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DJs sauditas trocam o véu islâmico por fones de ouvido e invadem as pistas na Arábia Saudita

De pé atrás de sua picape com fones de ouvido no pescoço, a DJ saudita Leen Naif encadeia suavemente sucessos pop e faixas clubbers para uma multidão de formandos de escolas de administração de empresas. Cenas como essa ainda não são tão comuns em grandes palcos, como o Grande Prêmio de Fórmula 1 em Jeddah, na Expo 2020 em Dubai - mas ajudaram a jovem de 26 anos, conhecida como DJ Leen, a fazer seu nome no circuito musical saudita.

A DJ saudita Leen Naif toca em um evento universitário na cidade costeira de Jeddah, no Mar Vermelho da Arábia Saudita, em 26 de maio de 2022. - As mulheres DJs, um fenômeno impensável há apenas alguns anos no reino tradicionalmente ultraconservador saudita, estão se tornando uma visão relativamente comum em suas principais cidades. (Foto de Fayez Nureldine / AFP)
A DJ saudita Leen Naif toca em um evento universitário na cidade costeira de Jeddah, no Mar Vermelho da Arábia Saudita, em 26 de maio de 2022. - As mulheres DJs, um fenômeno impensável há apenas alguns anos no reino tradicionalmente ultraconservador saudita, estão se tornando uma visão relativamente comum em suas principais cidades. (Foto de Fayez Nureldine / AFP) AFP - FAYEZ NURELDINE
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As mulheres DJs, um fenômeno impensável há apenas alguns anos no reino árabe tradicionalmente ultraconservador, estão se tornando um acontecimento relativamente comum em suas principais cidades.

Hoje em dia, sua presença surpreende poucas pessoas, e, show após show, ganham a vida com o que antes era apenas um passatempo. "Muitas DJs têm vindo à tona", disse Naif, acrescentando que isso, com o tempo, tornou o público "mais confortável" ao vê-las no palco. "Agora é mais fácil do que vinha sendo [nos últimos anos]", diz.

Naif e seus colegas incorporam duas grandes reformas defendidas pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o governante de facto da Arábia Saudita: novas oportunidades para as mulheres e a expansão das opções de entretenimento - especialmente no setor da música, que uma vez foi desencorajada sob o Wahabismo, uma versão sunita rígida do Islã, antigamente em vigor no reino saudita.

A possibilidade de que DJs fossem bem-vindos em eventos públicos, e que muitos seriam mulheres, é algo "que não esperávamos" até recentemente, disse Mohammed Nassar, um DJ saudita conhecido como Vinyl Mode.

"Você está vendo agora mais artistas femininas saindo", disse Nassar. Antes "era apenas um hobby para se expressar em seus quartos". "Agora temos plataformas, e você sabe que elas poderiam até ter carreiras". Portanto, é realmente incrível".

Vencendo o ceticismo

Naif foi apresentada pela primeira vez à música eletrônica quando adolescente por um de seus tios, e ela quase instantaneamente começou a se perguntar se ser DJ seria um trabalho viável.

Enquanto seus amigos sonhavam com carreiras como médicos e professores, ela sabia que não tinha a paciência para seguir os caminhos necessários. "Sou uma pessoa destinada ao trabalho [técnico], não uma pessoa de estudo", disse.

Ao contrário de outras mulheres DJs, ela teve o apoio imediato de seus pais e irmãos. Outros sauditas, no entanto, foram mais rígidos. Vários anos atrás, um homem do público chegou até ela, declarando que ela "não tinha permissão" e questionando "Por que você está fazendo isso?", sobre estar à frente das picapes.

Suas reclamações fizeram com que Naif se fechasse na época, mas ela duvida que a cena se desenrolasse da mesma maneira hoje. "Agora aposto que esse mesmo cara, se ele me vir, vai ficar em primeiro lugar na fila só para assistir", diverte-se.

Naif se beneficiou das tentativas oficiais de criação da nova imagem "amistosa" da Arábia Saudita, que é freqüentemente criticada por grupos de direitos humanos como uma distração dos abusos.

Sua indicação para tocar no pavilhão saudita da Expo Dubai 2020 lhe deu, pela primeira vez, uma audiência internacional. Mas é o trabalho de mixagem feito em casa que a sustenta no dia-a-dia, faturando seus 1.000 riyais sauditas (cerca de US$ 260 dólares) por hora.

Chegando para ficar

Outras mulheres DJs encontraram mais resistência. Lujain Albishi, que se apresenta sob o nome de "Biirdperson", começou a fazer experiências nas picapes durante a pandemia.

Sua família reprovou quando ela começou a falar em tocar profissionalmente, preferindo que ela se esforçasse para se tornar médica. De qualquer forma, ela se manteve fiel à música, desenvolvendo suas habilidades em festas particulares.

Sua grande chance veio no ano passado quando ela foi convidada para se apresentar no MDLBeast Soundstorm, um festival na capital saudita Riad que atraiu mais de 700.000 pessoas em suas apresentações, incluindo um set com o superstar e DJ francês, David Guetta

A experiência a deixou "realmente orgulhosa". "Minha família veio ao Soundstorm, me viu no palco. Eles estavam dançando, eles estavam felizes", disse ela. Tanto Naif quanto Albishi dizem que acreditam que as mulheres DJs continuarão a ser DJs no reino, embora as opiniões sejam parcialmente divergentes.

Para Naif, as mulheres DJs têm sucesso porque são melhores que os homens em "ler as pessoas" e tocar o que elas querem ouvir. Albishi, por sua vez, acha que não há diferença entre homens e mulheres uma vez que colocam seus fones de ouvido, e é por isso que as mulheres DJs conseguem se integrar.

"Minha música não é para mulheres ou para homens", disse ela. "É para os amantes de música", concluiu.

(Com AFP)

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