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Moscou admite querer controlar todo o sul e leste da Ucrânia; ONU vê “possíveis crimes de guerra"

A Rússia aspira controlar totalmente o sul da Ucrânia e a região do Donbass (leste), com o objetivo de estabelecer uma ponte terrestre para a Crimeia, que Moscou anexou em 2014, afirmou o general russo Rustam Minnekayev nesta sexta-feira (22). Enquanto isso, as Nações Unidas indicam que as ações do exército russo no país vizinho "poderiam constituir crimes de guerra”.

As pessoas que fogem dos combates da cidade de Mariupol se encontram com parentes e conhecidos ao chegar em um centro de registro de deslocados internos em Zaporizhzhia, em 21 de abril de 2022.
As pessoas que fogem dos combates da cidade de Mariupol se encontram com parentes e conhecidos ao chegar em um centro de registro de deslocados internos em Zaporizhzhia, em 21 de abril de 2022. AFP - ED JONES
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Em uma reunião com empresas de um complexo militar e industrial em Ekaterinburgo, na Rússia, o general Minnekayev foi claro sobre os planos de Moscou na Ucrânia. "Desde o início da segunda fase da operação especial, um dos objetivos do exército russo é estabelecer o controle total sobre o Donbass e o sul da Ucrânia. Isto permitiria garantir um corredor terrestre até a Crimeia", disse o subcomandante das forças do distrito militar do centro da Rússia.

Ele explicou que essa operação vai permitir “assegurar um corredor terrestre até a Crimeia e uma influência nas infraestruturas-chaves da economia ucraniana, como os portos do Mar Negro, por onde são feitos os embarques de produtos agrícolas e metalúrgicos", afirmou, citado por agências russas.

Pró-russos cercam prédio administrativo de complexo industrial de Azovstal, em 21 de abril de 2022.
Pró-russos cercam prédio administrativo de complexo industrial de Azovstal, em 21 de abril de 2022. REUTERS - CHINGIS KONDAROV
De acordo com Minnekayev, o controle do sul da Ucrânia também permitirá ajudar os separatistas pró-Rússia da Transnístria, que desde 1992 controlam um território da Moldávia na fronteira com o oeste da Ucrânia. "Também observamos casos de opressão da população de língua russa” no local, comentou o general.

A Moldávia é um pequeno país de língua romena que integrou a União Soviética e atualmente tem um governo pró-Ocidente.

Possíveis crimes de guerra

A ONU acusou nesta sexta-feira (22) o exército russo de ações que "poderiam constituir crimes de guerra" na Ucrânia, após a invasão iniciada em 24 de fevereiro, incluindo bombardeios indiscriminados que provocaram as mortes de civis e a destruição de escolas e hospitais.

"As Forças Armadas russas bombardearam de maneira indiscriminada zonas residenciais, mataram civis e destruíram hospitais, escolas e outras infraestruturas civis, em ações que poderiam constituir crimes de guerra", declarou Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que tem sede em Genebra.

"Cabe a um tribunal determinar concretamente se isto aconteceu, mas cada vez há mais evidências de que foram cometidos crimes de guerra", completou a porta-voz.

Em um comunicado divulgado de modo paralelo, Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, afirmou que "durante as últimas oito semanas, o direito humanitário internacional não apenas foi ignorado, mas foi jogado ao mar". "O que observamos em Kramatorsk (leste da Ucrânia) em 8 de abril, quando a estação de trem foi atacada com munições de fragmentação e 60 civis morreram e outros 111 ficaram feridos, é emblemático da incapacidade de respeitar o princípio da distinção (entre civis e militares), a proibição de perpetrar ataques indiscriminados e o princípio da precaução, que é parte do direito humanitário internacional", destacou Bachelet, em uma acusação indireta à Rússia.

Pessoas de Mariupol e cidades próximas saem de um ônibus, com uma placa na janela que diz em russo "crianças". 21 de abril de 2022.
Pessoas de Mariupol e cidades próximas saem de um ônibus, com uma placa na janela que diz em russo "crianças". 21 de abril de 2022. AP - Leo Correa
Shamdasani não descartou que o lado ucraniano também tenha violado o direito humanitário, mas a "maioria das violações, de longe, é atribuída às forças russas". A porta-voz disse que 92,3% das vítimas que as equipes do Alto Comissariado conseguiram documentar "são atribuídas às forças russas, assim como as acusações de assassinato e de execuções sumárias".

"Durante uma missão em Bucha, em 9 de abril, os investigadores de direitos humanos da ONU documentaram os assassinatos, alguns deles execuções sumárias, de 50 civis na cidade de Bucha", perto de Kiev.

Trégua em complexo industrial

O exército russo afirmou nesta sexta-feira que está disposto a uma trégua "total ou parcial" da zona industrial de Azovstal, o último reduto das forças ucranianas em Mariupol, para permitir a retirada dos civis e a rendição dos combatentes. "O ponto de partida da trégua humanitária seria que as tropas ucranianas levantassem uma bandeira branca em uma parte ou na totalidade de Azovstal", afirmou o ministério russo da Defesa em um comunicado.

De acordo com o ministério russo, os civis que decidirem sair terão a possibilidade de escolher se vão para territórios controlados pela Rússia ou pela Ucrânia. Também afirmou que os soldados ucranianos serão bem tratados e os feridos serão atendidos.

"Esta iniciativa humanitária por parte da Federação da Rússia está vigente 24h/24h", acrescentou a nota, que cita ônibus, automóveis e ambulâncias que estão permanentemente disponíveis para o transporte.

O ministério afirmou que transmitiu a proposta à vice-primeira-ministra ucraniana, Irina Vereshchuk, à ONU, à Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) e ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), e que a mensagem será transmitida a cada 30 minutos "em todos os canais de rádio às formações ucranianas em Azovstal".

O presidente russo, Vladimir Putin, reivindicou na quinta-feira a conquista da estratégica cidade de Mariupol, após quase dois meses de combates. Mas o vasto complexo industrial de Azovstal, onde podem estar refugiados mais de mil civis, segundo o presidente ucraniano, permanece sob controle da Ucrânia.

Com informações da AFP

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