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Eleições legislativas do Líbano

"Querem nos calar": brasileiros com dupla nacionalidade denunciam 'boicote' nas eleições do Líbano

Os brasileiros com nacionalidade libanesa que se cadastraram para votar nas eleições legislativas do Líbano, previstas para 15 de maio, poderão fazê-lo por antecipação neste domingo (8), nos consulados de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. No entanto, alguns eleitores expatriados denunciam uma manobra do sistema libanês para excluir, ou pelo menos dificultar e restringir, o voto de cidadãos libaneses que moram no estrangeiro. 

Cartaz de campanha eleitoral que diz "Para que os remédios estejam disponíveis, seu voto conta", antes das eleições parlamentares programadas para 15 de maio, em Beirute, Líbano, em 27 de abril de 2022.
Cartaz de campanha eleitoral que diz "Para que os remédios estejam disponíveis, seu voto conta", antes das eleições parlamentares programadas para 15 de maio, em Beirute, Líbano, em 27 de abril de 2022. REUTERS - MOHAMED AZAKIR
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"Se não houvesse uma pressão mundial, essas eleições [legislativas do Líbano] nem aconteceriam", denuncia o advogado libanês Roger Bassil, 69, presidente da Federação das Entidades Líbano-Brasileiras, que mora no Brasil há quase 50 anos. A indignação tem como pano de fundo as eleições legislativas históricas nesse antigo país do Cedro, as primeiras desde as fortes manifestações e protestos de 2019, da dupla explosão no porto de Beirute, da pandemia de Covid-19 e do caos político-social e financeiro que se seguiu à tragédia.

Além dos eleitores libaneses no Brasil, também votam neste domingo (8) todos os expatriados libaneses ao redor do planeta, menos aqueles situados nos países do Golfo, que votaram na sexta-feira (6), com exceção de Dubai, que acompanha também neste domingo o movimento eleitoral dos libaneses.

"Nós [os expatriados] participamos ativamente da vida política libanesa, porque os políticos fracassaram. A cada 10 anos, um conflito, uma guerra. O Líbano não consegue se autossustentar com seus dirigentes. Estes homens que hoje infelizmente governam o país relutaram muito em realizar estas eleições. Tentaram até anular", aponta. "Eles [do governo libanês] tentam prejudicar os estrangeiros. Estrangeiro é sinônimo de cifrão, nada mais", suspira Bassil.

"Eles estão temerosos com o voto dos imigrantes e já dificultaram, falaram que o libanês que não tiver carteira de identidade e o descendente que não tem passaporte novo não podem votar, sendo que eles pararam de emitir documentos e dizem que só voltarão 'depois das eleições'. Por que não antes?", indigna-se o advogado. "Nos últimos três anos e principalmente depois da pandemia, ninguém pode mais renovar passaporte. Não tem passaportes nos consulados. E quem perde com isso? O imigrante. Os atuais governantes do Líbano, tanto no lado cristão como nas outras confissões políticas, também lutam para que o imigrante não apareça nessas eleições", afirma. "Nós temos direito a eleger representantes", complementa. 

Quinze milhões de libaneses e descendentes no Brasil

O argumento do advogado tem raízes históricas numa migração importante que acontece ainda sob o império de D. Pedro II, no século XIX no Brasil. O país sul-americano possui hoje a mais volumosa diáspora libanesa do mundo, contabilizando cerca de 15 milhões de libaneses e descendentes, segundo a Federação das Entidades Líbano-Brasileiras. "Deveríamos ter representantes aqui mesmo do Brasil", diz Bassil. "Por que não podemos ser candidatos?", questiona.  "Na verdade, é porque o imigrante, amante da Paz e da terra, não entra na corrupção. Por isso estão tentando caçar a nossa voz", acusa.

O advogado conta que dos cerca de 4 mil eleitores cadastrados no Brasil para votar, apenas 1,5 mil devem comparecer para votar neste domingo. "Quem mora em Manaus, por exemplo, não possui zona eleitoral. Como você vai pedir para um sujeito pegar um voo de três, quatro horas, para chegar ao Rio, sem retorno no mesmo dia, pernoitar, e depois pegar mais horas de voo só para votar? É desumano, e o custo é alto", afirma. 

Faz coro a Bassil a estatística Joelle Bachalany, 40, que chegou adolescente com a família libanesa para o Brasil e que também está mobilizada para votar neste domingo. "Mesmo com toda a movimentação que fizemos, só conseguimos sensibilizar 400 eleitores", diz, em entrevista à RFI.

"Antigamente podia votar quem tinha um documento de registro civil. Como a imigração libanesa é muito antiga aqui no Brasil, a maioria das pessoas não tem carteira libanesa. Quem tem carteira são as pessoas que visitam muito o Líbano", explica. Metade dos [eleitores] inscritos no Rio não poderão votar por causa disso", diz. "O novo regulamento não deixa os que têm registro civil votarem, nem aqueles que têm o passaporte vermelho [antigo]. Eu sinto que é para proibir a gente de votar em massa. Eles estão com medo do voto no exterior", sublinha.

A líbano-brasileira Joelle Bachalany, inscrita para votar nas eleições legislativas do Líbano de 2022, em um dos cartões postais do país, "Raouche".
A líbano-brasileira Joelle Bachalany, inscrita para votar nas eleições legislativas do Líbano de 2022, em um dos cartões postais do país, "Raouche". © Joelle Bachalany

Libaneses na França acusam o mesmo problema

A libanesa Nayla Saad, 28, que faz um estágio em Paris, conta que o mesmo acontece com os eleitores libaneses na França, onde vive a maior comunidade libanesa da Europa. Muitos deles se cadastraram em uma cidade, mas foram registrados em outra, tornando o voto menos acessível.

"Quando nos inscrevemos para votar nestas eleições, perguntaram onde morávamos. Hoje o que acontece é que muitos libaneses que moram em Nice terão que votar em Bordeaux, alguns em Paris terão que ir ao sul, em Montpellier, temos vários casos desse tipo. Não acredito que seja coincidência ou uma falha do sistema. Acho que eles fazem de propósito", afirma a jornalista. "Temos relatos parecidos em Dubai e no Brasil... Essas eleições são o ponto fraco deles [sistema político libanês] e vamos utilizá-las contra eles", conclui.

Clique no vídeo abaixo para saber como votar:

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