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Afeganistão: intelectuais, mulheres e ativistas participam da frente de resistência ao Talibã

As forças do ex-governo afegão formando um movimento de resistência em um vale fortificado estão se preparando para um "conflito de longo prazo", mas também procuram negociar com o Talibã, disse seu porta-voz à AFP em uma entrevista.

Ahmad Massoud, filho do ex-comandante afegão Ahmad Shah Massoud (centro), na Champs-Elysées em Paris, França, 27 de março de 2021.
Ahmad Massoud, filho do ex-comandante afegão Ahmad Shah Massoud (centro), na Champs-Elysées em Paris, França, 27 de março de 2021. © AP - Christophe Archambault
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Desde que o Talibã assumiu o controle do país ao conquistar a capital Cabul, milhares de pessoas se dirigiram a Panshir para se juntar à luta e encontrar um porto seguro para continuar suas vidas, disse Ali Maisam Nazary.

Lá, Ahmad Massoud, filho do lendário comandante dos mujahideen Ahmad Shah Massoud, assassinado pela Al-Qaeda dois dias antes dos ataques de 11 de setembro de 2001, reuniu uma força de combate de cerca de 9.000 pessoas, acrescentou Nazary.

Fotos tiradas pela AFP durante os exercícios de treinamento mostram dezenas de recrutas realizando rotinas de condicionamento físico e um punhado de veículos blindados dirigindo pelo vale a nordeste de Cabul.

Frente de Resistência Nacional

O principal objetivo da Frente de Resistência Nacional é evitar mais derramamento de sangue no Afeganistão e pressionar por um novo sistema de governo.

Mas Nazary disse que o grupo também está preparado para o conflito e, se o Talibã não negociar, encontrará resistência em todo o país.

"As condições para um acordo de paz com o Talibã é a descentralização - um sistema que garante justiça social, igualdade, direitos e liberdade para todos", disse Nazary, chefe de relações exteriores da Frente, acrescentando que, se o Talibã não concordar com isso, vai haver um "conflito de longo prazo".

As conversas entre os líderes locais do norte do Afeganistão e as autoridades do Paquistão estavam ocorrendo até poucos dias atrás, acrescentou ele.

Enquanto o Talibã controla a grande maioria do Afeganistão, Nazary destacou com otimismo relatos de que milícias locais em alguns distritos já começaram a resistir ao seu governo linha-dura e formaram ligações com a Frente de Resistência Nacional  de Massoud.

"O Talibã está sobrecarregado”

"Massoud não deu a ordem para que essas coisas acontecessem, mas todos eles estão associados a nós", disse Nazary.

"O Talibã está sobrecarregado. Eles não podem estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Seus recursos são limitados. Eles não têm o apoio da maioria."

Ele disse, no entanto, que Massoud tinha visões diferentes de Amrullah Saleh, recentemente o vice-presidente do país que também está escondido no vale e na semana passada prometeu liderar um levante.

"Saleh está em Panshir. Ele optou por ficar no país e não fugir", disse Nazary, observando que a forte postura anti-Paquistão de Saleh estava em conflito com Massoud, que queria boas relações com o país vizinho, apoiador do Talibã no Afeganistão.

" Saleh é anti-Talibã e anti-Paquistão. Isso não significa que ele faça parte desse movimento. Ele está em Panshir e é respeitado."

O objetivo agora é defender Panshir e seu povo, disse Nazary.

"Se houver alguma agressão porque a nossa luta é apenas pela defesa; se alguém nos atacar, iremos nos defender"

Junto com a força de combate de Massoud, Panshir agora hospeda mais de mil pessoas deslocadas de todo o Afeganistão que invadiram o vale em busca de refúgio, disse Nazary.

"Estamos vendo Panshir se tornar uma zona segura para todos aqueles grupos que se sentem ameaçados em outras províncias."

Afluxo de intelectuais, mulheres e ativistas

Ele acrescentou que a província tem visto um afluxo de intelectuais, mulheres e ativistas de direitos humanos e políticos "que se sentem ameaçados pelo Talibã".

Massoud apelou por armas dos Estados Unidos em um artigo de opinião publicado no Washington Post na quinta-feira (19). Nazary disse à AFP que eles também precisam de assistência humanitária para alimentar e cuidar dos recém-chegados.

Massoud está determinado a apoiar o povo do vale e assumir o manto de seu pai, acrescentou Nazary, enfatizando que o Afeganistão precisa de um sistema federado de governo para encerrar seu ciclo interminável de guerra.

"A guerra é apenas um subproduto do conflito no Afeganistão. O que causou o conflito é que o Afeganistão é um país formado por minorias étnicas. E, em um país multiétnico, você não pode ter um grupo étnico dominado a política e outros tendo uma presença nas margens. "

Nazary diz que a resistência de Massoud, e outras em todo o Afeganistão, são vitais para que essa mudança aconteça. "Panshir sempre foi um farol de esperança."

(Com informações da AFP)

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