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França sedia cúpula internacional pela preservação dos oceanos e pressiona por acordo global

Enquanto as negociações na ONU sobre um tratado de preservação da biodiversidade em alto mar se arrastam há anos, uma iniciativa paralela visa impulsionar avanços pela proteção e a regeneração dos oceanos. O One Ocean Summit se inicia nesta quarta-feira (9) na cidade de Brest, na costa noroeste da França, com a participação de cerca de 20 chefes de Estado e de governo, além de 400 especialistas, cientistas, membros de organizações e representantes de grandes empresas.

Redução da poluição dos oceanos por plásticos é um dos desafios de cúpula organizada por Emmanuel Macron.
Redução da poluição dos oceanos por plásticos é um dos desafios de cúpula organizada por Emmanuel Macron. Luis ACOSTA AFP/File
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Lúcia Müzell, enviada especial a Brest

O evento de três dias é uma iniciativa do presidente francês, Emmanuel Macron, que exerce atualmente a presidência rotativa da União Europeia. “Somente uma ação coordenada face aos diferentes desafios marítimos pode nos garantir sucesso neste objetivo, envolvendo clima, biodiversidade, combate às poluições como à pesca ilegal e excessiva, economia azul, conhecimento e governança dos oceanos”, declarou Macron sobre a cúpula.

Na sexta-feira (11), os 35 países fundadores da iniciativa devem publicar uma “declaração de Brest”, na qual exigirão uma conclusão “ambiciosa” das negociações oficiais no âmbito das Nações Unidas sobre o tema. Eles também prometem se engajar em compromissos voluntários nesse sentido e pela regeneração dos oceanos, que cobrem 70% da superfície terrestre e estão cada vez mais degradados pela interferência humana. A diminuição da poluição por plásticos é um dos focos da cúpula.

As mudanças climáticas estão deixando as águas mais quentes, ácidas e com menos oxigênio, com consequências dramáticas que se acentuam ano a ano, como aumento do nível do mar, tempestades mais violentas, perda de biodiversidade e dos recifes de corais, entre outros.

Transição energética dos transportes marítimos

Neste objetivo, a participação do setor privado é fundamental. As quatro maiores companhias europeias de transporte marítimo e turismo (CMA-CGM, Maersk, Hapag-lloyd et MSC) concordaram em tomar parte das discussões, para uma definição de contornos mais sustentáveis de uma “economia azul”. A transição energética dos navios, por exemplo, ainda é um tema que exige avanços consideráveis, embora seja responsável por mais de 90% do frete internacional de mercadorias e matérias-primas.

Ecossistemas marinhos estão no foco de discussões internacionais sobre um tratado internacional pela preservação da biodiversidade nos oceanos.
Ecossistemas marinhos estão no foco de discussões internacionais sobre um tratado internacional pela preservação da biodiversidade nos oceanos. © Getty Images - LuffyKun

O assunto – há muito tempo negligenciado em prol dos debates focados no clima – ganha progressivamente força no âmbito internacional. Neste ano, pelo menos seis grandes eventos serão dedicados à proteção dos oceanos, que desempenham papel crucial na regulação do clima do planeta, mas também na preservação da natureza e o abastecimento para benefício humano. A expectativa é de que, finalmente, nas negociações previstas para março na ONU, em Nova York, os países sejan capazes de concluir um amplo pacto sobre a governança das águas internacionais.

Hoje, dois terços dessa imensidão azul é desprovida de qualquer regulação, o que resulta em abusos que esgotam os recursos naturais. Ao mesmo tempo, segundo as Nações Unidas, mais de 3 bilhões de pessoas dependem dos mares e zonas costeiras para sobreviver.

Novas fronteiras da exploração submarina

O apetite do homem pelos oceanos está longe de ser saciado – pelo contrário. A exploração do fundo do mar avança a passos largos, pelo seu papel nas telecomunicações – a internet mundial depende da rede de cabos submarinos dos gigantes digitais – e na prospecção de gás, além da da nova fronteira de riquezas minerais a serem extraídas das profundezas submarinas, que já poderia se iniciar em 2023 e preocupa as organizações ambientalistas.

“Emmanuel Macron se posiciona como protetor dos oceanos, mas a realidade é outra: ele apoia a extração mineral em águas profundas”, denuncia o Greenpeace. A entidade teme que a cúpula não passe de uma ocasião para impulsionar o tema ambiental na campanha do atual presidente francês, que deve disputar um novo mandato nas próximas eleições presidenciais no país, em abril.

A One Ocean Summit é a última edição da iniciativa One Planet Summit, cúpulas ambientais organizadas anualmente por Macron desde que assumiu o poder, em 2017. Este quinto evento, entretanto, não foi capaz de sensibilizar as grandes potências marítimas, como a Austrália. O Brasil também está ausente. Entre as lideranças que confirmaram presença, estão sobretudo europeus, como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Todas as conferências da cúpula podem ser acompanhadas à distância, mediante inscrição – à exceção do segmento de alto nível, na manhã de sexta e chefiado por Macron.

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