Ucrânia: Ocidente tem meios de retaliação limitados face à Rússia
Depois de a Rússia ter mexido o primeiro pião, como vai prosseguir o xadrez da Ucrânia? Os jornais franceses desta quarta-feira (23) lançam várias hipóteses sobre as próximas etapas da crise ucraniana.
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Após o reconhecimento pela Rússia da independência de duas regiões separatistas do Donbass, no leste da Ucrânia, o Ocidente anunciou sanções econômicas e financeiras contra Moscou.
Em retaliação ao "início de uma invasão da Ucrânia", o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden aprovou na terça-feira (22) a "primeira rodada" de sanções visando impedir que a Rússia levante fundos ocidentais para pagar sua dívida soberana. A medida pode influenciar o valor do rublo e aumentar o custo dos produtos importados.
“Mas o envio de tropas para defender a Ucrânia está fora de discussão e a impressão é de que é inútil querer deter o senhor do Kremlin”, diz uma análise do jornal Le Parisien.
Uma vez que os americanos e europeus bradaram alto e forte, no começo da crise, que não iriam enviar tropas à Ucrânia – que não integra a Otan, nem a União Europeia -, os meios de resposta se mostram limitados”, explica o diário. Desde a anexação da Crimeia e o início da guerra no Donbass, em 2014, a Rússia aprendeu a contornar ou viver com as represálias econômicas.
Putin vai se limitar ao Donbass?, questiona Le Figaro. Ou vai querer ir além, encorajado pelas hesitações internacionais, e conquistar o resto da região, incluindo também Mariupol e até mesmo Kiev, capital da Ucrânia, país que Moscou considera “ilegítimo”?
“A Europa, desde o final da Segunda Guerra Mundial, tem tanto medo de conflitos que até hesita em usar a palavra ‘guerra’, mesmo quando ela bate às suas portas”, analisa Le Figaro.
China em cima do muro?
O jornal econômico Les Echos fala da posição da China no xadrez atual. Pequim reconhece o desejo russo de ver a Ucrânia fora da Otan. Mas a potência asiática já avisou que não apoia a invasão. Os líderes do país acreditam que o conflito pode desestabilizar os interesses chineses na região e degradar ainda mais as relações de Pequim com a Europa e Estados Unidos.
O presidente francês, Emmanuel Macron, chamado de oportunista por alguns, tentou ser a ponte diplomática entre as partes em litigio, falando diretamente com Vladimir Putin ou propondo encontros. Para Libération, essa iniciativa pode se virar contra ele.
Libération observa que nunca o Palácio do Eliseu lançou tantos comunicados sobre uma crise, sobre cada chamada telefônica de Macron a um colega. Na segunda de manhã, a sede da presidência francesa anunciava que Putin e Biden tinham concordado em se encontrar. Noticia desmentida pelo Kremlin pouco depois, avaliando a possibilidade como “prematura”.
Marine Le Pen não perdeu a oportunidade de comentar as fotos divulgadas pelo Eliseu, mostrando Macron com a barba por fazer e a cabeça entre as mãos, durante os telefonemas. Para ela, uma encenação inútil.
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