Moscou admite querer controlar todo o sul e leste da Ucrânia; ONU vê “possíveis crimes de guerra"
A Rússia aspira controlar totalmente o sul da Ucrânia e a região do Donbass (leste), com o objetivo de estabelecer uma ponte terrestre para a Crimeia, que Moscou anexou em 2014, afirmou o general russo Rustam Minnekayev nesta sexta-feira (22). Enquanto isso, as Nações Unidas indicam que as ações do exército russo no país vizinho "poderiam constituir crimes de guerra”.
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Em uma reunião com empresas de um complexo militar e industrial em Ekaterinburgo, na Rússia, o general Minnekayev foi claro sobre os planos de Moscou na Ucrânia. "Desde o início da segunda fase da operação especial, um dos objetivos do exército russo é estabelecer o controle total sobre o Donbass e o sul da Ucrânia. Isto permitiria garantir um corredor terrestre até a Crimeia", disse o subcomandante das forças do distrito militar do centro da Rússia.
Ele explicou que essa operação vai permitir “assegurar um corredor terrestre até a Crimeia e uma influência nas infraestruturas-chaves da economia ucraniana, como os portos do Mar Negro, por onde são feitos os embarques de produtos agrícolas e metalúrgicos", afirmou, citado por agências russas.
A Moldávia é um pequeno país de língua romena que integrou a União Soviética e atualmente tem um governo pró-Ocidente.
Possíveis crimes de guerra
A ONU acusou nesta sexta-feira (22) o exército russo de ações que "poderiam constituir crimes de guerra" na Ucrânia, após a invasão iniciada em 24 de fevereiro, incluindo bombardeios indiscriminados que provocaram as mortes de civis e a destruição de escolas e hospitais.
"As Forças Armadas russas bombardearam de maneira indiscriminada zonas residenciais, mataram civis e destruíram hospitais, escolas e outras infraestruturas civis, em ações que poderiam constituir crimes de guerra", declarou Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que tem sede em Genebra.
"Cabe a um tribunal determinar concretamente se isto aconteceu, mas cada vez há mais evidências de que foram cometidos crimes de guerra", completou a porta-voz.
Em um comunicado divulgado de modo paralelo, Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, afirmou que "durante as últimas oito semanas, o direito humanitário internacional não apenas foi ignorado, mas foi jogado ao mar". "O que observamos em Kramatorsk (leste da Ucrânia) em 8 de abril, quando a estação de trem foi atacada com munições de fragmentação e 60 civis morreram e outros 111 ficaram feridos, é emblemático da incapacidade de respeitar o princípio da distinção (entre civis e militares), a proibição de perpetrar ataques indiscriminados e o princípio da precaução, que é parte do direito humanitário internacional", destacou Bachelet, em uma acusação indireta à Rússia.
"Durante uma missão em Bucha, em 9 de abril, os investigadores de direitos humanos da ONU documentaram os assassinatos, alguns deles execuções sumárias, de 50 civis na cidade de Bucha", perto de Kiev.
Trégua em complexo industrial
O exército russo afirmou nesta sexta-feira que está disposto a uma trégua "total ou parcial" da zona industrial de Azovstal, o último reduto das forças ucranianas em Mariupol, para permitir a retirada dos civis e a rendição dos combatentes. "O ponto de partida da trégua humanitária seria que as tropas ucranianas levantassem uma bandeira branca em uma parte ou na totalidade de Azovstal", afirmou o ministério russo da Defesa em um comunicado.
De acordo com o ministério russo, os civis que decidirem sair terão a possibilidade de escolher se vão para territórios controlados pela Rússia ou pela Ucrânia. Também afirmou que os soldados ucranianos serão bem tratados e os feridos serão atendidos.
"Esta iniciativa humanitária por parte da Federação da Rússia está vigente 24h/24h", acrescentou a nota, que cita ônibus, automóveis e ambulâncias que estão permanentemente disponíveis para o transporte.
O ministério afirmou que transmitiu a proposta à vice-primeira-ministra ucraniana, Irina Vereshchuk, à ONU, à Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) e ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), e que a mensagem será transmitida a cada 30 minutos "em todos os canais de rádio às formações ucranianas em Azovstal".
O presidente russo, Vladimir Putin, reivindicou na quinta-feira a conquista da estratégica cidade de Mariupol, após quase dois meses de combates. Mas o vasto complexo industrial de Azovstal, onde podem estar refugiados mais de mil civis, segundo o presidente ucraniano, permanece sob controle da Ucrânia.
Com informações da AFP
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