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Polícia do Japão admite falhas na segurança do ex-premiê Shinzo Abe, morto a tiros durante comício

O chefe da polícia de Nara, no oeste do Japão, afirmou neste sábado (9) que falhas "inegáveis" ocorreram no dispositivo de segurança do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe. Em pleno comício eleitoral, o ex-premiê foi morto a tiros na sexta-feira (8), em um incidente que chocou o país.

Tetsuya Yamagami (no chão) foi detido na sexta-feira (9) depois de ter atirado contra o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, em Nara, no oeste do Japão.
Tetsuya Yamagami (no chão) foi detido na sexta-feira (9) depois de ter atirado contra o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, em Nara, no oeste do Japão. AP - Katsuhiko Hirano
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"Acho que não há dúvidas que existiram problemas nas medidas de proteção e de segurança do ex-primeiro-ministro Abe", disse o chefe da polícia de Nara, Tomoaki Onizuka. Ele prometeu uma vasta investigação sobre o caso e "tomar todas as medidas necessárias". 

As mídias japonesas mostraram neste sábado a entrada do carro fúnebre na residência da família Abe, em Tóquio, na companhia de Akie, esposa do ex-premiê. O veículo deixou nesta manhã o hospital de Kashihara, perto de Nara, para onde Abe foi levado na sexta-feira após o ataque.

O ex-premiê, de 67 anos, foi alvo de tiros durante um comício eleitoral e morreu no hospital horas depois. Apesar dos esforços da equipe médica, Abe, que foi atingido por duas balas no pescoço, não resistiu aos ferimentos. 

O agressor, Tetsuya Yamagami, de 41 anos é um ex-membro da marinha japonesa, atualmente desempregado. Segundo as autoridades, ele admitiu ter visado Abe deliberadamente, utilizando uma arma "aparentemente de fabricação caseira". O homem disse acreditar que o ex-premiê fazia parte de uma organização da qual queria se vingar, mas sem especificar o nome dela. Alguns jornais japoneses evocaram um grupo religioso, mas a informação não foi confirmada pela polícia.

O velório de Shinzo Abe será realizado na segunda-feira (11) e o funeral, na terça (12), em presença apenas da família e de pessoas próximas do ex-premiê. 

"Soco na democracia"

Os cidadãos japoneses expressam sua incredulidade e tristeza com o assassinato do ex-premiê, que governou o país durante oito anos. "É terrível. Matar um homem em plena campanha eleitoral, quando ele estava apenas expondo suas ideias, é um ataque deliberado à liberdade de expressão e de pensamento. É um soco na democracia", diz uma moradora de Tóquio à RFI.

Um outro cidadão da capital japonesa comenta a raridade deste tipo de violência no país. "Vemos tiroteios acontecer todas as semanas nos Estados Unidos. Mas no Japão? É o país que tem uma das leis mais duras contra o porte de armas de fogo. É incompreensível, assustador e preocupante", diz. 

No momento do ataque, Abe fazia um discurso dentro da campanha para as eleições para o Senado, previstas para serem realizadas no domingo (10). Segundo o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, a votação não será adiada, "em nome da democracia".

Neste sábado, o premiê participou de um comício em Yamanashi, no oeste do país. Em entrevista à imprensa local, ele afirmou que "a violência não vai vencer a liberdade de expressão". Na sexta-feira, o premiê denunciou "um ato bárbaro e imperdoável".

Homenagens a Abe

O assassinato de Abe foi condenado por líderes de todo o mundo. A China e a Coreia do Sul, com quem o Japão tem relações às vezes conflituosas, expressaram condolências. O presidente chinês, Xi Jinping, se disse "profundamente triste" com a notícia da morte do ex-premiê.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse estar "atônito, emocionado e profundamente entristecido" com um assassinato que classificou como uma "tragédia para o Japão e todos os que o conheceram". A rainha Elizabeth II enviou uma mensagem de condolências ao imperador japonês Naruhito, afirmando estar "muito triste" com a notícia.

O presidente russo, Vladimir Putin, citou uma "perda irreparável", enquanto os líderes da União Europeia se declararam chocados com a morte "brutal" do ex-primeiro-ministro japonês, que chamaram de "grande democrata".

"No Japão não acontecia algo do tipo há mais de 50 ou 60 anos", declarou à AFP Corey Wallace, especialista em política japonesa da Universidade de Kanagawa. De acordo com o analista, o último ataque parecido no país foi o assassinato em 1960 de Inejiro Asanuma, o líder do Partido Socialista Japonês, esfaqueado por um estudante ligado à extrema-direita.

(Com informações da RFI e da AFP

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