20º Congresso [do PCC]. Eu não sei muito sobre isso, mas se você não é um acadêmico, este vende bem; trata-se de como Xi Jinping reduziu a pobreza. Bem, mas de qualquer forma, estes não são livros que todos possam ler. Se você não é especialista no assunto, não vale a pena mergulhar nele", diz o vendedor.

Os "Grandes Livros Brancos" de Xi Jinping para o 20º Congresso do Partido Comunista Chinês.
Os "Grandes Livros Brancos" de Xi Jinping para o 20º Congresso do Partido Comunista Chinês. © Stéphane Lagarde / RFI

Especialistas estudam o pensamento de Xi Jinping, enquanto outros o ensinam da escola primária à universidade. Em julho de 2021, foi criado um centro de pesquisa sobre "o pensamento econômico de Xi Jinping" dentro da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, elevando para 18 o número de centros de estudo sobre o pensamento do presidente chinês na China. 

Os escritos do presidente também são apresentados em programas de televisão. Após o programa "Estudar Xi" em um canal na província de Hunan, um programa "Estudar Xi imediatamente" foi transmitido nas telas da Mongólia Interior. "Temos acadêmicos chegando para comprar este tipo de livros", diz o caixa de uma livraria de Pequim. "Muitos estão procurando estes livros também para seus estudos. Também temos muitas unidades de trabalho", aponta.

Em cada "unidade de trabalho", especialmente em empresas estatais, os gerentes são convidados a mergulhar nos grandes livros brancos do presidente, enquanto outros estudam seus escritos diretamente em aplicativos dedicados. O chefe de Estado é apresentado repetidamente como o homem que tirou muitas regiões da pobreza, com "idéias presidenciais" quase milagrosas.

Videiras no deserto

Na região autônoma de Ningixia, Xi Jinping incentivou o plantio de "videiras no deserto".  Diz-se que a aldeia de Huangdu, na província oriental de Zhejiang, se tornou rica ao cultivar chá "graças às palavras de Xi Jinping". E em Zhangbei, na província de Hebei, no norte da China, o chefe de Estado sugeriu que os agricultores mudassem o tipo de batata que plantaram, relata a BBC.

Trata-se de um culto associado à censura, que força os oponentes a serem cuidadosos ao abordar questões relacionadas ao número um da China.

Alguns não ousam mais mencionar seu nome, diz um advogado de direitos humanos. "Eu não me atrevo a falar realmente sobre isso. Se eu enviar uma mensagem a alguém com seu nome, a segurança do Estado saberá imediatamente. E se você usar um apelido, uma imagem, eles também o conhecerão e poderão enviá-lo para detenção. É ainda mais severo que os imperadores. Basicamente, não há praticamente ninguém que tenha o poder de confrontá-lo", diz.

Censores

Em cinco anos, o presidente chinês fortaleceu seu poder dentro do aparelho. Os censores têm o cuidado de apagar qualquer coisa que possa prejudicar sua imagem pública, como quando banners e slogans hostis a ele foram pendurados em uma ponte de Pequim esta semana.

Até mesmo o uso de apelidos é monitorado: "Nunca conheci um presidente chinês com tantos apelidos na Internet", diz o advogado. "O ex-presidente Jiang Zemin também teve alguns, mas não tantos. Portanto, existem apelidos: 'cabeça de porco', 'Baozi' (donut cozido a vapor), etc. Mas se você tiver a infelicidade de postar ou trocar esses apelidos no WeChat ou em outras redes chinesas, isso pode ser considerado um crime", avisa.

Crimes de "lesa-majestade" e atenção àqueles que se opõem ao presidente! Na China de Xi Jinping, mais de 1,5 milhões de funcionários e líderes partidários foram sumariamente demitidos em uma campanha maciça "contra a corrupção".

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