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Síria: Campanha presidencial de Bashar al-Assad promete reconstrução impossível

A Síria contabiliza uma década de conflitos com mais de 500.000 mortos, mais da metade da população deslocada e agora quase 90% de pobres. É neste contexto que Bashar al-Assad convoca nesta quarta-feira (26) os sírios a votarem em uma eleição presidencial que mais parece uma enganação. O presidente sírio deve, na verdade, oferecer a si mesmo um quarto mandato de sete anos. Nos 70% do território que suas forças controlam, ele emulou uma campanha pela "reconstrução do país".

Cartazes da campanha do presidente sírio Bashar al-Assad estão pendurados em edifícios destruídos na cidade de Homs em 23 de maio de 2021.
Cartazes da campanha do presidente sírio Bashar al-Assad estão pendurados em edifícios destruídos na cidade de Homs em 23 de maio de 2021. © REUTERS - OMAR SANADIKI
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Por Aabla Jounaïdi

Cartazes eleitorais comemorando o presidente Assad e seus esforços de reconstrução são exibidos ao longo das estradas, mais numerosos do que placas de trânsito. As imagens têm recebido muitos comentários nas redes sociais nos últimos dias. Os internautas sírios se perguntam de onde vem todo esse dinheiro em um país onde, agora, quase toda a população é pobre.

Em 2017, de acordo com o Banco Mundial, 30% dos edifícios na Síria foram gravemente danificados ou destruídos por anos de conflito – destruição desigualmente distribuída, é claro. As chamadas "áreas rebeldes" foram as que mais sofreram bombardeios do regime e seus aliados. Em Homs, 54% dos edifícios são inabitáveis. Os estragos da guerra são estimados pela ONU em US$ 380 bilhões. No entanto, o regime sírio promete que reconstruirá o país.

Desde 2012, uma agência governamental, o “Comitê de Reconstrução”, é responsável por ajudar os sírios a reerguerem suas casas. Um total de 386 bilhões de libras sírias (ou US$ 1,4 bilhão) foi arrecadado, graças a uma taxa de 10% sobre certos impostos diretos e indiretos. O problema, além de saber exatamente como esse dinheiro é distribuído, é que falta tanta transparência, que parece que a verba se destinou a suprir principalmente as administrações e as necessidades do exército em infraestrutura: habitação e hospitais militares para o primeiro escalão.

Ainda mais revelador, de acordo com pesquisa do Carnegie Middle East Center, é que em 2017 a comissão concedeu o equivalente a € 340 mil para "obras de manutenção" no distrito de Mazzeh 86, em Damasco, um baluarte do regime. Enquanto isso, nas proximidades de Daraya, uma base da oposição fortemente destruída pelos combates, quase não se viu o dinheiro para as obras.

Em outras palavras, o regime sírio tem uma concepção muito estreita e enviesada da "reconstrução do país" – em que territórios inteiros, por terem apoiado a oposição em 2011, são esquecidos. Projetos que cimentam a manutenção no poder do clã Assad são privilegiados, favorecendo no processo uma nova classe de empresários enriquecida pela economia de guerra.

Benefício a uma minoria

Os aliados do regime, Rússia e Irã, dão apoio ao projeto. Eles também arrematam, é claro, contratos para a construção de fábricas, bases navais ou centrais elétricas em suas "áreas de influência". A Turquia se estabeleceu definitivamente no extremo norte do país, onde suas empresas estão construindo hospitais e escolas. A reconstrução síria, se existe, está sendo realizada em seções, e para beneficiar uma minoria.

Não há dúvida de que a comunidade internacional deve ajudar a financiar a reparação do país neste contexto. Os aliados de Damasco, liderados pela Rússia, ainda esperam que os europeus paguem a conta. Washington e Bruxelas reiteraram sua posição em março passado, nos dez anos do início da revolta contra Assad. Eles só se engajarão se um caminho estiver traçado para uma transição política, que envolve a saída do ditador do poder.

Com os Estados Unidos, a UE prometeu este ano mais de € 5 bilhões para ajuda humanitária à população, especialmente diante da crise de saúde. Isso é metade do que as agências da ONU estavam pedindo. Uma reconstrução total custaria de US$ 250 bilhões a US$ 400 bilhões, dinheiro que serviria para reconstruir casas, edifícios, fábricas, vias de transporte destruídas ou mesmo serviços de saúde, educação, água encanada, eletricidade. Entretanto, nada disso faria sentido sem que certas condições políticas fossem satisfeitas.

Nos últimos dez anos, a Síria perdeu principalmente jovens, talentos que morreram ou deixaram o país. Sem esses exilados, nenhuma reconstrução parece possível.

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