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Biden frustra G7 e mantém data de retirada do Afeganistão em 31 de agosto como quer Talibã

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, decidiu respeitar o prazo de 31 de agosto para retirar as forças americanas do Afeganistão como pede o Talibã, informou a imprensa americana nesta terça-feira (24). Um pouco mais cedo, o G7 pediu que uma passagem após esse prazo seja assegurada pelos talibãs para todos que quiseram sair do país.

Um soldado americano no aeroporto internacional de Cabul, em 20 de agosto de 2021.
Um soldado americano no aeroporto internacional de Cabul, em 20 de agosto de 2021. AFP - TAYLOR CRUL
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Biden tomou a decisão depois de conversar com os outros integrantes do G7 após um pedido dos talibãs de que os Estados Unidos não estendessem sua permanência no país além do fim do mês, informaram CNN, Fox News e outros veículos, citando altos funcionários americanos. A expectativa é que o presidente americano anunciasse a decisão nesta terça-feira à tarde, em meio à preocupação de que milhares de americanos e afegãos que trabalharam para as tropas dos EUA e da coalizão de aliados não consigam ser retirados do país.

Com a decisão, os quase 6.000 soldados dos Estados Unidos que controlam o aeroporto internacional Hamid Karzaim, em Cabul, desde 14 de agosto, têm apenas sete dias para concluir a operação e abandonar o local. Alemanha, Reino Unido, França e outros países tinham a esperança de que os EUA mantivessem a ponte aérea depois do fim do mês, para permitir a saída segura de todos os querem abandonar o país.

Cúpula virtual do G7

O prazo para a retirada das pessoas que fogem do regime talibã do Afeganistão era o ponto central da cúpula virtual do G7, organizada pelo Reino Unido que presidente atualmente o grupo das sete potências globais. O primeiro-ministro britânico Boris Johnson declarou após a reunião que os talibãs devem garantir a passagem segura dos que querem sair, inclusive após a data limite de 31 de agosto.

Johnson, que convocou a reunião de emergência, disse que ele e seus colegas decidiram um "roteiro para a forma em que vamos colaborar com os talibãs" no futuro. A retirada das pessoas do país é a prioridade, mas o comunicado final pede que o futuro governo do Afeganistão respeite os engajamentos internacionais contra o terrorismo.

Os líderes de Alemanha, França, Canadá, EUA, Itália, Japão e Reino Unido pediram calma e moderação aos novos homens fortes do Afeganistão. Eles também prometeram um esforço humanitário redobrado com o país.

Talibãs insistem que retirada deve terminar em 31 de agosto

O porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, afirmou que o grupo islâmico, não aceitaria uma ampliação do prazo. Os talibãs afirmaram que o prazo de 31 de agosto é uma "linha vermelha". "Se Estados Unidos ou Reino Unido buscam mais tempo para continuar as retiradas, a resposta é não (...) Haveria consequências", alertou outro porta-voz do grupo, Suhail Shaheen.

Até agora, cerca de 60.000 pessoas, estrangeiros e afegãos, foram saíram do país pelo aeroporto de Cabul desde 14 de agosto, a maioria delas em voos militares dos EUA, segundo dados de Washington. Uma multidão ainda segue aglomerada do lado de fora das instalações, esperando a oportunidade de ir embora.

Antes da reunião do G7, o ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, considerou "pouco provável" que Washington aceitasse a prorrogação. "Mas com certeza vale a pena tentar e vamos fazer isto", declarou ao canal Sky News. "A situação é francamente dramática e cada dia que passa é pior, porque as pessoas têm consciência de que os prazos estão acabando", afirmou a ministra espanhola da Defesa, Margarita Robles.

Profissionais qualificados

O grupo islâmico também exige que os países ocidentais não levem as pessoas mais qualificadas do país. Potências estrangeiras estão levando "especialistas afegãos", como engenheiros, disse o porta-voz Zabihullah Mujahid. "Pedimos que interrompam essas operações", exigiu. "Eles têm aviões, eles têm o aeroporto, deveriam tirar seus cidadãos e empreiteiros daqui", disse. Mas não deveriam incitar os afegãos a fugirem do Afeganistão", acrescentou.

A ofensiva relâmpago que levou o movimento a assumir o controle de Cabul em 15 de agosto, assim como da maior parte do país, pôs fim a 20 anos de guerra no país.

Os cidadãos que trabalharam para governos ou empresas estrangeiras nos últimos anos, artistas ou pessoas que defenderam a abertura do país e os direitos das mulheres ou minorias sabem que são alvos dos extremistas. Nesta terça-feira, em sua coletiva de imprensa, o porta-voz talibã garantiu que as mulheres afegãs poderão retornar ao trabalho quando "a segurança estiver garantida". "Queremos que trabalhem, mas também que a segurança seja boa" para isso, disse Zabihullah Mujahid, que frisou que, por enquanto, as mulheres devem ficar em casa.

"Linha Vermelha"

A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, advertiu que a forma como o Talibã pretende tratar as mulheres, especialmente no que diz respeito ao seu direito à educação, representará uma "linha vermelha".

Bachelet, que no início de agosto havia mencionado "relatórios que mostravam violações que poderiam constituir crimes de guerra" no Afeganistão, destacou que recebeu "informações confiáveis sobre graves violações do direito humanitário internacional e ataques contra os direitos humanos em várias zonas sob controle talibã".

A Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, alertou que só tem no país suprimentos de saúde suficientes para "uma semana".

Os talibãs, que trabalham na formação de um novo governo, afirmam que mudaram em comparação com a administração que implementaram há 20 anos, quando estabeleceram um regime brutal e fundamentalista entre 1996 e 2001. Um relatório da ONU divulgado na semana passada afirma, no entanto, que os islamitas vão de "porta em porta" procurando pessoas que trabalharam com o antigo governo, ou com as tropas internacionais.

Os fundamentalistas conseguiram impor uma calma relativa na capital, onde patrulham as ruas, mas o medo continua presente. Muitos cidadãos, sobretudo mulheres, não se arriscam a sair de casa.

Um núcleo de resistência aos talibãs, chamado Frente Nacional de Resistência (FNR), persiste no vale de Panshir, ao nordeste de Cabul. O movimento é liderado por Ahmad Massoud, filho do célebre comandante Massoud, assassinado em 2001, e por Amrullah Saleh, vice-presidente do governo afegão destituído.

Na segunda-feira, os talibãs afirmaram que cercaram a região de Panshir, mas que preferiam negociar antes de combater. O porta-voz da FNR, Ali Maisam Nazary, disse à AFP que se prepara "para um conflito de longa duração" com os talibãs, caso não seja alcançado um acordo para um "sistema de governo descentralizado".

(Com AFP)

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