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Hamas opta por tática perigosa de "exasperar" Israel na fronteira de Gaza

A noite cai em Gaza e os manifestantes se aproximam da fronteira com Israel. Com granadas de atordoamento e pneus em chamas, eles querem "exasperar" o exército israelense do outro lado, mas essa tática dos islâmicos do Hamas é um jogo arriscado, de acordo com analistas.

Um grupo de palestinos se reúne durante uma noite de protesto junto à cerca da fronteira com Israel, contra o bloqueio e pela recuperação de terras, em 2 de setembro de 2021 em Khan Younis, ao sul da Faixa de Gaza.
Um grupo de palestinos se reúne durante uma noite de protesto junto à cerca da fronteira com Israel, contra o bloqueio e pela recuperação de terras, em 2 de setembro de 2021 em Khan Younis, ao sul da Faixa de Gaza. Said Khatib AFP/Archivos
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Farid, 19, está estudando engenharia e fez uma granada de choque. A 200 metros da barreira de separação com Israel, ele a atira nos soldados. Uma explosão de luz rompe a escuridão e logo em seguida ouve-se uma explosão que cobre, por alguns segundos, a música que toca no volume máximo do lado palestino.

"Vamos enlouquecê-los. Enquanto não dormirmos com segurança, também não permitiremos que os soldados da ocupação [nome usado para designar Israel] durmam", diz Farid, que, como outros manifestantes, pede o fim do bloqueio israelense contra Gaza, em vigor há quase 15 anos.

Às pedras, coquetéis molotov e outros explosivos, o exército israelense responde com tiros. De vez em quando, um drone lança gás lacrimogêneo em meio à escuridão, forçando os manifestantes palestinos a se dispersarem temporariamente.

Não muito longe dali, os vendedores ambulantes de bebidas frescas matam a sede dos manifestantes, que chegaram de ônibus do centro de Gaza ao anoitecer.

"Semear confusão"

Esses protestos, que se repetem em outras partes do enclave palestino, poderiam parecer anódinos não fosse pelo fato de deixarem mortos e feridos para trás.

Três palestinos, incluindo um membro do braço armado do movimento islâmico Hamas, que governa Gaza, e um atirador israelense, foram mortos desde meados de agosto nesses confrontos.

Essas mortes também lembram a fragilidade da trégua em vigor entre Israel e o Hamas desde maio. De 10 a 21 daquele mês, o exército israelense matou 260 palestinos de Gaza e foguetes disparados por movimentos armados da Faixa mataram 13 pessoas do lado israelense, incluindo um soldado, segundo a polícia e o exército.

Desde então, o Hamas disparou um único foguete contra Israel, mas lançou balões em chamas em território israelense, provocando incêndios. A aviação responde com bombardeios contra a infraestrutura do braço armado do Hamas, como foi o caso esta semana.

"O Hamas prefere semear confusão na fronteira porque entende que, se disparar foguetes, a retaliação israelense será muito forte", disse Kobi Michael, pesquisador e ex-chefe do Ministério israelense de Assuntos Estratégicos, encarregado dos assuntos palestinos.

O movimento palestino está buscando uma estratégia de escalada "limitada e cuidadosamente calculada", disse Mujaimer Abu Saada, professor de ciência política da Universidade Al-Azhar, em Gaza.

Seu objetivo é protestar contra as restrições israelenses que pesam sobre o enclave de dois milhões de habitantes, minados pela pobreza e pelo isolamento.

Mas, desde o início de setembro, Israel afrouxou as restrições à entrada de mercadorias no território, aumentou a área em que os pescadores de Gaza podem pescar e aprovou um novo sistema de distribuição de ajuda catariana via ONU, que começará em breve.

Mas essas flexibilidades não são suficientes para o Hamas, que quer voltar ao controle antes da última ofensiva, e que espera "exasperar" Israel sem chegar a um "confronto armado aberto", acrescenta Abu Saada, que considera a estratégia arriscada. Porque o movimento islâmico não tem capacidade de "controlar o nível de violência" na fronteira, estima Michael.

Paciência limitada

As atuais manifestações lembram muito as da "marcha de retorno", que desde março de 2018 e durante um ano exigia todas as sextas-feiras na fronteira o fim do bloqueio e o direito dos palestinos de voltar às terras de onde saíram em 1948, quando foi criado o Estado de Israel.

Nesses protestos, apimentados com violência, 310 palestinos e oito israelenses foram mortos.

O Hamas, que considerou ter vencido a guerra em maio passado, "acredita que tem as rédeas da situação", disse Michael, "mas pode ser uma percepção errada porque Israel está perdendo a paciência" e "não terá problemas para responder muito agressivamente se o Hamas o arrastar para uma nova operação armada."

Com informações da AFP

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